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DESMATAMENTO

Cresce o número de resgates de bichos-preguiça em áreas urbanas do DF

Os animais têm sido encontrados fora do habitat natural e especialistas apontam o desmatamento como principal causa

24 de maio de 2025
Carliane Gomes
4 min. de leitura
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Foto: PMDF/ Divulgação

Neste ano, tem sido cada vez mais comum encontrar bichos-preguiça em áreas urbanas do Distrito Federal, levantando alertas entre ambientalistas e órgãos de proteção animal. Dados do Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA) apontam cinco ocorrências somente neste ano, contra apenas uma em todo o ano passado.

De acordo com a Polícia Ambiental do Distrito Federal, as regiões com maior número de ocorrências são Núcleo Bandeirante, Lago Sul e Park Way, áreas próximas a fragmentos de vegetação nativa e corredores ecológicos. “Essas áreas têm sido palco frequente de encontros entre a fauna silvestre e o meio urbano”, informou o batalhão.

A Polícia Ambiental explica que os resgates são realizados por equipes especializadas, acionadas via 190. “A captura é feita com o uso de equipamentos adequados, como luvas, redes e caixas de transporte, sempre por profissionais treinados em manejo de fauna silvestre”. Após a avaliação de saúde, os animais são encaminhados ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas/Ibama), onde pode ser determinada a soltura ou permanência em cativeiro, a depender das condições do animal.

O Hospital de Fauna Silvestre (HFAUS), vinculado ao Instituto Brasília Ambiental, também registrou dois atendimentos desde o início de seu funcionamento, em fevereiro de 2024. “Uma preguiça foi capturada próximo ao aeroporto (RA Lago Sul), em junho de 2024, e a outra na Epia Sul, próximo à estação do BRT (RA Brasília), em maio de 2025”, informou a assessoria da instituição.

Além disso, aponta que, o aumento no aparecimento de bichos-preguiça em áreas urbanas está diretamente relacionado ao avanço das cidades sobre as áreas de proteção ambiental. A instituição explica que perturbações nesses habitats naturais, como desmatamento e ocupações irregulares, forçam os animais a abandonarem o ambiente onde vivem em busca de segurança ou alimento, o que acaba os expondo aos riscos do meio urbano.

Segundo o HFAUS, os animais chegam, muitas vezes, com ferimentos musculares e ósseos. “O estresse devido a toda a mudança de habitat, assim como do transporte de manipulação para a análise clínica, são fatores que não conseguimos extrair com eficiência do processo de tratamento e recuperação”, destacou a equipe.

No Zoológico de Brasília, um único caso foi registrado desde de 2023. “O animal foi encontrado por um motorista próximo à Estrada Parque Aeroporto, em dezembro de 2024. Após exames no Hospital Veterinário, foi solto no Santuário de Vida Silvestre do Riacho Fundo em novembro de 2025, com autorização do Ibama”, informou a instituição.

Para a professora Clarisse Rezende Rocha, do Instituto Federal de Brasília (IFB), o deslocamento da espécie para o ambiente urbano está ligado a fatores como fragmentação do habitat, busca por alimento, reprodução e aumento da densidade populacional. “Esta preguiça tem alta dependência de estruturas arbóreas e fica vulnerável quando essas estruturas são suprimidas”, afirmou.

Clarisse ainda destaca que a espécie Bradypus variegatus, conhecida como preguiça-de-coleira, é mais comum na Amazônia e Mata Atlântica, mas vem sendo registrada no Cerrado, embora de forma atípica. “A presença destas preguiças pode estar relacionada a movimentos de dispersão de populações nativas ou de populações oriundas de introduções acidentais ou intencionais. Além disso, por ter uma área de vida reduzida, as preguiças não necessitam de grandes extensões para sobreviver, o que facilita seu estabelecimento em pequenos fragmentos de vegetação”, explicou.

A bióloga ainda destaca que os riscos para os animais em áreas urbanas são diversos, como atropelamentos, choques em fios de alta tensão, predação por cães, desnutrição e alto estresse fisiológico estão entre os principais acidentes que essa espécie é exposta. Para a população, o risco é menor, mas ainda existe. “As preguiças podem reagir com arranhões se se sentirem ameaçadas. Portanto, o ideal é observar à distância e acionar os órgãos competentes”, completou.

A recomendação das autoridades ao avistar um bicho-preguiça no ambiente urbano é jamais tentar tocá-lo ou capturá-lo. A recomendação é manter distância e acionar o Batalhão Ambiental pelo telefone 190. Apesar de serem animais típicos da região central do país, Clarisse destaca a importância de ações locais.

“Ela sofre ameaças locais, com populações fragmentadas e em declínio, como no bioma Mata Atlântica, onde a cobertura florestal remanescente é inferior a 25%. No caso específico do Distrito Federal, é crucial investigar a origem desses indivíduos, pois não está claro se são nativos, oriundos de introduções e não se tem informação sobre o tamanho da população desta espécie aqui na região”, explicou. Como ações locais podem e devem ser realizadas: identificação precisa da espécie e dos indivíduos resgatados, determinação do sexo, idade e análises genéticas; monitoramento populacional com marcação e rastreamento; planejamento da região de soltura após captura destes animais e avaliação de possíveis medidas de manejo”.

Fonte: Jornal de Brasília 

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