O Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres) está com uma superpopulação de onças-pardas. “Nós temos oito destes felinos e estamos no nosso limite”, revela Élson Borges dos Santos, biólogo da instituição.
Atualmente o Cras aloja uma fêmea e sete machos. “No ano passado chegou um filhote. Se chegar alguma outra onça aqui, não tem como abrigá-la”, revela, lembrando que a temporada em que são encontradas ainda não chegou, que é entre setembro e novembro, tempo de procriação.
Santos explica que todas as onças chegaram ao Cras quando ainda eram filhotes. “A maioria delas são vítimas das queimadas nos canaviais. A mãe foge do fogo e deixa os filhos para trás, que depois são encontrados, muitas das vezes com sérios ferimentos, como a fêmea que nos temos aqui”.
As onças pardas, dos grandes felinos encontrados no Brasil, são as que mais facilmente se adaptam ao meio criado pelo homem. Em Mato Grosso do Sul não são raras as aparições destes carnívoros, em especial na região sul do Estado, onde encontram nos canaviais um lugar perfeito para viver.
Porém, tal adaptabilidade tem um custo que hoje é percebido no Cras.
Comportamento
Segundo o biólogo, por ser mais curiosa do que a onça pintada e se alimentar de pequenos animais, sem a mata as pardas adotam os canaviais como morada. “Lá elas podem encontrar ratos, pombos, tatus e lagartos que fazem parte de sua dieta”, explica.
A aproximação se explica pelo avanço da cultura de cana-de-açúcar no Estado, com desmatamentode grandes áreas.
“Como este felinos chegaram aqui quando ainda eram filhotes, eles não podem ser reintroduzidos na natureza, seria perigoso para eles e para a população, já que estes animais aqui são acostumados com a presença humana. Uma opção é enviá-los para zoológicos, mas a última vez que isso aconteceu foi em 2007”.
Sem zoológicos para enviar as onças, a opção que resta é que algum criador particular se interesse por ter um destes felinos, o que já pode ser feito. Uma portaria do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) criou a figura do “mantenedor da guarda de animal silvestre”.
“Para isso o interessado tem de fazer o pedido ao Ibama, que vai passar as especificações do recinto onde o animal vai viver e, depois de uma vistoria, autoriza sua retirada”, explica. Mas ele lembra que uma onça consome dois quilos de carne diariamente e necessita de um alojamento de, no mínimo, 70 metros quadrados.
Santos disse que até hoje ninguém se interessou em criar um dos felinos que há no Cras, porém ele calcula que em breve empresas ligadas ao turismo, especialmente hotéis-fazendas devem procurá-los.
“Muitas vezes o turista chega à fazenda, passa uma semana esperando ver uma onça e sai frustrado”, justifica.
O biólogo imagina que os animais que hoje estão no Centro terão uma vida muito melhor em um cativeiro particular.
Fonte: Campo Grande News