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MATERIAIS TÓXICOS

Crise climática potencializa impactos da poluição plástica, alerta estudo

Pesquisadores do Imperial College London alertam que clima e plástico formam uma crise conjunta que já afeta espécies-chave, cadeias alimentares e a saúde dos solos

1 de dezembro de 2025
4 min. de leitura
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Foto: Unsplash

O avanço da crise climática está tornando a poluição plástica mais tóxica, móvel e persistente, com efeitos já observados em cadeias alimentares e riscos elevados para predadores de topo, como orcas. A conclusão é de uma revisão publicada na revista Frontiers in Science por pesquisadores do Imperial College London, que pedem ações urgentes para conter a entrada de microplásticos no ambiente.

Segundo o estudo, o aumento de temperatura, umidade e radiação UV acelera a fragmentação de plásticos em microplásticos, ampliando sua dispersão por mares, rios, solos e até pela atmosfera. Eventos extremos, como tempestades, enchentes e ventos fortes, também intensificam o transporte e a quebra dos resíduos. A tendência deve piorar: a produção mundial de plástico cresceu 200 vezes entre 1950 e 2023.

Os autores defendem eliminar plásticos descartáveis não essenciais, limitar a produção de plástico virgem e criar padrões internacionais que assegurem reutilização e reciclagem. “Poluição plástica e clima são co-crises que se intensificam mutuamente”, afirmou o líder do estudo, o professor Frank Kelly. “Precisamos de uma ação internacional coordenada para impedir que o plástico siga se acumulando no ambiente.”

A revisão compila evidências de que microplásticos já reduzem a saúde do solo e afetem ciclos de nutrientes em ecossistemas aquáticos, além de interferir na alimentação, reprodução e comportamento de organismos expostos. Eles também funcionam como vetores (“cavalos de Troia”), transportando metais, pesticidas e “químicos eternos” como PFAS, cuja adesão aumenta sob condições climáticas extremas. O derretimento do gelo marinho também pode liberar microplásticos previamente retidos.

“Esses poluentes podem ter impacto crescente sobre espécies ao longo do tempo”, afirmou a coautora Stephanie Wright. Segundo ela, o estresse combinado de clima e plástico, ambos derivados da dependência de combustíveis fósseis, pode agravar ainda mais um ambiente já pressionado.

Risco ampliado para predadores de topo

Os efeitos da dupla pressão são ainda mais fortes no ambiente marinho. Estudos citados mostram que microplásticos reduzem a capacidade de corais, moluscos, ouriços, peixes e outros organismos de lidar com temperaturas elevadas e acidificação do oceano. Em água mais quente, a mortalidade causada por microplásticos em peixes quadruplicou; em condições de baixa oxigenação, codornizes marinhas duplicaram sua ingestão desses fragmentos.

Ameaças acumuladas tornam predadores como orcas especialmente vulneráveis. “A perda de espécies-chave pode ter efeitos profundos em todo o ecossistema”, disse o coautor Guy Woodward. “Orcas podem ser o alerta precoce, os ‘canários da mina’, da combinação entre crise climática e poluição plástica.”

Chamado a mudanças estruturais

Diante das evidências, os pesquisadores reforçam que é necessário repensar o modelo global de uso de plástico. Eles defendem a transição para uma economia circular mais ampla, que vá além de “reduzir, reutilizar e reciclar”, incorporando inovação, redesign, eliminação de itens desnecessários e recusa ao modelo linear de produção e descarte.

“O futuro não será livre de plástico, mas podemos limitar o avanço da poluição”, afirmou Wright. “Precisamos agir agora: o plástico descartado hoje ameaça causar impactos globais no futuro.” Kelly reforça que a solução exige mudanças sistêmicas, cortes na produção, políticas globais, como o Tratado Global sobre Plásticos da ONU, e inovação responsável em materiais e gestão de resíduos.

Fonte: Um só Planeta

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