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Crescimento urbano e ignorância ameaçam sobrevivência de gambás

4 de setembro de 2020
7 min. de leitura
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Foto: Reprodução/ facebook/ Iluska Magalhães

O conflito entre humanos e animais silvestres é uma das principais ameaças à sobrevivência de muitas espécies em diversas partes do mundo. Esse é o caso dos gambás, tanto o gambá-de-orelha-branca (Didelphis albiventris) tanto o gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita), espécies silvestres mais presentes em ambientes urbanos. Infelizmente, esses animais são por muitas vezes considerado indesejados pelos moradores das cidades.

A compreensão dos fatores geradores dessas batalhas é indispensável para o desenvolvimento de estratégias para permitir a conservação de espécies silvestres. A maioria dos estudos de conflitos entre humanos e animais silvestres se concentra nas áreas florestais, rurais e periurbanas, enquanto o embate nos espaços urbanos é menos estudado.

Crescimento urbano e desrespeito humano ameaçam sobrevivência de espécies de gambás no Brasil
Foto: Arquivo Pessoal/ Iluska magalhães

Para a agente de viagens Cristiane Sanae Shiosawa, 39 anos, que atua como ativista da causa animal há mais de dois anos e umas das organizadoras do grupo Gambás Brasileiros Opossums & Zarigueyas, grupo criado há 5 anos com o intuito de ajudar as pessoas no cuidado e resgate das espécies de gambás, um dos grandes problemas é a ignorância e a desinformação sobre esse tipo de espécie de animal silvestre.

“As pessoas precisam conhecer mais a espécie, e acabar com esse prejulgamento que os gambás são ofensivos, na verdade os gambás que vivem no Brasil são inofensivos a nós seres humanos, somente exalam um cheiro forte quando se sentem ameaçado”, disse a ativista animal em entrevista à ANDA.

O gambá-de-orelha-branca (Didelphis Albiventris) é o maior representante da ordem (Didelphimorfhia) ocorrente no Brasil, sendo um marsupial de tamanho mediano, com orelhas brancas, corpo preto, nariz longo e cauda sem pelos. É uma das espécies marsupiais mais comuns da América Latina, sendo também uma das mais bem-sucedidas devido à sua capacidade de sobreviver em muitos tipos de habitats, incluindo ambientes impactados, como os urbanos. Animais marsupiais, ou mamíferos de bolsa, são aqueles que têm a presença de um a bolsa materna (marsúpio) ventral ou posterior, onde os filhotes completam o seu desenvolvimento.

Já o gambá-de-orelha-preta (Didelphis aurita) é uma espécie de gamba que habita no Brasil, Argentina e Paraguai. Esses animais podem atingir 60 a 90 centímetros de comprimento e pesar até 1,6 quilos, alimenta-se praticamente de tudo o que encontra: insetos, larvas,frutas, pequenos roedores, ovos, cobras e escorpiões. E apresenta duas camadas de pelos, uma interna como uma espécie de lanugem de coloração ferrugínea e outra externa de pelos longos de cor cinza ou preta.

No Brasil, muitas pessoas erroneamente acreditam que os gambás da família (Dibelphidae) têm a mesma habilidade que os cangambás da família (Mephitidae) de pulverizar um odor pungente quando atacado ou perturbado. A origem desse equívoco pode estar no fato que, em português, o nome genérico para gambás e cangambás é o mesmo (gambá) e o mito de pulverização de mau cheiro foi reforçado no Brasil por causa dos desenhos animados.

“Esse prejulgamento vem daqueles filmes onde o gambá tem um forte cheiro, mas essa espécie de gambás que mostram nos filmes na verdade são os cangambás, eles têm sim o odor muito forte, e são originalmente criados na América Central e na América do Norte. Além de que os gambás são confundidos com as ratazanas aqui no nosso país”, ressaltou Sanae.

Crescimento urbano e desrespeito humano ameaçam sobrevivência de espécies de gambás no Brasil
Foto: Reprodução/Pixabay

Os gambás são amplamente distribuídos no Brasil e desempenham um papel ecológico importante na dispersão de sementes. Em habitats como as florestas urbanas, onde a regeneração florestal é especialmente necessária, a espécie pode desempenhar uma importante função no processo de reflorestamento, devido a dispersão das sementes. Podendo também transportar sementes para os fragmentos florestais urbanos.

