A intensa movimentação de pessoas estrangeiras e de outras regiões do país em Belém, motivada pela Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP 30), serviu como um vetor de oportunidade para o tráfico de animais silvestres. A suspeita se confirmou com a apreensão de um bicho-preguiça que estava sendo comercializado na Região Metropolitana de Belém, levando as autoridades competentes a fazer o resgate e reabilitação do animal.
O caso foi confirmado pela professora Ana Silvia Ribeiro, coordenadora do Cetras e diretora do Hospital Veterinário da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra). Após participar de um painel de exposição na Zona Verde da COP 30, espaço aberto ao público, ela detalhou o resgate e o histórico do animal, destacando que a situação era, infelizmente, esperada pelas autoridades de proteção ambiental.
“Ontem nós fomos acionados pelo Batalhão de Polícia Ambiental que entrou em contato para perguntar se nós poderíamos receber uma preguiça”, relatou a professora.
Ao investigar o histórico do animal, a equipe descobriu que a preguiça havia sido vendida. “Eles falaram que foi um animal que foi vendido para uma pessoa que está participando da COP, uma pessoa de fora do estado”, explicou a professora.
Ação alimenta o tráfico de animais
Segundo a professora, o comprador, cuja identidade não foi revelada pelo Batalhão de Polícia durante a entrega do animal, agiu com a intenção de salvar a preguiça, comprando o animal e o entregando às autoridades. Entretanto, mesmo acreditando estar ajudando, a professora explica que a atitude tem efeitos negativos.
“Ele quis comprar a preguiça para salvar o animal. Então, ele foi abordado por um homem que estava vendendo o animal e ele comprou para ajudar, né”, afirmou a coordenadora do Cetras. “Só que isso alimenta o tráfico. Sem querer, amanhã vai ter outra preguiça”, advertiu.
O animal, uma fêmea jovem, foi prontamente atendido e avaliado. A equipe do Cetras constatou que o bicho-preguiça estava saudável e que sua retirada da natureza havia sido muito recente.
“Esse animal estava em reabilitação com a gente. Isso foi ontem, hoje ela já foi solta. A gente não vai dizer a área onde ela foi solta, porque o animal está saudável”, informou a professora. “A gente viu que o animal era uma fêmea jovem e que estava bem e que tinha acabado de ser retirado da natureza. Então, era muito recente. Então, a gente acha que ele tirou anteontem, ontem vendeu, chegou para gente e hoje a gente já soltou novamente”.
Apesar da venda de um animal silvestre parecer absurda para muitas pessoas, a professora afirma uqe a situação não surpreendeu as autoridades ambientais. “Sim, e houve até reuniões com o Ibama sobre isso, sobre o aumento que poderia haver de tentativa, considerando toda essa quantidade de pessoas que tem aqui e a oportunidade que esses traficantes têm de estar oferecendo essa fauna”, revelou.
A escolha do bicho-preguiça como alvo do tráfico não é aleatória. Oportunistas buscam espécies que são fáceis de capturar e transportar, aproveitando a proximidade da fauna silvestre com as áreas urbanas de Belém.
Além disso, a estrutura da cidade facilita o acesso aos animais. “Eles vão atrás desses animais de fácil captura, de porte pequeno que dá para deslocar, dá para sair daqui, facilmente pela estrada, pelo rio. Então, é oportunidade onde está uma fauna de fácil acesso, porque a gente tem essas preguiças na nossa área periurbana, a gente tem tudo isso”, detalhou a professora. A vegetação ao redor de Belém “favorece o acesso também deles muito rápido para capturar esses animais”.
População deve denunciar
Diante de atos de tráfico ou avistamento de animais silvestres em condições suspeitas, a professora Ana Silvia Ribeiro enfatizou a importância da colaboração do público por meio de denúncias.
“Ela precisa denunciar imediatamente. Pode ser para qualquer órgão ambiental, pode ser para Semas, pode ser para o Ibama, pode ser para o Batalhão. Tem que denunciar”, instruiu.
A população pode denunciar crimes ambientais e tentativas de tráfico de animais para a Polícia Militar Ambiental pelos telefones 190 (emergência) ou 181 (Disque Denúncia anônimo), ou ao IBAMA pelo 0800 061 8080.
Fonte: RBA na COP