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TUTORES DEVASTADOS

CPI: clínica veterinária de onde cadela Nala fugiu funcionava sem licença em Cariacica (ES)

14 de dezembro de 2023
5 min. de leitura
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Foto: Arquivo pessoal

A clínica veterinária em Cariacica de onde a cadela Nala, sem raça definida, fugiu e posteriormente morreu atropelada em Campo Grande, funcionava sem licença. A informação é da gerente de Bem-Estar Animal do município, Renata Bessa.

A informação foi divulgada durante Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instaurada na Assembleia Legislativa do Espírito Santo, presidida pela deputada estadual Janete de Sá na noite dessa segunda-feira (11).

Segundo a gerente, o estabelecimento funcionava já há três anos sem licença ambiental para funcionamento.

“Na nossa Ouvidoria 162 não chegou nenhuma denúncia desde o fato ocorrido. A gente acionou a Secretaria de Meio Ambiente, um dos fiscais foi até a clínica veterinária. Eles não têm licença. Não têm licença ambiental para funcionamento. São três anos de funcionamento desta unidade sem licença”, relatou Bessa.

Os alvarás de funcionamento precisam ser emitidos pela Secretaria de Direitos Humanos e pela Vigilância Civil, uma vez que o estabelecimento conta com salas de cirurgia e internação de animais, o que pode ser um causador de infecções.

De acordo com a deputada Janete de Sá, a falta da licença configuraria trabalho clandestino por parte da clínica e cobrou que fiscais da Secretaria de Meio Ambiente do município e da Vigilância Sanitária expliquem o funcionamento do estabelecimento sem a devida fiscalização.

“É uma clínica clandestina, está funcionando clandestinamente. Precisa ver se não estava sonegando. Tudo isso corrobora com este tipo de situação, porque mostra o descaso”, afirmou a deputada.

Investigação não aponta maus-tratos

Durante a CPI foram mostradas imagens das câmeras de vigilância do estabelecimento, em que o momento da fuga da cadela é mostrado.

Para o titular da Delegacia Especializada da Defesa do Consumidor (Decon) Eduardo Passamani, o fato de as portas não terem travas demonstra negligência por parte da clínica.

O delegado acompanhou a sessão por se tratar também da investigação de um acordo comercial feito entre as tutoras de Nala e a clínica veterinária, portanto, o ocorrido deve ser investigado pela Decon.

Passamani, no entanto, relata que as investigações preliminares não apontam maus-tratos por parte da veterinária que atendeu Nala.

“Posso adiantar que não vemos ainda indícios de maus-tratos, porque maus-tratos envolve dolo, e esse dolo não está aparente”.

Tutoras estiveram presentes

As tutoras de Nala estiveram presentes na CPI e uma delas, Sâmela de Andrade Selestrino, prestou depoimento à deputada e demais presentes no local.

De acordo com ela, Nala, de 2 anos, e Madalena de 3 meses, foram internadas na clínica logo após terem comido um pouco de chocolate, que teriam pego em cima de uma mesa.

Ela e uma amiga levaram as cadelas até a clínica em que costumavam ir, mas como era sábado, o estabelecimento já estava fechado, foi quando decidiram levar os animais até a clínica onde tudo ocorreu. Foi pago o valor de R$ 580 relativo a cada internação e exame.

“Chegando no local fomos recebidas pela própria veterinária que estava na recepção, e contei os relatos para ela, ela levou a gente para a sala de consulta, ela examinou as duas, deu carvão para elas e disse que elas deveriam ficar lá com soro, internada em observação, perguntei se não tinha que fazer lavagem, por causa de alimento tóxico e ela disse que não porque estavam bem e que elas tinham que ficar com ela. Ela preencheu os dados, eu ajudei ela a dar o soro, coloquei na maca junto com a veterinária, levei elas até à gradezinha, tirei as fotos delas”, relatou.

Elas ficaram no local até 19h30, quando voltaram para casa. Ela entrou em contato com a veterinária por volta de 21h33, sem resposta. Depois, às 21h58 um novo contato, neste momento, a profissional teria dito que tudo estava normal com as cadelas, apenas pediu a ela o endereço da casa onde mora.

Ela disse ter estranhado a postura da veterinária, mas que não pensou nada a respeito, até receber uma ligação desesperada da profissional por volta de 22h14.

“Por volta de 22h14, recebo uma ligação da veterinária chorando, que precisava da gente na clínica urgente, que a Nala havia fugido e precisava da nossa ajuda para achá-la. Nossa casa fica bem perto, a gente chegou bem rápido. Ela estava sozinha na clínica chorando e eu perguntei o que tinha acontecido e ela disse que tinha muita coisa para fazer, que a clínica estava cheia, que ela tinha trocado o soro da Nala e ela tinha deixado ela em uma salinha. Foi quando ela fugiu”.

A profissional informou que uma equipe de busca havia sido formada no consultório e que diversas pessoas procuravam por Nala na rua, mas até o momento sem notícias.

Sâmela e Mayara, tutoras da cadela, então, decidiram levar Madalena, que ainda estava internada, de volta para casa, por volta de 1h.

Um novo contato entre clínica e tutoras aconteceu somente na parte a manhã, quando pediram fotos da cadela para mostrar a moradores das redondezas, chegaram até a oferecer uma recompensa para quem a encontrasse.

Foi ainda pela manhã que Mayara saiu à procura da cadela e a encontrou morta em meio à BR, ela reconheceu o animal por conta de uma coleira azul que ela trazia no pescoço.

Sâmela relata que pediu ajuda aos funcionários da clínica para recolher o corpo da cadela. O pedido foi negado, pois alegaram uma troca de plantão que aconteceria em 15 minutos.

As tutoras então resgataram o corpo da cadela e o levaram até a clínica para cobrarem explicações sobre a fuga e morte do animal.

Ali, um homem, que se identificou como policial militar, apareceu armado e disse não querer confusões no local e que as tutoras deveriam ir embora da clínica. Que tudo seria resolvido mais tarde e reembolsos seriam efetuados.

De acordo com a tutora, a clínica não entrou mais em contato com nenhuma delas para resolver a situação.

Representantes da clínica não compareceram

Os proprietários da clínica não compareceram à CPI e por meio de ofício afirmaram que imagens das câmeras foram entregues à comissão e Polícia Civil no dia 6 de dezembro.

Os proprietários também informaram que a convocação foi confusa, uma vez que não especificava se seriam ouvidos como testemunhas ou acusados.

Por meio de ofício enviado à CPI, o Conselho Regional de Medicina Veterinária informou que a clínica não foi alvo de denúncias antes do caso ocorrido na última semana.

Fonte: Folha Vitória

 

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