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Cuidados com a obesidade animal

5 de dezembro de 2010
10 min. de leitura
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Cadela Milly está muito acima do peso ideal para sua raça e porte (Foto: Alex Regis)

O atual padrão de vida da sociedade tem aumentado a incidência da obesidade e de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes, no homem dito moderno. Mas não apenas nele. O sedentarismo e suas consequências têm afetado também os animais, principalmente cães e gatos. Enquanto seus tutores ficam prostrados à frente do computador ou da tevê, os bichinhos ficam num canto, comendo e ganhando peso. O resultado é sobrepeso e riscos à saúde.

Assim como nos seres humanos, o sobrepeso nos animais aumenta os riscos de desenvolver doenças cardíacas, artrite, diabetes, problemas hepáticos, além de afetar a qualidade de vida.

O excesso de comida associado à falta de uma atividade física é responsável por 95% dos casos. Portanto, pode-se concluir que a culpa é estritamente dos tutores desses animais. Os outros 5% estão relacionados a problemas endócrinos.

Nos cães, as raças mais propensas à obesidade são labrador, cocker spaniel, basset hound, beagle e dachshund. Mas nem mesmo um vira-lata está livre do problema. Entre os gatos, a dificuldade de fazer com que eles se exercitem regularmente é um dos principais fatores. Para ambos os casos, além de caminhar e correr, é preciso comer ração balanceada, no mínimo, duas vezes por dia. “A atividade física é extremamente importante. Mas hoje em dia, nem o tutor faz exercícios, imagine o animal”, comenta o veterinário Breno Camacho.

Ele comenta não haver ainda em Natal algum profissional especializado na área de fitness para os animais, a exemplo de outras cidades maiores, onde existem locais próprios para eles se exercitarem e perderem a gordura em excesso. Uma pesquisa da Associação de Prevenção à Obesidade dos Animais de Estimação, feita nos Estados Unidos, em 2009, mostrou que 45% dos cachorros e 58% dos gatos de lá estão obesos. Não há dados do Brasil.

Obesidade em animais pode ser ‘herança’ de seus tutores
Existe uma máxima que diz serem os cães reflexo direto da personalidade de seus tutores. Ao ser entrevistado pela reportagem do TN Família, o veterinário Breno Camacho alertou para este fato, prevendo omissões ou até mesmo a falta de declarações por parte dos tutores de animais.

“Como é uma coisa que depende dos tutores, o animal ser obeso ou não, eles ficam sem querer aparecer. É porque, na realidade, eles sabem que eles fazem errado. A gente bate muito nessa tecla. E, às vezes, só depois é que eles vão ver o erro que foi cometido”, comenta o veterinário.

Diferente das pessoas, ele argumenta, o animal não vai assaltar a geladeira durante a noite ou então vai para uma pizzaria, mesmo estando de dieta, escondido de todos. “O animal depende do tutor colocar as coisas para ele. Na casa de meu pai, por exemplo, as cadelas só vão para cima de quem dá comida a elas.” Mas ele admite ser difícil para a maioria das pessoas resistir em ver o seu animalzinho pedindo um petisco e não satisfazer a vontade dele.

Causa e Efeito
A regra de alimentação saudável aliada a uma atividade física frequente é válida tanto para seres humanos quanto para os animais. Não adianta encher o cachorro ou o gato de comida e não caminhar, correr ou brincar com eles. Além do sedentarismo, o veterinário Breno Camacho cita também o fator endocrinológico, o hipotiroidismo, que torna o metabolismo mais lento, da mesma forma que com os humanos. Porém, essa causa é uma minoria, segundo ele. As chances de o sobrepeso ser causado por excesso de comida é de 95%; os outros 5% seriam problemas ligados à endocrinologia.

Ainda estão associados ao excesso de peso o sexo, castração, idade, raça, atividade e a própria individualidade do animal, afetando a saúde, a longevidade e a qualidade de vida.

Entre as consequências negativas do excesso de peso estão a sobrecarga nas articulações, dificuldade de respirar, alterações metabólicas, além de danos ao sistema circulatório e hepático.

Com relação aos gatos, o que é preconizado hoje em dia é mantê-los castrados, pois possuem uma carga hormonal muito forte, como esclarece Breno Camacho, informando haver rações específicas para os felinos submetidos à castração. Como é difícil desenvolver uma atividade física com o gato — “Não é como um cão que você põe uma guia e vai caminhar” — é preciso redobrar os cuidados com a alimentação. “O gato interage muito com outros animais, até com o próprio cão mesmo. É importante a questão da brincadeira, correr atrás de uma bolinha, pois isso vai ajudar na queima da gordura dele. O gato tem essa particularidade.”

Excessos de alimentação fizeram com que Pretinha dobrasse de peso (Foto: Alex Regis)

Tutores de cães e gatos obesos falam sobre os animais
“Eles não são gordos, não; são fofinhos.” É assim que Dona Maria de Fátima, 65 anos, reage à pergunta da reportagem sobre o sobrepeso dos cachorros. Ela cuida de dois poodles e um de raça oriental, da qual não lembra o nome. Os dois primeiros estão acima do peso normal para a idade e o padrão da raça.

Priscila, uma dos poodles, tem 12 anos e está atualmente com 10kg. Precisa perder pelo menos 2kg, segundo o veterinário Breno Camacho. Apesar de assumir mudanças na alimentação da cadela, que antes só comia ração, Dona Maria de Fátima também argumenta problemas com medicações para um problema de fungos, já existente no animal quando ela passou a cuidar dela.

