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ABUSO

Críticas do público: dois cavalos morrem em competição de hipismo e reacendem debate sobre maus-tratos

21 de maio de 2023
6 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Dois cavalos morreram em corridas competitivas nos EUA, sendo uma delas no Kentucky Derby, uma das mais famosas da modalidade no país, e se somaram a uma série de outras tragédias do último mês. Ambas as fatalidades ocorreram no sábado, 20, e se deram por conta de lesões ‘inoperáveis’ sofridas pelos animais, as quais levaram os veterinários nos eventos a optarem pela morte induzida.

Em Baltimore, o cavalo Havnameltdown, guiado pelo jóquei Luis Saez, sentiu um problema físico durante o certame e, ainda assim, a terminou, com relativo sofrimento. Ao examiná-lo, os médicos disseram que sua pata dianteira esquerda tinha um problema irreversível e sacrificaram-no. Horas depois, em Churchill Downs, a égua Swanson Lake teve um destino parecido, mas já no final da corrida; outra pata lesionada, a traseira esquerda, e nova morte. Casos do tipo são discutidos desde os Jogos Olímpicos de Tóquio-2020.

Os episódios reacendem, mais uma vez, um alerta sobre maus-tratos e condições severas a que parte desses animais são expostos. Somando todos os fatos recentes desde abril apenas no Kentucky Derby, o número de mortes chega a nove, por diversas causas: lesão durante as competições, incidentes de treinamento ou exaustão.

O último motivo resultou até em banimento de praticantes do esporte, com o treinador Saffie Joseph Jr sendo um deles. No começo de maio, ele foi suspenso por tempo indefinido do evento em questão após dois de seus cavalos desmaiarem na pista e falecerem na sequência; e não somente impedido de participar como também barrado do local de disputa.

De acordo com Bob Baffert, que treinava Havnameltdown, todos os envolvidos serão transparentes com os que acompanham os ocorridos, e isso pode trazer ainda mais polêmica na discussão. Em 2020, entrou em vigor uma lei, chamada “Horseracing Integrity and Safety Act (Lei de Integridade e Segurança em Corridas de Cavalos)”, que garante a segurança dos animais na modalidade, mas ainda não implementada rotineiramente ou de forma correta, o que traria problemas ao Kentucky Derby e seus atletas se fosse o caso por lá.

Tragédias do tipo não se restringem apenas ao evento americano, mas também a competições de nível mundial e até Olimpíadas. Em Tóquio-2020, três casos chamaram a atenção da comunidade internacional. O mais repercutido foi o do cavalo Saint Boy, montado pela alemã Anikka Schleu, do pentatlo moderno. Ela não conseguiu controlá-lo para fazer os saltos do percurso e, após isso, sua técnica, Kim Raisner, foi vista dando um soco no equino, o que a fez ser expulsa dos Jogos pela União Internacional do Pentatlo Moderno (UIPM).

Os outros dois foram o de Jet Set, montado pelo suíço Robin Godel, que precisou ser sacrificado após uma lesão ‘inoperável’ na pata traseira direita durante o concurso completo de equitação, muito parecido com os casos recentes, e o de Kilkenny, que teve um sangramento na narina enquanto fazia um percurso com o irlandês Cian O’Connor.

Isso fez com que reacendesse o debate se o hipismo deveria ser mantido como um esporte olímpico. A ONG PETA (Pessoas pelo Tratamento Ético de Animais, na sigla em inglês), encaminhou uma carta ao Comitê Olímpico Internacional (COI) pedindo a retirada da categoria, além da saída da modalidade que é disputada com outras quatro provas no pentatlo moderno.

“Ganhar uma medalha não é desculpa para machucar animais. Os esportes evoluem com o tempo, e já passou da hora dos Jogos terminarem a exploração dos cavalos”, afirmou Kathy Guillermo, vice-presidente sênior da organização, em entrevista ao Estadão em 2021.

No Brasil, a CBH (Confederação Brasileira de Hipismo) criou a Comissão e Ouvidoria do bem-estar do cavalo após os Jogos de Tóquio, que visa criar mecanismos de proteção ao animal. Não somente isso, também é utilizada como canal de denúncias a maus-tratos, que podem ser feitas de forma anônima.

Fonte: Isto É

Nota da Redação: cavalos explorados em provas de hipismo são submetidos a condições que superam os seus limites físicos. Muitos deles são obrigados a competir desde os dois anos de idade, quando os sistemas ósseo e muscular do animal ainda não está completamente formados. Lesões, fraturas e dores, que logo se tornam crônicas, são comuns.

Pressionados por seus adestradores e pelas altas quantias de dinheiro envolvidas, esses animais são obrigados a participar de treinamentos longos e exaustivos que têm como única função prepará-los para torneios, para que todo o investimento financeiro gere lucro. Cavalos e éguas que participam de provas de equitação não são atletas, são escravos.

Estudos apontam que o esforço das corridas leva a sangramento nos pulmões e na traqueia (HPIE – Hemorragia Pulmonar Induzida por Exercício), além de claudicação, dor intensa nas patas causadas por baixo fluxo sanguíneo que também pode estar associada a doenças cardíacas. Quando sofrem fraturas, o ossos podem se partir em vários fragmentos.

O sacrifício de cavalos feridos é sempre a primeira opção, mesmo quando há sugestões de tratamento. Um cavalo ferido, mesmo recuperado, não poderá mais participar de corridas e gerar lucro aos seus algozes, então os gastos veterinários são minimizados e dispensados. Quando não são mortos a tiros, são encaminhados para matadouros.

A prova disso foi uma investigação recente feita pela BBC que descortinou os bastidores do destino de cavalos explorados em corridas. Cavalos que ajudaram jóqueis a ganhar troféus e muito dinheiro no passado, são enviados para frigoríficos para serem mortos para a fabricação de ração ou para consumo humano.

O hipismo não é diferente de nenhuma outra indústria que abusa, maltrata e explora animais. O glamour das competição de equitação é apenas uma alienação elitizada que não encontra mais espaço na sociedade contemporânea e precisa ser descontruído, combatido e proibido. Infelizmente, provas disso não faltam.

Em 2011, o cavalo cavalo Hickstead, de 15 anos, desmaiou durante a Copa Mundial de Saltos a Obstáculos de Verona, na Itália, e teve diversas convulsões diante do público. Ele não sobreviveu e a causa da morte foi divulgada como aneurisma. Em 2012, um cavalo morreu em Tarragona, na Espanha, após ser obrigado a saltar sob obstáculos até a exaustão.

Nas Olímpiadas de 2014, um cavalo sofreu um infarto fulminante no início da prova de equitação. Ocasionalmente, jóqueis também são as vítimas da prática. Nas provas de classificação para as olímpiadas de 2016, a jóquei Caitlyn Fischer, de 19 anos, morreu após o cavalo que montava errar um dos obstáculos.

Qualquer prática que se considere esportiva precisa estar relacionada com o desenvolvimento, a superação e a evolução do ser humano. Nenhuma atividade que cause dor, sofrimento e escravize seres indefesos deve ser classificada como esporte pela sociedade. Que a morte desses cavalinhos se tornem um símbolo e estimule a proibição do hipismo.

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