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RETROCESSO

Crueldade não é cultura: projeto de lei busca liberar rodeios em São Paulo após 32 anos de proibição

11 de março de 2025
3 min. de leitura
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Foto: Divulgação

Na última segunda-feira, 10 de março de 2025, a vereadora Zoe Martinez (PL) protocolou o Projeto de Lei 273/2025, que busca revogar uma conquista histórica para os direitos animais na cidade de São Paulo: a proibição dos rodeios, vigente desde 1993. A proposta, que altera a Lei Municipal 11.359, sancionada por Paulo Maluf, é um golpe brutal contra o progresso ético e um retorno a práticas cruéis e arcaicas que tratam os animais como meros objetos de entretenimento.

A justificativa apresentada pela vereadora é, no mínimo, falaciosa. Martinez alega que os rodeios “evoluíram significativamente” e que normas rigorosas garantem a “segurança e o bem-estar dos animais”. No entanto, essa narrativa ignora a realidade intrínseca desses eventos: os animais são submetidos a situações de extremo estresse, medo e dor, tudo em nome de um espetáculo que explora sua natureza para o entretenimento humano. A ideia de que equipamentos ou fiscalização veterinária podem eliminar a crueldade é uma ilusão perversa. Montarias, laçadas e outras práticas comuns em rodeios são, por si só, violentas e desumanas.

A referência à Professional Bull Riders (PBR) como uma entidade que promove “condições adequadas” para os animais é particularmente cínica. A PBR, assim como outras organizações do gênero, lucra com a exploração animal, perpetuando um sistema que trata seres sencientes como ferramentas descartáveis. Nenhum treinamento ou norma pode justificar o uso de animais em atividades que os submetem a sofrimento físico e psicológico.

No aspecto econômico, a vereadora argumenta que os rodeios geram empregos e movimentam a economia local. No entanto, esse argumento é moralmente insustentável. A economia não pode ser construída sobre a exploração e o sofrimento de seres vivos. Além disso, é possível promover atividades turísticas e culturais que não envolvam crueldade animal, como festivais de música, gastronomia ou esportes que não dependam da subjugação de outras espécies.

A defesa do rodeio como “parte integrante da identidade cultural” de São Paulo é igualmente problemática. A cultura não é estática; ela evolui à medida que a sociedade avança em sua compreensão ética. Práticas que eram aceitas no passado, como a escravidão humana ou as lutas de gladiadores, foram abandonadas à medida que a humanidade reconheceu sua barbárie. Da mesma forma, os rodeios e outras formas de entretenimento que exploram animais devem ser relegados ao passado. A verdadeira identidade cultural de uma sociedade se reflete em sua capacidade de evoluir e respeitar todos os seres vivos.

A proposta de Martinez não apenas desconsidera décadas de avanços na proteção animal, mas também reforça uma visão retrógrada que normaliza a violência e a exploração. Em um momento em que a ciência e a ética reconhecem cada vez mais a senciência e os direitos animais, retroceder à permissão de rodeios é um ato de crueldade e insensibilidade.

A proibição dos rodeios em São Paulo foi uma vitória importante para os direitos animais, e qualquer tentativa de revogá-la representa um retrocesso inaceitável. É fundamental que a sociedade rejeite essa proposta e continue a lutar por um mundo onde os animais não sejam explorados, maltratados ou tratados como meros recursos para o entretenimento humano. A verdadeira evolução está em abandonar práticas cruéis e abraçar uma cultura de compaixão e respeito por todos os seres vivos.

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