“Antes ela só comia ração, mas depois começou a querer comida mesmo”, alega Dona Maria de Fátima. “E depois dos medicamentos ela foi ficando gordinha. Mas caminho com os dois todos os dias.”

Para o veterinário Breno, o problema pode estar relacionado com a idade dos dois animais, pois à medida em que vão envelhecendo — assim como nos humanos adultos — o acúmulo de gordura acontece mais facilmente à medida em que fica mais difícil queimar o excesso.

Já o problema de Pretinha, gata do avô da esposa do veterinário, são excessos na alimentação. Ela, hoje com 8kg, come ração, leite e “comida de panela” todos os dias. “Algumas pessoas querem complementar a alimentação, pois acham que a só a ração não é suficiente”, comenta Camacho.

Ele conta que nos próximos dias Pretinha passará por um tratamento para redução de peso, à base de suplementos alimentares que ajudam a queimar gordura e favorecem a massa magra.

Outro caso de gata obesa é Naninha, do jornalista Cléber César, 29 anos. No caso dela, segundo seu tutor, a engorda foi devido à histerectomia a qual submetida. A gata hoje está com 8kg.

BATE-PAPO

Keila Regina de Godoy » veterinária (SP)

Quais as principais dicas para driblar o apetite aumentado dos bichos?
Keila Regina de Godoy –  Primeiro, vale lembrar que fome é diferente de apetite: a fome é fisiológica e é um alerta do organismo para a necessidade de ingestão de energia suficiente para a manutenção da vida. Apetite pode ser estimulado por alimentos altamente saborosos, independente da fome e necessidade. Para controlar esse apetite, é indicado não ceder a olhares, latidos ou miados insistentes à beira da mesa. Cada concessão reforça o comportamento indesejável e prejudicial, que nada mais é do que uma “chantagem” do bicho. Fracionar refeições em três ou quatro porções diárias, dividindo a quantidade e não aumentando, também ajuda, assim como estabelecer uma rotina de alimentação, com horários fixos. Oferecer brinquedos e passeios para o animal não encontrar na comida sua única fonte de distração e prazer e oferecer “petiscos” não calóricos e que suprem a necessidade e ansiedade do animal, tais como os ossinhos de couro, costumam ser boas medidas.

É verdade que um bom recurso é dar frutas nos intervalos das refeições?
KRG – A livre ingestão de frutas pelos animais não é um consenso entre os nutricionistas. Deve-se ter cuidado, pois frutas também têm calorias e, em quantidades inadequadas, podem desequilibrar a alimentação, promover amolecimento das fezes e aumento de peso. Alimentos considerados saudáveis e naturais não necessariamente são menos calóricos. Outro ponto importante é que frutas cítricas não são apropriadas para os animais.

Como agir quando o bicho fica pedindo comida fora de hora?
KRG – Esta é a típica pergunta que todo tutor já se fez algum dia. “Eu alimento bem o animal e até sirvo mais do que está escrito na embalagem da ração. Então, por que ele continua com essa cara de morto de fome?” No caso dos cães, ao que parece, a resposta está em sua própria origem. Como sabemos, o cachorro descende do lobo, e os lobos caçam para obter seu alimento, assim como os cães selvagens. Mas nem sempre as caçadas do lobo são bem-sucedidas e, em geral, ele pode passar quatro ou cinco dias sem comer até que capture uma presa para saciar sua fome. Este mesmo instinto de sobrevivência está presente nos cães domésticos. É como se uma voz em seu interior falasse: “Trate de comer o máximo possível porque amanhã não sabemos se haverá comida”. É muito importante lembrar que toda essa chantagem do animal obedece a um instinto. Ele tem permitido a sobrevivência da espécie por milhares de anos, mas não significa que o animal esteja mal alimentado. Outro ponto a ressaltar é que o cão é neofílico, ou seja, gosta de novidades. Assim, as experiências sensoriais com alimentos diversos são gratificantes para ele, que aprecia principalmente alimentos adocicados e gordurosos. Estes ele consome mesmo sem fome.

Siga as dicas abaixo e não deixe o bichinho ficar gordo demais:

Não deixe o alimento exposto por mais de 15 minutos a cada refeição. Se o animal não comer, retire a vasilha.

Nas embalagens dos alimentos comerciais existe a quantidade diária recomendada de alimento de acordo com o porte e idade. Siga as recomendações e preste atenção se será preciso algum ajuste (aumento ou redução da quantidade) em função do nível de atividade física e condição corporal (magro, peso ideal ou com excesso de peso).

Mantenha o animal fora da área de preparação dos alimentos e não permita que ele presencie a refeição dos humanos.

É importante conhecer as calorias dos petiscos ofertados a fim de deduzi-las da oferta diária, evitando os excessos. Uma bolacha doce recheada de 70 calorias, por exemplo, representa apenas 4% do total de calorias diárias necessárias para o ser humano. No entanto, esta mesma bolacha representa 23% das necessidades calóricas totais diárias para um cãozinho de 5kg!

Ofereça carinho e atenção como forma de recompensa por um comportamento desejável, ao invés de comida.

Jamais ofereça os restos da alimentação humana ao animal.

Eduque as crianças para que não compartilhem alimentos com o animal. Do mesmo modo, eduque o bichinho para que ele não roube comida das mãos das crianças.

No caso de animais diagnosticados como obesos, instituir rapidamente uma terapia integrada de redução calórica com ingestão de alimentos apropriados (versões light), com uma rotina de atividade física e ausência de petiscos.

Fonte: Tribuna da Norte

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