por Marcio de Almeida Bueno
Água virtual‘, ‘A vaca louca e o boi verde‘, ‘Os bichos sempre pagam o pato‘ e ‘A Indigência da Arte ‘ dão uma visão técninca a questões éticas envolvendo a pecuária.
José Otávio Carlomagno é natural de São Paulo, SP, rodou o país e atualmente mora em Caxias do Sul,na Serra Gaúcha. É engenheiro agrônomo formado em 1980 pela Unesp, tendo trabalhado com fazenda, plantação de soja, exportação de cítricos, incubadora de pintinhos e até como inventor. Há alguns anos tornou-se vegano e mudou sua maneira de viver, dedicando-se à produção textual. É autor do livro de contos ‘Bodas de Ouro’ publicado pela Editora Argos, dos romances ‘Espelho’, ‘Sangue Nosso de Cada Dia’, ‘Brisal’, ‘O Fotógrafo do Silêncio’ e ‘O Arrumador de Ossos’, dos livros de poemas ‘Desacreditações Recreativas’, ‘Exercício de Impregnação’, e do volume de novelas ‘Remo-Reino’. Atualmente está lançando ‘Antropologia de Mim’, da Editora Multifoco, com poesia detemática variada, como plantas, animais, mulher, solidão, morte, indignação, rebeldia despudorada, provocações, física quântica e música. A obra pode ser adquirida pelo seu site, www.maniadeescrever.com.br. Dentro da causa animal, artigos como ‘ANDA – Qual sua lembrança mais antiga envolvendo animais?
Os ratos, gatos, filhotes de pardais e lagartixas do quintal de casa em São Paulo, do meu tio matando leitões para o almoço de Natal na casa dos meus avós paternos, em Taguaritinga. Lembro também de uma cobra urutu que quase pisei em cima, na casa dos meus avós paternos. De uma galinha branca que meu pai ganhou, de quem minha irmã e eu ficamos amigos e não deixamos meu pai matar, dos pintinhos que ganhávamos e criávamos até que ficassem adultos, lembro que quando tocava a campainha eles eram os primeiros a chegar ao portão para atender.
ANDA – O que o levou a cursar Agronomia? O que pensava dos animais não-humanos, na época?
Eu sempre achei a vida em São Paulo, ou outra cidade grande, muito artificial, as pessoas ficam presas a conceitos filosóficos, humanos, estéticos principalmente, divorciados da natureza. Essa ruptura desumaniza. As pessoas acham que a vida que a cidade apresenta a elas é natural, o emprego de merda é natural, trabalhar para enriquecer o dono de uma grande corporação é natural, gastar quatro horas por dia dentro de ônibus/metrô é natural. Desde criança eu sempre gostei de lidar com plantas, principalmente, ia à casa de meus avós paternos e plantava milho, melão, melancia no fundo do quintal, lembro que eu ficava horas fazendo covas e colocando sementes, o mistério da germinação de sementes sempre me encantou. Eu brincava com besouros, formigas, criava os filhotes de pardal que caíam do ninho. A consciência da dor dos animais veio bem depois, há mais ou menos dez anos. Quando eu estava na faculdade fiquei sem comer carne de boi durante uns dois anos, mas comia peixe e frango, acho que como o boi é mamífero está mais próximo de nós na escala filogenética, a maioria das pessoas pensa assim, que matar peixe não é tão grave quanto matar boi, isso apenas expõe a contradição que é alimentar-se de cadáver de animal e ter dó de matar o bicho – escrevi aquele artigo ‘Os Bichos Sempre Pagam o Pato‘ sobre esse assunto, está publicado no site do grupo Vanguarda Abolicionista. Naquela época eu achava que se participasse da morte do bicho era lícito comer sua carne, como eu achava que podia matar peixes e galinhas, eu comia esses animais. Hoje penso que o que tem sistema nervoso sofre, ou seja, os bichos, tanto faz insetos, aves, moluscos, anfíbios, vermes etc. Cursei agronomia na Unesp – Botucatu, que é uma cidade pequena. De início foi difícil de eu me acostumar, então eu voltava para São Paulo aos finais de semana, mas quando terminei o curso e voltei a São Paulo percebi que ali não era mais o meu lugar e fui morar no interior novamente. Hoje moro em Caxias do Sul, é uma cidade que tem dez livrarias boas, cinco editoras boas, dezlojas de instrumentos musicais, vários luthiers bons, umas vite escolas de música, uma orquestra sinfônica e uma de sopros, para mim é o que basta para considerar uma boa cidade.
