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RIO DE JANEIRO

Corredor ecológico em Silva Jardim vai ampliar área de Mata Atlântica que é habitat dos micos-leões-dourados

7 de abril de 2024
4 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Espécie típica do estado do Rio, micos-leões-dourados vão ganhar mais espaço para circular por Silva Jardim, na Baixada Litorânea. Um corredor ecológico de sete hectares vai conectar os dois maiores blocos de florestas onde os animais vivem, na região da Bacia do Rio São João. A partir deste mês, a Associação do Mico-Leão-Dourado (AMLD) dará início ao plantio de espécies nativas da Mata Atlântica na área que hoje abrange a Fazenda Santo Antônio, localizada no distrito de Gaviões. A região é marcada por uso agrícola, e as plantações criam uma barreira para a passagem dos animais.

Floresta fragmentada

A área no interior do Rio onde vivem os micos-leões tem como característica a Mata Atlântica de baixada, um tipo específico de vegetação quente e úmida. Uma parte dela foi substituída por agricultura, pecuária, estradas e residências. O que sobrou da vegetação original está fragmentado.

O mico-leão não atravessa as áreas de pastagem: evita ficar exposto aos predadores e se sente mais seguro na floresta. Além disso, vive a até 500 metros de altitude, o que justifica a concentração em região de baixada. Em fevereiro, a associação comprou a Fazenda Santo Antônio, com 103 hectares de área, com o objetivo de construir uma paisagem viável e preservar a espécie ameaçada de extinção.

“Essa área que nós adquirimos é estratégica porque faz uma conexão entre os dois maiores fragmentos da Mata Atlântica remanescentes da região, que juntos somam mais de 20 mil hectares. Ali tem uma área de várzea do Rio São João que é muito boa para a agricultura e a agropecuária. Enfrentamos uma burocracia grande, mas, depois de dois anos de negociação com os proprietários, conseguimos comprar”, diz o diretor da associação, Luis Paulo Ferraz.

A espécie é endêmica, e só ocorre na Mata Atlântica do estado do Rio: não aparece em nenhum outro lugar do Brasil ou do mundo.

“O mico-leão é um patrimônio mundial. E é uma espécie de bandeira: ele é muito conhecido, carismático, e sua proteção acaba gerando benefícios para outras espécies de animais. Além disso, são essas florestas que produzem água para a represa de Juturnaíba, que abastece a Região dos Lagos do Rio. Restaurar o habitat dos micos é também restaurar a qualidade da água que a gente bebe”, acrescenta Ferraz.

A AMLD é uma ONG sem fins lucrativos. A maior parte dos recursos chega por doações de instituições estrangeiras, principalmente para a compra de propriedades. Neste caso, eles receberam apoio das organizações parceiras Rainforest Trust e DOB Ecology. Com o terreno, será possível replantar até 20 hectares de mata nativa, mas, por enquanto, as verbas só cobrem sete hectares do corredor. A meta da associação é chegar a 25 mil hectares de florestas protegidas e conectadas na Bacia do Rio São João.

O corredor florestal vai homenagear uma grande parceira da AMLD: a bióloga americana Jennifer Mickelberg, que morreu em novembro de 2023. Jennifer trabalhava com a conservação do mico-leão-dourado havia mais de 20 anos, era membro do conselho da organização internacional Save The Golden Lion Tamarin e responsável pelo manejo da população em cativeiro nos zoológicos internacionais.

Parte da propriedade comprada já é coberta pela Mata Atlântica, mas não existe conexão florestal de um lado ao outro do vale. Além dos 20 hectares que serão replantados, outros 24 serão restaurados por meio da regeneração natural, ou seja, o próprio ambiente se encarregará de trazer a floresta de volta por meio da dispersão de sementes feita por animais.

O coordenador de Restauração Florestal da AMLD, Carlos Alvarenga, explica que a estimativa é que, uma vez semeada, a floresta leve de quatro a sete anos para ficar adequada à passagem dos micos. O trabalho, entretanto, começa antes do plantio.

“Primeiro vamos fazer a análise do solo e então começar a prepará-lo, com correção de acidez, se for necessária. Depois vêm o roçado, o controle de espécies invasoras, especialmente gramíneas, e a demarcação do espaçamento para o plantio. São 1.667 mudas por hectare, e devemos usar de 40 a 50 espécies nessa área”, conta o coordenador e engenheiro florestal.

Ao todo, serão plantadas mais de 33 mil mudas nativas da Mata Atlântica no corredor.

Reserva privada

A propriedade vai ser transformada em Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), unidade de conservação de caráter privado que será gerida pela associação. Toda a área vai ser monitorada desde o início, tanto para se acompanhar o desenvolvimento do plantio quanto para a verificação do uso do corredor por outros animais, além do mico-leão-dourado. Esse monitoramento é crucial, segundo o coordenador.

Uma aliada importante e vizinha, a Reserva Biológica de Poço das Antas completou 50 anos no mês passado. Ela é considerada a “mãe de todas”, por ser a primeira reserva do Brasil nessa categoria. Até hoje, em Poço das Antas, foram plantados 200 hectares de florestas. Em áreas rurais que foram abandonadas, a mata pôde se regenerar de forma natural. Outras duas reservas federais foram criadas na região: a Reserva Biológica União e a Área de Proteção Ambiental Bacia do Rio São João.

“Poço das Antas é uma reserva icônica. Foi a primeira reserva biológica a ter um centro educativo, na década de 1980, quando ninguém falava em meio ambiente”, diz Gustavo Luna, diretor da Rebio de Poço das Antas.

Fonte: O Globo

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