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Crônica: O boi chorou

24 de maio de 2010
2 min. de leitura
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Por Bargas Filho

Nei, um dos filhos de dona Olinda, comerciantes de Hortolândia, aliás, pessoas de alto valor que estão no meu “caderninho de amigos”, quis saber minha opinião sobre a morte do peão Agenor Carlos dos Santos, pisoteado por um touro, quinta-feira, no rodeio de Hortolândia.

Considero um acidente de trabalho, motivado pela reação a uma ação. Ou seja, o animal ao pular desesperadamente reagia a uma tortura. Em palavras explicativas: o sedém ou sedenho, um artefato de couro que é amarrado ao redor do corpo do animal, aperta o pênis e o saco escrotal. (Nossa! Só de escrever, dói!) O touro pisoteou acidentalmente o que estava embaixo dele. Infelizmente, era o Agenor.

O Nei, também indignado com o que aconteceu, conversou sobre o assunto meio em tom de profecia. “É, um dia isso iria acontecer mesmo”. Ele disse ter presenciado um fato que o fez “odiar” os rodeios. “Fui levado, certa vez, por um amigo que é peão para uma arena de rodeio. E fiquei muito perto dos animais. Fiquei cara a cara com um boi. E quando o peão apertou o saco do bicho, vi sair lágrimas do boi. É, o boi chorou!”, lembrou o comerciante. “Nunca mais vou a um rodeio. É triste ver os bichos maltratados”.

Aliás, ao ouvir esse caso imaginei, na hora, como ficaria chocada se estivesse participando da conversa minha vizinha de página (ela sempre escreve na 2), a Elaine Gobbo, uma guardiã de animais.

Mas as festas de peão boiadeiro, que promovem os rodeios entre suas atrações, transformaram-se, principalmente no Estado de São Paulo, em eventos que movimentam economias. As festas de Americana e Barretos, por exemplo, podem ser comparadas ao Carnaval do Rio e de São Paulo. São eventos do mesmo porte, sem dúvida! E aprovados por milhares de pessoas.

Essas duas festas do peão são lugares de gente de todas as classes sociais, mas, principalmente de gente rica, empresários, comerciantes, de famosos, entre eles artistas, políticos, jogadores de futebol e outros atletas de ponta.

Essa gente certamente não chega perto dos animais. Não vê como são “estimulados” touros e cavalos para uma prova. E não vê como os bichos sofrem. Essa gente está lá na festa para assistir aos shows, beber, comer, namorar, flertar, fazer negócios. E não vai para proteger animais. Tem gente que nem percebe as provas.

A Apasfa (Associação Protetora de Animais São Francisco de Assis), por exemplo, denuncia que são usados métodos dolorosos para provocar as acrobacias dos animais, como uso de agulhas elétricas, um pedaço de madeira afiado, pregos, o sedém ou sedenho e a peiteira (corda ou faixa de couro amarrada atrás das axilas que são apertadas ao extremo) e o sino que estressa o animal com o barulho.

Na opinião do Nei: “Na Espanha o touro morre na hora, espetado pelo toureiro. O boi brasileiro morre aos pouquinhos, rodeio por rodeio”.

E o show vai continuar…

Fonte: O Liberal

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