ANDA – Você foi fazendeiro e desmatou Mata Atlântica. Como foi isso?
Comprei área que já produzia soja, mas anteriormente foi cerrado.
ANDA – Você foi dono de incubadora de pintos, no passado. O que o José Otavio de hoje pensa de si mesmo nessa fase?
Eu não penso nada, pois eu não tinha a consciência que tenho hoje do sofrimento dos bichos. Se hoje eu voltasse a trabalhar com incubatório seria uma grande contradição e uma puta sacanagem.
ANDA – Quando foi que o veganismo entrou na sua vida?
A Sônia – esposa – e eu paramos de comer carne por achar que não era saudável, assim ficamos um tempo, mas comíamos peixe e derivados do leite, quando nos demos conta do sofrimento animal e do sistema de produção, eliminamos os produtos de origem animal de nossas vidas, isso se deu em 2005.
ANDA – Você atualmente mora em Caxias do Sul, uma cidade famosa pela alimentação baseada na carne, a relação de exploração que é cultura no meio rural, acrescida dos costumes gauchescos somados aos da imigração italiana. Como se defende, em meio a tudo isso?
Por mais paradoxal que possa parecer, conhecemos muitas pessoas veganas e vegetarianas aqui, inclusive crianças que nunca comeram carne e nunca tomaram leite de vaca, coincidentemente são os mais inteligentes do colégio e muitos são atletas. Está havendo uma mudança de hábitos, ainda pequena, mas paulatina. Como exemplo cito o caso das lanchonetes daqui – as grandes hamburguerias oferecem lanches veganos, então existe demanda de consumo. Aqui há dois restaurantes vegetarianos, um deles abriu uma filial, estão sempre lotados. Meus filhos não comem carne e nem tomam leite, todos são atletas, os dois menores competem na natação, agora passaram a integrar a equipe da escola de natação, a menor já ganhou medalha de corrida aqui em Caxias, e o menor também pratica kung fu. Eu não sinto falta e tenho atividade física intensa de academia, kung fu, natação e corrida. O mestre de kung fu, faixa preta de 7º grau, é vegano, vários da academia são veganos. Um de meus filhos, que era vegano, por pressão do grupo do colégio, deixou de sê-lo, mas há dois meses começou a namorar uma garota vegana. Encontrar pessoas veganas já não é tão difícil.
ANDA – Como você lida com os assim chamados ‘animais peçonhentos’ em sua casa?
Todos os animais que conhecemos já existiam desse mesmo jeito como os conhecemos hoje quando a espécie humana estava em formação, portanto nenhum animal apareceu na Terra com a finalidade de atacar o ser humano, causar-lhe dano direto ou indireto. O pernilongo que não nos deixa dormir existia antes de nós e atacava outros mamíferos, nós somos apenas mais uma fonte de alimento para esse bicho, ele tem certa preferência de se alimentar de nosso sangue porque não temos a pele tão grossa e recoberta de pelos quanto a de um macaco, por exemplo, mas na mata os pernilongos se alimentam do sangue dos macacos. As baratas, ratos e outros animais tornaram-se cosmopolitas também devido à abundância de comida. Como na natureza tudo funciona na forma de cadeia, os predadores como: aranhas, escorpiões, cobras, gatos, cães primitivos e outros vêm atrás daqueles consumidores primários para se alimentar também. Entendidos estes conceitos, esclareço que animais peçonhentos são aqueles que secretam peçonha, como: aranhas, escorpiões, cobras. A peçonha é usada para esse tipo de predador matar a presa e dela se alimentar e secundariamente para se defender, como uma reação instintiva, o que ocasiona acidentes em humanos e animais domésticos. Moro numa casa com jardim, quintal com muitas árvores e horta, com tanto alimento disponível habitualmente aparecem insetos, aranhas, ratos, gambás e baratas dentro de casa. As aranhas, ratos e baratas são levados para o mato. As aranhas e baratas são pegas com potes transparentes de sorvete e os ratos com uma ratoeira que é um tipo de arapuca em que o rato entra para pegar o alimento que está preso numa haste metálica que solta a mola que fecha a porta da armadilha, essa ratoeira é facilmente encontrada nas lojas agropecuárias. Os gambás procriam livremente no quintal e fazem parte da família, assim como as dezenas de pássaros que fazem ninhos nas árvores. Os besouros, mariposas e borboletas são colocados