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Cuidar da fauna é um dos desafios da preservação da Mata Atlântica

22 de janeiro de 2011
3 min. de leitura
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A quarta reportagem da série mostra que os animais também são vítimas do tráfico

As araras podem dormir tranquilas, sem medo de algum predador. Estão em família vivendo no Parque das Aves, um zoológico particular em Foz do Iguaçu. Muitos bichos já nasceram em cativeiro, outros vieram de apreensões do tráfico de animais. Lara está saudável e convive bem com as pessoas.

Oto, um tucano, não está nada bem. As patas estão deformadas e uma das asas mutilada. Virgulino é cego de um olho e Perninha está com a perna quebrada. Todos foram vítimas do tráfico de animais.

“Tem bastante tráfico de animais por aqui, principalmente filhote de papagaio. Chegam tucanos de bico verde, chega gavião, chega coruja e muitos deles chegam em condições físicas muito ruins que a gente não consegue recuperar”, diz a bióloga Yara de Melo Barros.

“Esse tráfico de animais reduziu bastante, exatamente pela condição em que o tráfico de animais acaba rendendo pouco perto das possibilidades que as pessoas têm no tráfico de entorpecentes, tráfico de armas e contrabando”, aponta Valdeci Gonçalves Capelli, da polícia ambiental.

O tráfico de armas e drogas não parece estar tão distante do tráfico de animais. No último mês de novembro, quando a polícia ocupou o Complexo do Alemão no Rio de Janeiro, encontrou nas casas dos traficantes também animais silvestres.

Se os traficantes tiverem que atravessar a fronteira entre Foz do Iguaçu no Brasil e Cidade do Leste no Paraguai não encontrarão muita dificuldade. Todos passam para o Paraguai e entram no Brasil, livremente.

Além do tráfico, os animais silvestres enfrentam outro inimigo: os veículos que circulam pelas estradas que atravessam os parques. Na Argentina, o aeroporto fica dentro do Parque Nacional do Iguaçu.

O ambientalista argentino Manuel Jaramillo, coordenador da Fundacion Vida Silvestre Argentina, conta que a única onça-pintada que viu na vida foi a 100 metros da entrada do aeroporto, cruzando a estrada.

É muito grande o número de animais mortos, atropelados, no Parque Nacional do Iguaçu, tanto do lado argentino, quanto do lado brasileiro. Um gambá foi atropelado e morto.

Um gambá morrer atropelado por lá não é novidade. Toda semana pelo menos um gambá é atropelado na estrada. Mas não são só eles, além deles, os veados, as cotias, os lagartos, os carcarás, os tucanos, até uma onça-pintada, o bicho mais raro e mais precioso da Mata Atlântica foi atropelada e morta por um veículo em alta velocidade.

“Mais de 90% chegam mortos, pouquíssimos chegam com vida”, diz o veterinário da Itaipu, Zalmir Silvino Cubas.

Para cuidar de tantos animais atropelados, vítimas do tráfico ou da caça, a Itaipu Binacional criou um hospital veterinário só para atender animais silvestres. Na enfermaria oito, um carcará com uma lesão nas patas vai se acostumando a usar uma sandalinha para poder caminhar.

Duas corujas suindaras, duas irmãs ainda filhotes. Foram arrancadas do ninho por uma pessoa incomodada com o barulho que faziam.

“É preciso que as pessoas entendam que os animais tem seu comportamento, seu biorritmo. Se você convive num ambiente com eles, numa chácara, numa fazenda, tem que também tolerar o barulho que eles fazem”, aponta o veterinário.

A coruja orelhuda está cega de um olho e teve um asa amputada, provocada por um tiro de arma de fogo. Nunca mais vai poder voar. Dependendo do ser humano pra dar um passeio.

Uma coruja suindara está sendo preparada para voltar a viver na natureza. São voos diários e controlados para exercitar a musculatura. Assim que se imagina livre, a coruja mostra o seu único desejo: voltar para casa outra vez.

A onça-pintada, típica dessa região, praticamente só pode ser vista em fotos.

Fonte: Jornal Nacional

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