O vegetarianismo apareceu antes da corrida na vida de José Aquino Neto, 27 anos, de Aracaju, Sergipe. Ele teve contato com o movimento punk e acesso a diversos documentários relacionados à dieta sem alimentos de origem animal. E, após ver um deles, que aborda a matança de animais pelos seres humanos , decidiu tornar-se vegetariano.
– Eu nunca fui muito fã de carne – disse Aquino.
Desde 2011, Aquino foi ainda mais longe. Atualmente, ele é vegano. Segundo George Guimarães, nutricionista especializado em vegetarianismo, o veganismo é um estilo de vida que vai além da dieta sem carne e derivado de animais. A nutricionista Cristiane Perroni também explica:
– Os veganos além de não ingerirem alimentos de origem animal, também não utilizam produtos derivados de animais, como pele, lã, etc.
Vegetarianismo: entenda
Antes de seguir com a história de Aquino, é bom entender quais os diferentes níveis da dieta vegetariana, segundo a nutricionista Cristiane Perroni:
O nutricionista George Guimarães denomina de protovegetarianas as dietas que caminham em direção ao vegetarianismo, mas ainda mantêm alguns derivados, como laticínios e ovo.
– Logo a curto prazo, a primeira ação foi aprender o prazer de cozinhar. Quando eu tomei a decisão, ninguém em casa era e ninguém da família sabia fazer comida vegetariana. Eu tive que me virar, aprender a fazer minha comida, ia à casa de amigos, procurava na internet – contou Aquino.
Segundo George Guimarães, esse é um dos grandes obstáculos a ser enfrentado pelas pessoas que decidem mudar sua alimentação, e faz uma sugestão para os que quiserem se tornar vegetarianos:
– Nossa sociedade não está preparada para atender a um atleta vegano, seja pela desinformação dos profissionais seja pela baixa disponibilidade de alguns alimentos. Para um vegano, a informação é a principal arma para sobreviver aos mitos com determinação e praticar a dieta com vigor.
Já para a nutricionista Cristiane Perroni, uma grande dificuldade para os vegetarianos é a de enquadrar sua dieta ao estilo de vida que se leva atualmente.
– Acho muito difícil para os padrões da população brasileira em geral. Principalmente a que vive em cidades grandes, como no Rio de Janeiro e em São Paulo, onde se realizam refeições fora de casa e com alto nível de estresse. Para seguir a dieta vegetariana, precisa de um estilo de vida diferente ou mais preocupado e trabalhoso, preparando a sua alimentação – observou Cristiane.
A nutricionista não é contra a dieta vegetariana, mas não a incentiva para seus pacientes e nem se preocupa com os direitos animais.
Já o nutricionista George Guimarães alega:
– De fato, há um mito, pois as pessoas tendem a acreditar que apenas a carne pode fornecer proteína em quantidade suficiente, o que não é verdade. O que ocorre é que a carne é, sim, uma excelente fonte de proteínas, afinal, é um músculo. Mas isso não significa que os vegetais não sejam fontes suficientes até mesmo para um atleta.
Falando em atleta, vamos voltar ao Aquino. Após a adoção do estilo de vida vegano, ele se animou com a corrida. Desafiado por um amigo do trabalho, Aquino participou de sua primeira prova. Só a partir daí que ele começou a se dedicar seriamente aos treinos. Ele corre quatro vezes por semana, sendo três de segunda a sexta e, no sábado ou domingo, um longão.
Aquino costuma se alimentar bem antes das corridas e, após os treinos, come bastante fruta.
– Grão de bico, linhaça, lentilha, cereais, além de legumes. Após correr, muita banana, muita melancia, goiaba, bastante suco – contou sobre sua alimentação de vegano-corredor.
O nutricionista George Guimarães dá a sugestão de cardápio vegetariano para corredores:
– Os cereais integrais devem formar a base da alimentação de um corredor vegetariano, usando o arroz integral, a aveia (grão cozido ou em flocos) e a quinua, entre outros. Já a proteína deve ser obtida das oleaginosas, que podem ser incluídas em boa quantidade em qualquer uma das refeições, e das leguminosas ou seus derivados, como o tofu (queijo de soja) e possivelmente de concentrados protéicos derivados da soja ou do arroz. As frutas e vegetais frescos garantirão o complemento de uma dieta vegetariana completa.
Além da opção pela dieta vegetariana, Aquino Neto também adota outras práticas, como correr descalço e evitar, ao máximo, utilizar produtos industrializados, até mesmo suplementos alimentares, na sua dieta.
– Costumo dizer às pessoas que a única bandeira que eu levo é o respeito ao animal. O resto é conseqüência de você procurar um estilo mais saudável, mais desligado da vida industrializada…Procuro fazer coisas nas quais me sinto bem – contou o sergipano.
Nunca é demais reforçar que todas as mudanças na alimentação e na prática de exercício só devem ser feitas sob orientação de especialistas.
Caso da vitamina B12
A vitamina B12 tem importante atuação no sistema nervoso e cardiovascular, segundo George Guimarães. O nutricionista afirma que esse é o único nutriente que não pode ser obtido através de alimentos de origem vegtal, apenas animal.
– A única forma de obter essa vitamina em uma dieta vegetariana é através da suplementação, que pode ser por via oral na maioria dos casos – explicou.
– A vitamina B12 vai ter que ser suplementada, diariamente, de 5 a 10 mcg – indicou a nutricionista Criastiane Perroni.
George defende que, apesar de a carne, o leite e o ovo, reconhecidamente, reunirem importantes nutrientes, estes podem ser obtidos na dieta vegetariana. E não através de uma substituição direta, mas, sim, de uma combinação complexa de alimentos de origem vegetal.
– A dieta vegetariana deve ser variada, o que, como consequência, traz benefícios, pois variar as fontes para obter os mesmos nutrientes acaba por aumentar a ingestão de outras vitaminas e minerais, além de fibras e substâncias antioxidantes.
Seja o estilo de vida que você resolva adotar, informe-se, procure um especialista e tome sua decisão de forma consciente.
Com informações do Globo Esporte