Mais de 150 laureados com o Nobel e o Prêmio Mundial da Alimentação uniram-se para lançar um grito de alerta contra a crescente crise de insegurança alimentar que ameaça o mundo. Em uma carta aberta, cientistas, economistas e líderes de renome mundial pedem esforços urgentes e coordenados para aumentar a produção de alimentos de maneira sustentável e enfrentar os desafios impostos pela emergência climática.
O apelo vem de figuras como a cientista de NASA Cynthia Rosenzweig, o filósofo e escritor Wole Soyinka, e o economista Joseph E. Stiglitz, que destacam a necessidade de uma “missão lunar” (no sentido de esforços massivos coordenados) para evitar uma catástrofe global de fome até 2050, com a população mundial prevista para alcançar 9,7 bilhões de pessoas. Os laureados alertam que a produção de alimentos precisa aumentar em 50% a 70% nas próximas duas décadas para evitar um colapso na segurança alimentar global.
A carta destaca como a crise climática, especialmente em regiões como a África, já está prejudicando a produtividade agrícola. O aumento das temperaturas e eventos climáticos extremos, como secas e inundações, estão afetando culturas essenciais, como o milho e o arroz, que são fundamentais para a alimentação global. O
presidente do Banco Africano de Desenvolvimento, Akinwumi Adesina, ressaltou que países de baixa renda, onde a produtividade precisa praticamente dobrar até 2050, estão enfrentando uma realidade muito distante da necessária para garantir a segurança alimentar.
Além disso, a degradação do solo, a perda de biodiversidade e a escassez de água agravam ainda mais o quadro, enquanto políticas agrícolas ineficazes dificultam a inovação necessária para o setor.
Chamado à ação global
Entre as soluções apontadas pelos laureados está a pesquisa científica em novas tecnologias agrícolas, como o aprimoramento da fotossíntese de cereais essenciais, como trigo e arroz, e no desenvolvimento de culturas mais resistentes às condições climáticas extremas, como as originárias de climas áridos. A utilização de microorganismos e fungos para a criação de alimentos e a redução do desperdício alimentar também são vistas como áreas importantes para enfrentar a crise.
Com 700 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar no mundo, o risco de um futuro ainda mais desigual e instável é real. Os especialistas alertam que, se nada for feito, em 25 anos a produção de alimentos pode estar muito aquém das necessidades globais, resultando em uma crise alimentar sem precedentes. A falta de ação agora significa que o mundo poderá enfrentar uma crise em grande escala já nas próximas décadas.
“É como se as pessoas estivessem enterrando a cabeça na areia”, afirmou Geoffrey Hawtin, agrônomo britânico e também vencedor do Prêmio Mundial da Alimentação. “Se esperarmos para agir até que a crise seja iminente, estaremos em um cenário onde será impossível recuperar o controle da situação”, acrescentou ao The Guardian.
O apelo dos laureados para um esforço coletivo e global traz uma mensagem central: se a humanidade foi capaz de colocar um homem na Lua, também pode reunir recursos e colaboração internacional para garantir alimentos suficientes para todos na Terra. Na carta, afirmam que a ciência já tem o potencial para mudar o destino do planeta, mas a ação política e o investimento precisam ser acelerados agora.
Fonte: Um Só Planeta