no quintal. Os pernilongos são repelidos com essência de citronela, facilmente encontrada também até em redes de supermercados. Coloco a essência num aparelho que esquenta o óleo e dissemina o cheiro, no verão dormimos com janela aberta e não entra insetos, uma hora antes de dormir o quarto está repleto de insetos, quando o cheiro da essência se espalha gradativamente os insetos desaparecem. Uso um aparelho elétrico encontrado no comércio com essa finalidade, jogo fora o inseticida líquido e coloco a essência de citronela. Pode-se colocar um vaso com a planta na janela do quarto que o resultado é praticamente o mesmo, ou comprar velas aromáticas que contenham esse óleo. A citronela é um capim parecido com capim cidreira e de cheiro parecido. Dá para colocar algumas gotas de essência de citronela nas pás do ventilador ou na lâmpada de um abajur, o cheiro se espalha imediatamente. Ontem fiz isso, os pernilongos foram picar em outra freguesia e dormimos sossegados. Para espantar baratas, dá para jogar um pouco de essência num balde e colocar água, daí passa-se com pano perto das frestas de portas e janelas, dura uns quatro dias.
ANDA – Um artigo seu, ‘Água Virtual‘, fez sucesso e polêmica ao levantar questões relativas aos abatedouros. Cabe ao Brasil mandar para fora seus produtos, como colônia, sem contabilizar a destruição ambiental e a dor dos animais?
Se você andar pelo país, de carro, verá em postos de gasolina, restaurantes de beira de estrada e fruteiras, produtos como pás, colheres, pentes e uma enorme variedade de artefatos de madeira nobre. Pois bem, como ficou difícil retirar toras da Mata Atlântica, os predadores industrializam a madeira que roubam no sul da Bahia e vendem esses produtos por todo o país. Os piratas da natureza estão sempre procurando alternativas para disfarçar a ação predatória que exercem sobre a natureza, dessa forma ludibriam a Polícia, a Justiça, a fiscalização. Há quem queira leis menos brandas, mas o principal problema do Brasil é a fiscalização e a Justiça que não funciona em nenhuma instância rapidamente, a não ser que algum banqueiro esteja preso, daí é só bater na porta do STF que jogam um habeas corpus pela janela e o cara vai para a rua na mesma hora. Não se tem interesse em prender e nem em julgar e condenar o predador. Veja o caso da Dorothy Stang. O fazendeiro Bida, acusado de matá-la, foi condenado em 2005 a 30 anos de cadeia, mas já conseguiu progressão da pena e vai para o regime semi-aberto, a lei é sempre favorável ao bandido, se ele tivesse matado dez pessoas e fosse condenado a 300 anos de cadeia, conseguiria regime semi-aberto da mesma forma. Os políticos fazem as leis, e como em sua maioria são corruptos e desonestos, criaram formas para o caso de eles serem condenados não serem presos, daí transformaram o Brasil no paraíso da predação, lugar onde o crime sempre compensa. Os estudantes, que sempre foram ponta-de-lança nas manifestações por democracia e liberdade, hoje estão apáticos. Isso é um sinal de que a sociedade não está interessada nessas questões, posso dizer que a sociedade brasileira como um todo almeja a corrupção, por isso nada se faz para se combater esse mal – o brasileiro médio pensa que se ele estivesse lá, nas esferas do poder, ele também agiria em proveito próprio, nós estamos na pré-história de termos no Brasil um mínimo de civlização. A única coisa válida a se fazer é a opção individual de não consumir, ou consumir o mínimo possível, não dá para esperar nada das autoridades. Como vivemos numa sociedade de consumo, a única saída seria não consumir. É muito importante manter-se informado, saber da procedência das coisas que se consome, por exemplo saber se os cosméticos têm produto de origem animal, ou se foram testados em animais. Muitas embalagens são produzidas com papelão de madeira de desmatamento ilegal – cito o exemplo da boneca Barbie. Descobriu-se que as embalagens são feitas a partir de madeira de desmatamento na Indonésia pelo grupo Sinar Mas, e a devastação que essa empresa está promovendo está colocando em risco de extinção o tigre de Sumatra. Essa mesma empresa produz óleo de palma utilizado em chocolates da Nestlé. Na página do Greenpeace há informações como essas.
