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EXPLORAÇÃO

Crise de maus-tratos nas pirâmides de Gizé, no Egito: cavalos e camelos ainda sofrem apesar das reformas governamentais e do crescente turismo

2 de novembro de 2025
6 min. de leitura
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Foto: Travel and Tour World

Patrimônio Mundial da UNESCO, as antigas pirâmides de Gizé atraem milhões de turistas anualmente. Entre as construções mais icônicas do mundo, elas estão localizadas nos arredores do Cairo e atraem visitantes de todo o planeta. No entanto, existe um lado sombrio por trás do fascínio da região como destino turístico, que tem chamado a atenção de grupos de defesa dos animais. Cavalos e camelos, animais outrora magníficos, agora sofrem com trabalhos físicos árduos, transportando visitantes pelas areias escaldantes do deserto ou posando para fotos. Infelizmente, muitos desses animais são sobrecarregados até a exaustão, e seu sofrimento é frequentemente ignorado.

Estudos recentes mostram que o tratamento dado a esses animais ainda é extremamente cruel, apesar das alegações do governo egípcio de estar reformando suas políticas de bem-estar animal. Cavalos e camelos continuam sendo maltratados, mesmo com as reformas prometidas; muitos são abandonados ou descartados quando não são mais considerados úteis. O setor de turismo do Egito tem sido impactado negativamente por essa crise contínua, que levanta questões morais sobre a exploração comercial de animais.

Evidências de abuso

Relatos e imagens perturbadoras de grupos de proteção animal, em particular da PETA Ásia, mostram o destino trágico de muitos cavalos e camelos que trabalham na indústria turística do Egito. As imagens, embora demasiado chocantes para serem publicadas, revelam os corpos sem vida de cavalos abandonados em meio a pilhas de lixo perto do Planalto de Gizé. Esses animais são frequentemente submetidos a longas horas de trabalho em condições extremas e, quando não conseguem mais trabalhar, são descartados como se fossem meras ferramentas.

Segundo organizações de proteção animal, esses animais são frequentemente forçados a carregar turistas sob o sol escaldante do Egito, sem acesso a água, comida ou sombra suficientes. O impacto disso em sua saúde física é severo. Muitos cavalos são encontrados emaciados, desidratados e sofrendo de ferimentos ou doenças não tratadas, como sarna. Em alguns casos, animais considerados inaptos para o trabalho são vendidos para matadouros para consumo de sua carne. Isso levou a acusações de que os animais são “explorados até a morte” e abandonados nas ruas quando deixam de ser lucrativos.

Investigações sobre maus-tratos a animais em sítios arqueológicos famosos do Egito estão em andamento há anos, mas evidências preocupantes sugerem que essas práticas não diminuíram. Apesar das várias promessas de reforma feitas pelo governo egípcio, há poucos indícios de melhorias significativas. De fato, relatórios de 2023 e 2024 indicam que animais ainda são rotineiramente espancados e abandonados para morrer em espaços públicos fora das áreas turísticas oficiais, o que demonstra a falta de fiscalização eficaz.

Resposta e reformas governamentais

Diante das crescentes críticas e da maior repercussão, o Ministério do Turismo e Antiguidades do Egito (MTA) e o Ministério da Agricultura tomaram medidas para lidar com o problema. Em 2024, lançaram o “Programa Nacional para o Cuidado e a Proteção de Cavalos, Camelos e Animais de Estimação em Sítios Arqueológicos”. Essa iniciativa visa melhorar o bem-estar dos animais que trabalham no turismo, oferecendo atendimento veterinário gratuito, criando clínicas móveis, oferecendo programas de treinamento para responsáveis e realizando campanhas de vacinação. Além disso, foi criada uma unidade veterinária dedicada para monitorar a saúde desses animais e atender às suas necessidades.

