Na segunda-feira (6), o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), Fernando Spilki, concedeu uma entrevista ao programa Salão Verde, da Rádio Câmara, explicando como a degradação do meio ambiente tem influenciado a propagação do coronavírus e de outros vírus.
Clara relação com o impacto ambiental
Spilki deixou claro que é preciso repensar a relação com o planeta, já que o meio ambiente é um definidor de como teremos doenças emergentes. “Pelo menos 60% das doenças que surgem, nós vemos uma clara relação com o impacto ambiental”, defendeu e lembrou que 80% das doenças que atingem seres humanos já circularam em animais.
O presidente da entidade que reúne profissionais da saúde e cientistas de diversas áreas sustenta que o novo coronavírus surgiu como consequência da degradação do habitat de animais silvestres e da diminuição de espaços para as espécies.
Fernando Spilki explicou que cada vez mais têm surgido vírus em decorrência de uma aproximação e intervenção no estilo de vida dos animais. A partir de alguma espécie que é uma hospedeira natural ou de uma segunda espécie que também recebeu o vírus, as doenças zoonóticas estão chegando com muito mais facilidade aos seres humanos.
Atividades pecuárias e caça
“Destruindo habitats, fazemos com que essas espécies selvagens não tenham uma circulação adequada pra viver e assim fazemos com que hajam surtos, transmissão de surtos e amplificação de vírus na natureza. Em momentos de caça, consumo [de animais] e utilização de animais como de estimação ou exibição, ficamos expostos a esses agentes.”
O presidente da SBV, que é professor da Feevale, do Rio Grande do Sul, e tem doutorado em genética e biologia molecular e atua nas áreas de virologia animal e ambiental, aponta que uma intensificação das atividades pecuárias atingindo o habitat dos animais favorece esse cenário. A caça também é apontada como outro fator de influência pela intervenção humana na natureza.
“Expansão desenfreada de fronteira agrícola, mineração e acúmulo de pessoas em áreas de conservação são determinantes para a introdução de novos vírus”, acrescenta.
Fenômenos locais e globais têm influência
Fernando Spilki conclui que as mudanças climáticas também são um fator de contribuição à disseminação do vírus, já que promovem alterações no regime hídrico de chuvas e aumentam as temperaturas médias anuais. “Fenômenos locais e globais têm influência [na disseminação do coronavírus].”
Ele cita ainda que o que facilita maior circulação do vírus, como registrado até agora principalmente nos Estados Unidos e em alguns países da Europa e da Ásia, é um fenômeno de origem antrópica, que são as viagens internacionais.
“Hoje se viaja muito. São três bilhões de passageiros ao ano, e esses países têm conexões muito frequentes e numerosas – Europa, Ásia e EUA – o que espalha rapidamente uma pandemia como essa.”