Por Monika Schorr (da Redação)
Recentemente, ao olhar a vitrine de uma livraria, um volume sobre a crueldade no Império Romano chamou minha atenção. Vocês se lembram da Roma Antiga, não é mesmo? Cristãos jogados aos leões famintos, genocídio de seres humanos e tantas outras atrocidades. O livro levou-me a refletir sobre o quanto, realmente, evoluímos como espécie.
Nos tempos bíblicos, a “limpeza étnica” era comum, assim como uma imensidade de crueldades que hoje são vistas com repugnância pela maior parte das sociedades civilizadas. Infelizmente, a tirania dos humanos contra os de sua própria espécie ainda não foi erradicada. Testemunhamos as 93 mil mortes na Síria, sob o regime do presidente Bashar al-Assad, assim como o tráfico de pessoas em todo o mundo. Apesar disso, estamos avançando, adquirindo uma maior consciência sobre direitos humanos e de como defendê-los.
Infelizmente, a noção de direitos humanos ainda não se ampliou a ponto de incluir nossos amigos animais. De modo geral, animais não humanos ainda são vistos como “irracionais”, “inferiores”, destituídos de consciência, “máquinas sem alma”, sem sentimentos, emoções ou sensibilidade, com os quais os humanos podem fazer o que lhes aprouver, submetendo-os a todos os tipos de experiências e torturas, matando-os e utilizando-os como alimento. No entanto, parece que estamos chegando a um importante momento de mudança no campo da experimentação animal.
A agência federal dos Estados Unidos de preservação da vida selvagem e seu habitat, U.S. Fish and Wildlife Service, estabeleceu regulamentos mais rígidos para controlar experiências médicas com chimpanzés e com os animais tidos como domésticos. Defensores de animais consideram este fato como resultado do posicionamento dos americanos, especialmente os jovens, contra a experimentação animal.
“Está havendo uma mudança significativa na maneira de se avaliar se é preciso ou não usar chimpanzés em pesquisas, questionando não só a real necessidade científica desses experimentos, mas também sua retidão ética”, declarou Theodora Capaldo, presidente da New England Anti-Vivisection Society, organização dedicada a banir todo tipo de experimentação animal, ao jornal do Congresso dos Estados Unidos, The Hill. “Temos visto algumas das mais proeminentes instituições científicas americanas debatendo-se com esta questão e todas as evidências parecem indicar o fim da exploração de chimpanzés em pesquisas biomédicas invasivas”.
Parece que um “tsunami” atingiu a opinião pública, que agora se volta de maneira contundente contra a “indústria da vivissecção e da experimentação animal”. Numa recente pesquisa, o Instituto Gallup entrevistou americanos sobre uma série de questões morais.
Aproximadamente 60% das pessoas com mais de 35 anos disseram que consideram experiências com animais moralmente aceitáveis. Apenas 47% das pessoas com idade entre 18 e 34 anos consideraram testes com animais aceitáveis. Desde 2001, a aceitação moral desta prática teve uma queda de 19% dentro desta última faixa etária, o que leva à conclusão de que os jovens americanos estão reavaliando os valores morais das gerações anteriores.
Submeter animais a experiências de laboratório é extremamente cruel e, além disso, é ineficaz e, também, um enorme desperdício de dinheiro. Apesar de os chimpanzés serem os mais próximos parentes dos humanos, com os quais compartilham 99% do DNA, eles são totalmente inadequados para a pesquisa biomédica.
De acordo com o web site das séries da “Nature” da PBS (rede de TV americana), quando eclodiu a divulgação da epidemia da AIDS e do vírus HIV, na década de 80, houve uma procriação intensiva de chimpanzés para servir de “objetos” de pesquisa, mas descobriu-se que eles eram um modelo errado de estudo porque nunca desenvolveram as características da AIDS humana.
A Nature também relata que “chimpanzés infectados com o vírus da Hepatite B não adoecem, enquanto que humanos desenvolvem os sintomas clássicos da doença hepática. De forma análoga, quando infectados com o vírus da Hepatite C, os chimpanzés não desenvolvem cirrose ou câncer de fígado, enquanto que os humanos são acometidos por estas patologias. Comprovadamente, 70% das drogas testadas em primatas e que se revelaram seguras para eles, são conhecidas por serem altamente nocivas para os fetos humanos”.
Caso encerrado. Será preciso analisar muito, para inferir que, se animais que compartilham quase todo o DNA conosco são modelos biológicos insuficientes e inadequados que levam as pesquisas a apresentar resultados falseados e potencialmente perigosos para os humanos, por que diabos estão testando drogas em camundongos e ratos?
Experiências com animais são tão Império Romano… precisamos ir em frente.
*Texto original publicado em inglês, esta semana, no Courier Press