ANDA – Há algum tempo você esteve em meio a uma polêmica envolvendo um projeto de lei para extermínio de pombos em sua cidade. Conte essa história.
No ano passado, 2010, houve um movimento para eliminar-se os pombos da praça central da cidade. Os pombos dormem no telhado da igreja e talvez alguém tenha se sentido incomodado com as fezes das aves, ou com o barulho. Começou-se uma campanha afirmando que as fezes dos pombos abrigam o fungo Cryptococus neoformans, que se inalado pode causar alergias e até abalar o sistema nervoso central. No Parque Cinquentenário, que eu freqüento com minha família, aparecereram dezenas de pombos envenenados. Liguei para os hospitais da cidade e perguntei se havia registro de alguém que tivesse dado entrada ao hospital com suspeita de doença causada por fezes de pombos, e a resposta foi negativa. Perguntei se havia registro de fato dessa natureza nos últimos 50 anos, os atendentes responderam que jamais tinham ouvido falar em tal doença e que jamais souberam de registro de pessoa com suspeita de contaminação pelo fungo acima. Pois bem, enviei carta ao jornal da cidade desafiando as autoridades a mostrarem estatísticas de pessoas atacadas pela doença. Em tom de ironia, escrevi que com apenas um caso eu já estaria satisfeito e apoiaria a matança de pombos – nunca mais se falou no assunto.
Sempre penso naqueles empresários da indústria do couro que soltam a lixívia de produtos químicos usados no tratamento de couro no Rio Caí e matam milhares de peixes. Nada acontece, pois chamam a isso de progresso. São empresários progresistas, dão empregos e são defendidos até por aquelas pessoas que trabalham diretamente com os produtos tóxicos que envenenam a si próprias e o rio. Nossa sociedade é contraditória por conta das pessoas serem contraditórias.
Há uma lenda urbana sobre o cálcio vir apenas, ou principalmente, dos alimentos de origem animal, e que os veganos estariam sucetíveis à deficiência desse importante elemento na alimentação. Ao contrário da Medicina, que no curso regular não se estuda nutrição, a Agronomia tem disciplinas de nutrição animal. Como fuinciona a questão do cálcio para o nosso organismo?
Isso é lenda. O ser humano, devido, talvez, a fatores culturais, evoluiu no sentido inverso dos outros seres vivos, isto é, distanciou-se da natureza. Ao recém-nascido administra-se cálcio porque o leite materno tem pouco cálcio e/ou porque a capacidade de processar esse elemento pelo organismo humano é baixa. Animais selvagens não necessitam de adição de nenhum elemento à dieta, mas humanos e animais de raça refinada, sim. Coisa semelhante ocorre com a vitamina B12. Nós nos tornamos animais pouco adaptados. O leite de vaca e seus derivados, recentemente, foram considerados as principais causas de obesidade nos Estados Unidos. Na Internet há vasta literatura sobre esse assunto. Outras dezenas de artigos mostram como a digestão do leite retira cálcio dos ossos ao invés de repor, porque a reação ácida de assimilação pelo organismo dos aminoácidos do leite é neutralizada pelo cálcio que o organismo retira do osso, principalmente em mulheres. Um estudo realizado na DInamarca por pesquisadores da Universidade de Cambridge, Inglaterra, deu o alarme sobre esse fato. A Dinamarca apresenta um dos maiores índices de consumo de leite e derivados por habitante, ao mesmo tempo que possui as mais altas taxas de osteoporose em homens e mulheres com mais de 50 anos. Esta semana li na Internet que a gordura animal está diretamente ligada ao diabetes, à artrite e à anemia. Isso me fez lembrar uma pessoa que conheço que, por recomendação médica, come fígado de boi e muita carne, e a cada exame de sangue fica comprovado que a anemia perdura. Com o aparecimento de tecnologia mais moderna, esses problemas estão ficando cada vez mais evidentes.
