No estado que tem o maior rebanho bovino, com 27 milhões de cabeças de gado, e aparece entre os grandes consumidores de carnes vermelhas, cada dia é mais comum ouvir relatos de pessoas que excluíram do cardápio, parcial ou integralmente, as carnes e seus derivados.
Também, medindo pelas iniciativas e número de empresas voltadas aos vegetarianos, pode-se concluir que mesmo crescente ainda é um público pequeno. Na Grande Cuiabá, onde vivem pouco mais de 800 mil pessoas, existe apenas um restaurante dedicado exclusivamente aos adeptos dos vegetais.
Vegetariana há 20 anos e dona do único restaurante do segmento em Cuiabá (Ki-Nutre), Zenir de Moura Miranda observa que em Brasília (DF) existem mais de 35. Zenir, que se instalou aqui nesse ramo há sete anos, diz que há um ano percebe um crescimento considerável no número de adeptos dessa dieta.
O engenheiro civil Fernando Rangel tornou-se adepto há três anos. Ele disse que ainda não se considera um vegetariano restrito, aquele que não consome carnes ou qualquer derivado animal. “Posso me considerar 80% vegetariano”, avalia. Desde que aboliu as carnes do prato, garante Rangel, seu organismo passou a funcionar melhor.
Descendente de gaúchos, de uma família em que o churrasco e os pratos à base de carnes são habituais, o professor Luis Roberto dos Anjos Alves, 45 anos, conta que está tentando deixar de consumir proteína animal.
“Sinto essa necessidade, a carne não é mais bem-vinda à minha mesa, já não tem o mesmo sabor que meu paladar e olhos apreciavam, mas não está sendo fácil”, reclama, observando que sua mulher, Ana Maria, e a filha, Letícia, não gostaram da ideia. A expectativa dele é que em um ano tenha abandonado por completo todos os tipos de carnes.
A família do pastor adventista Ricardo Ferrer é ovolactovegetariana, ou seja, consome ovos, derivados do leite e vegetais. As filhas dele, Priscila, de 14 anos, e Nicole, de 7, nunca consumiram qualquer espécie de carne. Vegetariano há 25 anos, Ferrer convenceu a esposa Del-Der Ker, na época em que ainda namoravam, a aderir à sua filosofia de vida.
Ferrer diz que em casa todos gozam de boa saúde e ninguém sente falta da carne no cardápio. Ele, como viaja muito e vai para muitas cidades nas quais não há restaurante vegetariano, acaba sendo obrigado a fazer as refeições em churrascarias, locais em que dispõe de farto buffet de vegetais.
Aos 42 anos, Ferrer diz que no lazer com os amigos, especialmente nas partidas semanais de futebol, nota que sua condição física supera a de muitos jovens.
O Restaurante Ki-Nutre, que fica na rua Cândido Mariano, no Centro, recebe entre 150 e 200 consumidores diariamente.
Ver animal sendo abatido foi motivo para professora da UFMT
Ainda na adolescente, a professora de Geografia Humana da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Sônia Romacini, 49 anos, começou a rejeitar carnes. Desde aquela época, Sônia não conseguia aceitar que animais, seres com vida, fossem sacrificados para alimentar o homem.
Pela ideologia da professora, o homem não tem esse domínio sobre os outros seres vivos. “Temos muitas opções de alimentos”, protesta. A partir dos 20 anos, conta Sônia, foi retirando as carnes do cardápio até, mais recentemente, deixar de consumir inclusive ovos, leite e derivados.
A professora universitária lembra que certa vez esteve em um frigorífico com um grupo de alunos para um trabalho em campo. Saiu chocada do ambiente e ainda hoje tem viva em sua memória a imagem do a animal abatido, cujo corpo ainda estremecia. “Acho que devemos ter compaixão com animais”.
Na família dela, oriunda do Sul do país, a carne continua sendo um dos principais itens do cardápio. Entretanto, a decisão dela é respeitada por todos, apesar de não ter encontrado seguidores. Até sua netinha, que tem menos de 2 anos, pede pela carne quando faz as refeições na companhia da avó.
Fonte: Diário de Cuiabá