O governo egípcio também introduziu métodos alternativos de transporte para reduzir a demanda por passeios com animais. Ônibus elétricos foram implementados nas Pirâmides de Gizé para transportar turistas pelo sítio arqueológico, aliviando assim parte do estresse sobre os animais. Essas iniciativas, que faziam parte de um conjunto mais amplo de reformas destinadas a proteger os animais nos sítios arqueológicos do Egito, foram bem recebidas por grupos de defesa dos direitos dos animais na época de seu lançamento.

Apesar desses esforços, persiste o ceticismo quanto à eficácia dessas reformas. Investigações realizadas em 2023 e 2024 por grupos de defesa dos animais sugerem que as melhorias prometidas têm sido inconsistentes e insuficientes. Muitos cavalos e camelos continuam a sofrer condições precárias, alguns sendo abandonados ou negligenciados por não conseguirem mais transportar turistas. Embora algumas operadoras de turismo tenham deixado de oferecer passeios a cavalo e camelo, o problema persiste em outros setores da indústria turística.

A lacuna entre a política e a realidade

Embora o governo tenha se comprometido com a proteção dos animais, existe uma lacuna significativa entre a teoria e a prática. Por exemplo, apesar da introdução de ônibus elétricos, muitos turistas ainda optam pelos tradicionais passeios a camelo e a cavalo, nem sempre cientes dos maus-tratos que esses animais sofrem. Além disso, embora alguns cuidados veterinários tenham sido oferecidos, relatos indicam que eles são frequentemente insuficientes, com animais ainda sofrendo com ferimentos ou doenças não tratadas.

Grupos de proteção animal documentaram casos em que animais são deixados para morrer em espaços públicos, sem qualquer intervenção das autoridades. Os animais são, por vezes, encontrados em áreas fora das zonas turísticas, onde a vigilância é escassa, permitindo que os maus-tratos continuem sem controlo. A falta de aplicação efetiva das leis e regulamentos de proteção animal sugere que as reformas não foram totalmente implementadas ou que as autoridades não estão a priorizar a proteção destes animais.

Considerações éticas para turistas

À medida que o mundo se torna mais consciente das questões relativas aos direitos animais, os viajantes são cada vez mais incentivados a considerar as implicações éticas das suas atividades. Ao visitar destinos turísticos como as Pirâmides de Gizé, é importante que os visitantes estejam atentos ao bem-estar dos animais utilizados para entretenimento. Optar por não participar em passeios com animais ou em sessões fotográficas ajuda a reduzir a procura por estas práticas e envia uma mensagem à indústria turística local de que os animais não devem ser explorados para fins lucrativos.

Os turistas também podem fazer a diferença denunciando casos de maus-tratos a animais. Se presenciarem animais sendo maltratados, devem relatar o ocorrido às autoridades competentes, à equipe do hotel ou às operadoras de turismo. Apoiar empresas e operadoras de turismo que priorizam o bem-estar animal é outra forma de os viajantes causarem um impacto positivo. Ao optarem pelo turismo ético, os viajantes podem ajudar a garantir que as futuras gerações possam vivenciar a rica história do Egito sem contribuir para o sofrimento de seus animais.

Seguindo em frente: o caminho para uma mudança real

Para garantir que o bem-estar dos animais nas Pirâmides de Gizé e em outros sítios arqueológicos seja adequadamente protegido, o governo egípcio deve tomar medidas adicionais. A aplicação efetiva das normas de bem-estar animal é crucial, assim como o fornecimento de recursos para monitorar e regulamentar o tratamento dos animais. A transparência nos relatórios sobre as condições dos animais de trabalho, bem como campanhas de conscientização pública mais abrangentes, também ajudariam a aumentar a conscientização e responsabilizar os infratores.

Além disso, é preciso haver mais incentivos para que os operadores turísticos adotem alternativas sem animais. Incentivar o uso de transporte elétrico, passeios a pé e outras opções sem animais ajudará a reduzir a dependência de cavalos e camelos. Soluções a longo prazo também incluem a criação de santuários onde animais aposentados possam viver seus últimos anos em paz e conforto, longe das pressões da indústria do turismo.

Fonte: Travel and Tour World

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