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ESTUDO

Corais de arquipélago brasileiro capturam carbono equivalente a combustão de 324 mil litros de gasolina por ano

8 de agosto de 2025
Filipe Pimentel Rações
3 min. de leitura
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Os corais-cérebro da espécie Mussismilia hispida retêm carbono nos seus esqueletos de carbonato de cálcio, ajudando a mitigar as alterações climáticas. Foto: Guilherme Henrique Pereira Filho/LABECMar/UNIFESP Archive

Reduzir a concentração de gases com efeito de estufa na atmosfera é um elemento crucial dos esforços para combater as alterações climáticas e as florestas, sobretudo as tropicais, são vistas como fundamentais, pois capturam e armazenam grandes quantidades desses gases.

Contudo, não são só as áreas florestais que sequestram gases com efeito de estufa. Também os recifes de coral o fazem, muitas vezes descritos como as florestas tropicais dos oceanos e com tanta ou mais biodiversidade do que esses ecossistemas terrestres.

Uma equipa de cientistas, liderada pela Universidade Federal de São Paulo, revela que as formações de coral-cérebro da espécie Mussismilia hispida no arquipélago de Alcatrazes, localizado a cerca de 35 quilómetros de distância do litoral paulista, são capazes de sequestrar (ou seja, de capturar e armazenar) aproximadamente 20 toneladas de carbono por ano.

Num artigo publicado na revista ‘Marine Environmental Research’, os investigadores explicam que as populações desses corais produzem anualmente cerca de 170 toneladas de carbonato de cálcio, substância da qual é feito o seu esqueleto e com a qual se podem expandir. A formação de carbonato de cálcio, como indica a sua nomenclatura química (CaCO3), usa carbono dissolvido na água marinha, impedindo, dessa forma, que seja libertado na atmosfera.

Por isso, os cientistas estimam que, todos os anos, os corais-cérebro no arquipélago de Alcatrazes são capazes de sequestrar carbono equivalente ao que seria libertado pela combustão 340 litros de gasolina.

Através de tomografias computorizadas, a equipa analisou o crescimento anual dos corais entre 2018 e 2023, com o que “foi possível estimar a produção de carbonato de cálcio e, consequentemente, quanto carbono armazenam e impedem que seja libertado na atmosfera todos os anos”, explica, em comunicado, Luiz de Souza Oliveira, primeiro autor do estudo.

Aliando a capacidade de sequestro à área ocupada por esses corais, conseguiram estimar a absorção de carbono anual.

Os investigadores ficaram também surpreendidos pelo ritmo de crescimento dos corais-cérebros nessa região, pois, estando localizados numa região subtropical, era esperado que crescessem menos do que os corais em regiões tropicais. Contudo, o que encontraram foi uma taxa de crescimento dos corais-cérebro subtropicais semelhante à que se regista em recifes tropicais, embora ainda não se saiba ao certo por que razão esses corais não formam recifes em torno das ilhas de Alcatrazes, encontrando-se, ao invés, relativamente dispersos.

Uma das hipóteses avançadas pelos cientistas é que os corais-cérebro chegaram recentemente a essa região subtropical – há dois ou três mil anos – pelo que não terão tido ainda tempo para se adaptarem e formarem estruturas maiores que possam criar recifes. Outra possibilidade é que as tempestades frequentes nessa zona destoem os corais e impedem grandes acumulações.

A equipa diz também que, ao contrário dos corais tropicais, que estão em águas mais iluminadas e quentes e podem emitir mais carbono do que o que armazenam, os corais-cérebro subtropicais, por terem grande parte dos seus corpos de carbonato de cálcio cobertos por algas que absorvem carbono, sequestram mais desse gás com efeito de estufa do que libertam. Por isso, dizem os autores deste estudo que os corais subtropicais em Alcatrazes atuam como sumidouros de carbono, e podem armazená-lo, em forma mineral, durante séculos ou milénios, ao contrário do carbono orgânico gerado pela fotossíntese, que pode voltar à atmosfera através da respiração das plantas ou da decomposição da matéria orgânica.

O arquipélago de Alcatrazes está classificado como um refúgio de vida selvagem, protegendo várias espécies marinhas. No entanto, Guilherme Pereira Filho, um dos principais coautores do trabalho, salienta que essa área poderá estar a fornecer “outro serviço essencial”, o de retirar carbono da atmosfera e, assim, a ser um aliado pouco conhecido da luta contra a crise climática.

Fonte: Greensavers

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