Não são apenas os humanos que sentem “na pele” os efeitos das mudanças climáticas. Muitas outras espécies já estão tendo que se adaptar à nova realidade que vem procovando alterações no clima em todo o planeta. Na Austrália, por exemplo, um novo estudo concluiu que a temperatura corporal média dos crocodilos tem aumentado e está mudando o seu comportamento para lidar com o aumento do calor.
Os animais são resilientes, mas “já estão próximos do limite térmico fisiológico. O impacto dos futuros aumentos de temperatura previstos permanece desconhecido”, diz o artigo publicado este mês na revista Current Biology.
Os crocodilos são ectotérmicos, ou seja, dependem de fontes externas de calor para regular a temperatura corporal. Assim como acontece com cobras, peixes e anfíbios, sua temperatura varia de acordo com a temperatura do ambiente. “Nas noites quentes, a água fica quente, mas o ar esfria. Assim, os crocodilos deslocam-se para a margem do rio à noite para se refrescarem. Durante o dia, eles podem mergulhar bem fundo, onde é um pouco mais fresco. Ou podem deitar-se na margem, à sombra, com a boca aberta, ou sentar-se num riacho fresco de água doce”, esclarecem os pesquisadores.
Para testar como estas estratégias funcionam durante o calor extremo, os cientistas marcaram 203 crocodilos na Reserva de Vida Selvagem Steve Irwin, no norte do estado de Queensland. Eles coletaram dados sobre a temperatura corporal dos crocodilos, a distância diária percorrida por eles e o comportamento de mergulho, e depois compararam esses dados com as temperaturas locais.
Nas temperaturas mais altas, os crocodilos passaram menos tempo mergulhando e mais tempo realizando comportamentos de resfriamento. “Um crocodilo mais quente tem um metabolismo mais elevado”, explica Kaitlin Barham, pesquisadora de ecologia da vida selvagem na Universidade de Queensland. “Um metabolismo mais elevado significa queimar oxigênio mais rapidamente. Pesquisas de laboratório descobriram que eles simplesmente não conseguiam prender a respiração por tanto tempo. Levariam um pouco mais de tempo para se recuperarem na superfície.”
Como os crocodilos são caçadores de emboscada que dependem do artifício de permanecer submersos para obter o elemento surpresa, os cientistas estão preocupados que tempos de mergulho mais curtos possam afetar a sua capacidade de caçar. E não só isso, mas também a de escapar de predadores ou viajar distâncias maiores.
“Cada minuto que eles estão na margem tentando baixar a temperatura corporal é um minuto que eles não gastam viajando, reproduzindo ou procurando comida. Isso pode resultar em futuros efeitos indiretos na sua saúde”, afirma Barham.
Fonte: Um Só Planeta