Com o sedentarismo e o aumento da oferta e do acesso aos produtos de origem animal, a obesidade tornou-se um problema grave, principalmente entre as classes econômicas mais baixas, e com a obesidade vieram diabetes, hipertensão, colesterol alto, com ocorrência até em crianças, coisa impensável há 30 anos. O acesso a esses produtos é um indicativo do status quo, por isso comer carne é o objetivo de pessoas que ascendem socialmente, assim como comprar roupas caras.
O vegterianismo ou veganismo esbarra na visão distorcida que todos temos de que ao se alimentar sem produtos de origem animal o homem fica mais fraco, menos viril, perde a libido, perde musculatura, etc. Isso é um dado cultural. Para não se ter osteoporose necessita-se de atividade física e Sol, para que o corpo fabrique a vitamina D, que vai auxiliar a fixação de cálcio nos ossos. O cálcio consumido em couve, brócolis, cogumelos e amêndoas é mais do que suficiente, além de grande parte apresentar-se na forma coloidal, que é de mais fácil transporte e absorção pelo organismo.
ANDA – A superpopulação é um polêmico ponto que já foi levantado por críticos da exploração da natureza e animais. Você fez uma opção pela adoção, como foi isso?
Eu já tinha dois filhos biológicos, daí casei novamente e a Sônia e eu tínhamos a idéia de adotar. Adotamos três crianças com idade entre 8 e 10 anos na época, hoje estão com idade entre 18 e 20 anos, todos estão na universidade e uma delas faz trabalho voluntário num asilo de idosos. Em 2009 adotamos mais dois, que hoje estão com 13 e 14 anos. Eu não queria bebês porque dão muito trabalho, crianças mais velhas dão menos trabalho, depois de poucos meses tem-se a impressão que sempre estivemos juntos, que já nasceram conosco. Como ninguém procura criança para adoção nessa faixa etária, o processo de adoção foi rápido. Participo de uma ONG que se chama Instituto Filhos, que orienta casais que estão na fila de adoção do Fórum e pais adotivos que queiram compartilhar idéias e vivências. O site do instituto foi feito pelo Alex, meu filho que cursa engenharia da computação, www.institutofilhos.org.br, e se alguém precisar de orientação sobre esse tema, pode entrar em contato conosco.
ANDA – O meio técnico costuma ter uma visão dos animais como meio para o conforto e lucro humano. Como fazer nascer uma nova cultura entre os que trabalham na produção de alimentos?
Um dos maiores erros da nossa sociedade é dar à economia e aos economistas importância maior do que outros setores como educação, saúde, meio ambiente etc, daí tudo se justifica se a finalidade é aumentar o lucro, ou a produção, ou as exportações. Recentemente vimos a bancada ruralista convencer os deputados a aprovar o novo Código Florestal, que é um código de predação da natureza para benefício de poucos, não foi feito estudo científico de nenhuma entidade como SBPC, por exemplo, para se avaliar as propostas desse código. Como a quase totalidade dos agricultores brasileiros não sabe lidar com a natureza a não ser de forma predatória, eles acham que poder derrubar mais mato é um avanço, eles pensam como na época do descobrimento do Brasil. Veja a questão de exploração de petróleo no mar, foi aprovada a exploração em Abrolhos, que é considerado maternidade da baleia jubarte que está em extinção e de várias espécies de corais que existem apenas naquele arquipélago, mas isso pouco importa. A mentira da produção de petróleo vale mais do que a natureza, essa produção só gerará lucros a uma empresa, pois a gasolina jamais vai baixar de preço com aumento de produção. O mesmo ocorre com o Código Florestal, somente vai beneficiar os madeireiros da Amazônia. Enquanto esse sistema de produção ‘industrial’ de usurpação de recursos naturais para obter-se lucro vigorar, a terra, a água, o ar jamais serão vistos como algo a se preservar, os animais jamais deixarão de serem vistos como escravos, assim como seres humanos que em todas as regiões do país trabalham em regime de semi-escravidão em colheitas de maçã, de tomate, de batata, de palma, em carvoarias. O lucro máximo tudo justifica.