Intrigados pelo comportamento dos corvos-americanos (‘Corvus brachyrhynchos’) em seu campus em Seattle, cientistas da Universidade de Washington investigaram se as aves lembrariam de um rosto associado a uma situação assustadora.
Os cientistas usaram uma máscara de borracha de um homem das cavernas antes de aprisionar, vendar e libertar sete corvos.
Em seguida, os cientistas se dividiram em dois grupos: um que usou uma máscara “perigosa” e outro, que usou uma máscara neutra, a do ex-vice-presidente americano Dick Cheney, e observaram, à medida que caminhavam com seus colegas, o comportamento do bando de corvos.
A máscara do homem das cavernas levou as aves a darem uma resposta coletiva à ameaça. Elas gralharam e gritaram, agitando furiosamente as asas e as caudas para alertar sobre o perigo. A máscara de Cheney, ao contrário, não motivou respostas.
Os cientistas levaram a experiência a outros quatro locais fora da universidade, desta vez usando máscaras diferentes feitas em látex por um fabricante especializado. Os rostos tinham aparência comum, de homens e mulheres, brancos ou asiáticos. Quarenta e uma aves foram capturadas e vendadas.
À medida que o tempo passou, o número de aves que emitiu alerta sobre a máscara que representava perigo aumentou.
Nos domínios da universidade, os alertas aumentaram de 20% das aves após a vendagem para impressionantes 60% cinco anos depois.
“Nos outros locais, nós só fizemos os testes por um ano e meio e lá, de 20% a 40% das aves emitiram alertas”, explicou por e-mail John Marzluff, professor de ciência da vida selvagem.
Uma explicação para o aumento dos alertas seria que algumas aves furiosas eram filhotes dos corvos vendados que, ainda bebês, acompanharam como os pais reagiram a uma percepção de perigo.
Mas também havia corvos sem vendas vivendo a até 1,2 km do local. Eles se agruparam, aparentemente aprendendo sobre a ameaça por meio do grupo.
Segundo o estudo, o reconhecimento facial é essencial para os corvos. Alguns humanos do entorno alimentam as aves, enquanto outros atiram nelas.
“Os corvos urbanos são muito atentos às pessoas, tendo que separar aquelas que são boas provedoras das que são perigosas”, emendou.
Os corvos são particularmente intrigantes porque precisam dominar três fontes potenciais de informação, destacou o estudo, publicado na revista britânica ‘Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences’.
As aves adquirem informação de primeira mão, através de suas próprias experiências, “verticalmente”, através de seus pais, e “horizontalmente”, de outras aves.
Administrar este mix de fontes significa que as aves têm uma flexibilidade notável para processar informação. Em termos evolutivos, os animais precisam fazer uma escolha quando se trata de processar a informação.
Obter informação em primeira mão – sobre ameaças ou comida, por exemplo – é a forma mais confiável, mas também potencialmente perigosa.
Adquiri-la de indivíduos de confiança é menos custoso, mas também potencialmente menos confiável, e ainda mais quando a informação vem de fontes mais distantes.
Segundo os cientistas, é improvável que o corvo-americano faça sozinho este processamento de dados.
Fonte: AFP