Um cachorro da raça pit bull foi assassinado de forma brutal no município de Natal, no Rio Grande do Norte. Bravo, como era chamado, foi esfaqueado até a morte pelo namorado da tutora dele.
Em depoimento à polícia, a tutora, que preferiu não ser identificada, afirmou que o homem havia perdido o direito à aposentadoria por insanidade mental após a perícia descobrir que ele não sofria de problemas mentais. E, por isso, em uma tentativa cruel de tentar provar a existência do transtorno psicológico, o homem decidiu matar o cão.
Antes de ser morto, o cachorro conheceu ainda o sofrimento do abandono. Encontrado em um lixão com grave problema de pele, ele foi resgatado em fevereiro. “Fizemos exames e ele não tinha nem zoonoses, que é a leishmaniose, nem doenças infectocontagiosas, como a cinomose e a parvovirose. Os exames acusaram sarna demodécica, mas o hemograma dele estava bom. Prescrevi o tratamento e mantive contato semanal com a tutora dele. Ele foi um cão muito bem cuidado por ela”, afirmou a médica veterinária Mabele Araújo, responsável pelo tratamento médico do cachorro.
Após a tutora começar a cuidar do cão, o namorado dela, Paulo Roberto dos Santos, pediu para manter Bravo na casa dele. Ele justificou o pedido dizendo que gostava muito do animal. Entretanto, na última semana, Paulo ligou para a tutora do cachorro e disse que era para ela vir para a casa dele porque ele mataria o cão. A mulher, então, imediatamente saiu do trabalho e foi verificar a situação de Bravo, que estava vivo e brincando com Paulo e, inclusive, veio ao encontro da tutora quando a viu.
Ao perceber que a mulher havia chegado, Paulo passou a esfaquear o cachorro. Ela começou, então, a gritar em desespero e chamou a atenção dos vizinhos, que tentaram arrombar o portão para salvar o cachorro. “Mas ele se trancou dentro de casa com a faca, com o cachorro, e ninguém teve mais acesso para entrar. Então ligaram para a polícia”, contou a veterinária.
Os policiais chegaram ao local após os populares terem começado a linchar o agressor de Bravo, depois de terem conseguido entrar na casa. “Os militares acalmaram a população, colocaram o Paulo dentro da viatura e o levaram para a UPA para limpar as escoriações causadas pelo linchamento”, disse Mabele, que foi intimada a depor na delegacia para revelar como havia sido a consulta e a adoção do cachorro.
Encaminhado à Delegacia Especializada em Proteção ao Meio Ambiente, Paulo prestou depoimento e foi liberado devido ao fato do crime ser considerado de menor potencial ofensivo. No próximo dia 7 de maio será realizada uma audiência sobre o caso. De acordo com informações repassadas pelos policiais ao vereador Sandro Pimentel (PSOL), o agressor tem outras ocorrências na ficha criminal, mas nenhuma delas foi julgada.
Para se defender da acusação de maus-tratos, Paulo alegou ter esfaqueado o cachorro por ele ter o mordido. Entretanto, testemunhas que presenciaram a agressão contra Bravo afirmam que o cachorro apenas se esquivou das facadas e que o agressor não tem ferimentos causados por mordida. “Isso é mentira. Quando resgatei esse cachorro, eu aferi a arcada dentária dele, se ele tivesse no máximo dez meses era muito. Ele era filhote, não tinha instinto de atacar ninguém. Estou falando com conhecimento de causa, já tenho quase cinco anos de profissão. Esse cachorro em momento algum atacou, nem quando levou as facadas”, disse a médica veterinária.
A morte do cachorro abalou não só a tutora de Bravo, mas também a veterinária, que ao cuidar do cão, se apegou a ele. “A gente sofre com isso porque a gente passou cinco anos na faculdade, dois anos na residência, pagando especialização para fazer um trabalho bem feito e quando um absurdo desse ocorre, a gente fica realmente mal. Eu não estou bem, eu até tinha sugerido ficar com esse cachorro, falei pra ela, se você não tiver condição de ficar com ele, eu fico, porque eu moro em apartamento, mas ele poderia ficar no quintal do meu pai. Mas ela, sempre muito carinhosa, disse que queria ficar com o cachorro”, afirmou.
Mabele lembra que não culpa a tutora do cachorro pela brutalidade a qual ele foi submetido. “Eu não a culpo de nada. Ela é uma pessoa de bom coração. Vizinhos dela vieram falar comigo para pedir pra eu não ficar com raiva dela. E eu disse que não tenho porque ter raiva dela, infelizmente aconteceu”, explicou. “Eu espero que ele responda pelo crime, mas eu desacredito da penalização dele porque já houve casos piores e em nada deu”, acrescentou.
Em um vídeo, a tutora de Bravo registrou o momento em que ele era enterrado. Chorando muito, ela se despediu do cachorro. “Adeus, meu filhinho e me perdoe por não ter salvado você. Por não ter conseguido salvar você. Me perdoe. Mas eu vou fazer de tudo pra fazer justiça. Eu vou fazer de tudo que for preciso. Você não vai ficar impune não, meu filho. Eu prometo, até meu ultimo dia de vida. Adeus, meu filho, adeus”, disse.