Mas, com o crescimento dos centros-urbanos e o crescente índice de desmatamento essa espécie vem se aproximando cada vez mais das áreas urbanas e adquirindo hábitos sinantrópicos. Espécies sinantrópicas são aquelas que colonizam habitações humanas e seus arredores retirando vantagens em matéria de abrigo, acesso a alimentos e a água, adaptando-se a essas condições independentemente da vontade do homem.

“A alimentação nas matas está cada vez mais escassa e os gambás procuram alimentos onde é mais fácil, nas casas, nas lixeiras, um ponto a ser observado é que as pessoas não deixem ração para cachorros expostas à noite, pois, eles vão pelo cheiro e isso acaba por muitas vezes ocasionando ataques de cães aos gambás”, destacou a ativista.

Outro ponto levantando pela protetora é que quando as pessoas forem alimentar os filhotes de gambás, deixem os alimentos em lugares seguros, como muros, para evitar os ataques dos animais domésticos ou maus-tratos. Além da preocupação com os atropelamentos.

“Muitos são mortos atropelados, como as fêmeas estão sempre carregadas de filhotes elas ficam mais lentas, é aí que o índice de atropelamento aumenta. É importante se encontra algum morto é sempre bom olhar no marsúpio dela (bolsa) que pode ter filhotes vivos ainda”, lembrou.

“O que falta nas estradas é corredores ecológicos, aqui onde eu moro tem uma reserva ambiental que é a segunda maior mata urbana do Brasil e tem vários acidentes com os animais silvestres que acabam sendo atropelados”, acrescentou Cristiane.

Ecossistema

Para a bióloga Mariana Hara, 24 anos, que também atua como uma das organizadoras do grupo Gambás Brasileiros Opossums & Zarigueyas, os gambás são importantes para o ecossistema, pois são controladores da população de animais peçonhentos e outros invertebrados nos ambientes urbanos. Além disso por se alimentarem de frutos também auxiliam na dispersão de sementes, o que é especialmente importante nos ambientes urbanos na preservação das áreas verdes que estão cada vez menores.

Foto: Arquivo Pessoal/ Iluska Magalhães

Outro ponto ressaltado pela bióloga é que os gambás não são transmissores de doença. “Os gambás são imunes a várias doenças, inclusive a raiva, eles não representam nenhum perigo real de transmissão de zoonoses para os humanos”, declarou a bióloga.

“A taxa de transmissão de zoonoses de gambás para humanos é quase nula em todos os países que eles existem”, acrescentou.

Engajamento

Para Cristiane Sanae, ainda estamos muito longe na questão da proteção e reabilitação de animais silvestres. “A gente vem lutando muito com isso, nem todas as cidades há um órgão para receber filhotes de gambás e gambás adultos, sempre recomendamos a levarem no Centro de Triagem de Animais Silvestres (CETAS), mas na época de reprodução quase todos os centros de reabilitação estão quase todos lotados de animais e não tem gente para cuidar”, ressaltou a protetora.

O grupo Gambás Brasileiros Opossums & Zarigueyas nasceu em 2015, após a ativista de causa animal Iluska Magalhães, 65 anos, que após encontrar um filhote de gambá decidiu criar um grupo de proteção e resgate de gambás aqui no Brasil.

“Criei esse grupo em 2015, com o intuito de orientar as pessoas que resgatam os gambás. Aqui no Brasil, os centros de reabilitações eles simplesmente não tem funcionários que fiquem com os neonatos (recém-nascidos). Os gambás são marsupiais é nascem com embriões e migram para os marsúpios ( bolsa na barriga das gambás) então eles vão muito incompleto e por muitas vezes as mães são mortas quando eles estão em um estagio imaturo de desenvolvimento, então eles precisam de muitos cuidados e atenção, e esse é o nosso objetivo orientar as pessoas como agir no momento do cuidado dos gambás na fase adulta ou na fase recém-nascidos”, esclarece a ativista.

Foto: Arquivo Pessoal/ Iluska Magalhães

Quem quiser conhecer um pouco mais do trabalho do grupo, e saber um pouco mais da espécie dos gambá, pode acessar a página do grupo no Facebook.


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