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TRÁFICO DE ANIMAIS

Criado em cativeiro, macaco-prego-do-papo-amarelo se reabilita para voltar à natureza

Ameaçado de extinção, macaco era mantido em gaiola e se alimentava de comida humana no MS. Animal foi entregue a Centro de Reabilitação e já se habitua a companheiros da mesma espécie

11 de janeiro de 2023
3 min. de leitura
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Foto: CRAS

Resgatado na semana do ano novo no interior de Amambai (MS), um macaco-prego-do-papo-amarelo (Sapajus cay) que passou a maior parte da vida em cativeiro está mais perto de voltar para a natureza. O animal foi recebido no Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS) de Campo Grande (MS) na última sexta-feira (6), onde agora se habitua com outros macacos da mesma espécie para, finalmente, poder voltar ao seu habitat.

O macaco foi resgatado pela Polícia Militar Ambiental (PMA) após denúncia que informava que um homem mantinha o animal em cativeiro, em uma chácara. Os agentes, então, foram até a propriedade no dia 29 de dezembro, onde confirmaram que se tratava de um macaco-prego-do-papo-amarelo (Sapajus cay), primata listado como Vulnerável tanto na lista vermelha de espécies ameaçadas da União Internacional da Conservação da Natureza (IUCN, da sigla em inglês) quanto na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção.

À instituição policial, o homem confirmou que mantinha o macaco sob sua posse desde que ele era filhote. “O animal ficava com uma corda no pescoço e podia andar dentro dos limites da residência”, conta a ((o))eco o segundo sargento da PMA de Amambai, Aparecido dos Santos, que atendeu a ocorrência.

Por conta do crime ambiental de criação ilegal de animal silvestre, inicialmente ele foi autuado e multado em R$ 500. “O autuado também responderá pelo crime ambiental, cuja pena prevista é de seis meses a um ano de detenção”, diz nota publicada pela PMA em dezembro. Ainda conforme a instituição policial, o valor da multa pode aumentar para até R$ 5 mil por se tratar de uma espécie que está ameaçada de extinção.

“No local, o animal foi encontrado dentro de uma gaiola de metal de aproximadamente um metro quadrado. O animal estava magro, com pelo e coloração opaca, muito sujo”, relembra Santos.

Depois do resgate, o macaco ficou no quartel da PMA de Amambai até a última sexta, quando foi transferido para o Cras de Campo Grande, que constatou que se tratava de um indivíduo adulto. A ((o))eco, a médica veterinária que recebeu o animal conta que o mamífero se alimentava inadequadamente. “Comia comida humana, totalmente errado”, diz Jordana Toqueto, ao enfatizar que a dieta ideal da espécie é composta de frutas, ovos e carne crua.

“Essas alimentações com tempero fazem mal para qualquer espécie, é inadequado”, acrescenta a profissional. Um dos impactos negativos dessa alimentação inadequada, diz ela, são lesões no fígado e nos rins. Conforme atesta exame físico, porém, o animal está ativo, em bom estado clínico e sem qualquer lesão. “Ele é manso, devido a criação em cativeiro”, comenta Toqueto.

Nesta segunda-feira (9), após ter cumprido uma quarentena solitária sob observação, o mamífero foi transferido para um recinto com mais dois macacos da sua espécie – recebidos pela instituição ainda filhotes e que agora são jovens. O objetivo é habituar o macaco e atestar que não haverá problemas de convívio. “Com o tempo, formarão um bando e após avaliações para verificar se estão aptos, os mesmos poderão ser soltos em seu habitat natural”, afirma a médica veterinária.

O processo pode levar cerca de um ano, mas pode ser concluído antes, a depender do desempenho da reabilitação do mamífero.

Impactos da caça

A captura de macacos-prego-de-papo-amarelo ainda filhotes, para serem criados como animais de estimação, é um problema sério para a espécie. “Isso implica diretamente na sua vida, criando hábitos que não são da espécie, a acostumando com a presença humana, o que é grave”, enfatiza a médica veterinária.

Quando são retirados da natureza e ficam órfãos dos pais, os macacos perdem o aprendizado que teriam sobre comportamento, alimentação e interação com outros animais. “Além da diminuição populacional implica também na genética da população”, acrescenta Toqueto.

Somada à ameaça à sobrevivência, provocada pela caça e captura viva da espécie para o comércio de animais de estimação, a médica veterinária também alerta para o risco biológico: “O contato de um animal silvestre com o homem e animais domésticos podem acarretar em doenças para ambas espécies”, conclui.

Fonte: O Eco

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