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A crueldade com os animais, um sinal de alarme psiquiátrico

26 de agosto de 2015
4 min. de leitura
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(da Redação)

Foto: Paul J. Richards
Foto: Paul J. Richards

Apesar da terrível brutalidade que apresentam, os atos de crueldade contra os animais não ocupam as primeiras páginas de nenhum jornal nem parecem escandalizar muito a população. No entanto, têm um significado final que deveria nos interessar como sociedade. Aqueles que abusam dos animais, segundo especialistas, são até 5 vezes mais propensos a praticar crimes violentos contra as pessoas.
Um adolescente britânico que coloca o hamster do seu irmão no microondas, um grupo de jovens que crucifica um gato na Comunidade Valenciana e outro que assassina brutalmente um burro na Extremadura, três mexicanos que torturam um cão e colocam os vídeos na internet…. animais esfolados, queimados, empalados, mutilados, espancados…
Frequentemente lemos ou escutamos frases como ¨são coisas de crianças¨ quando se trata desse tipo de acontecimento. É certo que, às vezes, dentro de uma brincadeira, especialmente em grupo, alguns menores de idade cometem atos lamentáveis, mas os psiquiatras e criminologistas advertem que, muitas vezes, isso é um ¨sinal de alarme¨ que as pessoas não escutam, ¨não uma válvula de escape inofensiva em um indivíduo saudável¨, nas palavras de Allen Brantley, supervisor e agente especial do FBI, um dos grandes especialistas do mundo no assunto.
¨Brincar de matar animais que não nos inspiram compaixão, como os mexilhões, é bastante normal. Mas algumas crianças o fazem de forma repetitiva, inclusive desfrutando do momento e isso é um problema¨, explica Francisco Montañés, chefe do Departamento de Psiquiatria da Fundação Hospital Alcorcón.
Comportamento antissocial
Em países como os Estados Unidos, o interesse por este tipo de ato é crescente. Não só pela maior sensibilização para com os animais, mas também pelas evidências cada vez mais numerosas da relação entre os atos de crueldade com os animais e outros crimes que vão desde o consumo de drogas aos assassinatos em série.
Na década de 80, Alan Felthous, especialista em Psiquiatria Forense, realizou várias investigações que mostravam de maneira consistente, que por detrás das agressões a pessoas havia, em muitas ocasiões, uma história de abuso a animais. Seus trabalhos, realizados com homens especialmente violentos internados nos presídios dos Estados Unidos, confirmaram sua suspeita.
Depois disso, outros analisaram a questão. Em 2002, a revista ¨Journal of the American Academy of Psychiatry and the Law¨ tornou público um estudo no qual eram associados os atos repetidos de crueldade com os animais durante a infância com o desenvolvimento de um transtorno de personalidade antissocial, a presença de traços antissociais e o abuso de drogas.
Aproximadamente, metade dos indivíduos antissociais incorrem em condutas sádicas e se o fazem antes dos 10 anos de idade, o prognóstico é pior, observa Montañés. Que o menor passe de um ato isolado de violência contra um animal a cometer outros crimes ¨é uma escalada¨, acrescenta o especialista. ¨Se repete o ato, vai aumentando o tamanho do animal; se há diversão, desfrute… as possibilidades são maiores¨.
Frank Ascione, do Departamento de Psicologia da Universidade de Utah (Estados Unidos) e reconhecido especialista, escreveu no Boletim de Justiça Juvenil em 2001: ¨O abuso de animais e a violência interpessoal compartilham características: ambos tipos de vítimas são criaturas vivas, têm capacidade para experimentar a dor e poderiam morrer em consequência das lesões infligidas ¨.
Uma oportunidade para intervir
A sensibilização na Espanha diante desta problemática é baixa. ¨Estamos esperando¨, afirma Núria Querol i Viñas, médica de família do Hospital Universitário Mútua de Terrassa, criminologista e especialista no assunto. ¨O maltrato aos animais é aterrador e poucas vezes é feito alguma coisa¨, acrescenta.
No entanto, Querol sublinha que ela também faz parte da Associação Americana de Criminologia e que, ¨quando são detectados casos de menores que maltratam animais, é preciso ter cuidado, pois pode existir um transtorno de conduta. Não se pode ignorar o fato , é uma oportunidade para intervir¨.
O Dr. Montañés concorda com ela nesse ponto ao ressaltar a necessidade de ¨recorrer a um psiquiatra em casos de crueldade com os animais, porque se tratadas desde o início, essas pessoas podem ter solução. A falta de controle dos impulsos, a empatia, a gerência da raiva… são coisas que podem ser tratadas se isto for feito a tempo¨, acrescenta Querol.
Um do objetivos desta especialista é instaurar na Espanha, como já existe em outros países, programas de intervenção para trabalhar com essas pessoas, já que é ¨muito importante mudar os valores e isso não se faz de forma sistemática¨, conclui.

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