EnglishEspañolPortuguês

QUEDA IMPORTANTE

Controle no desmatamento faz emissões brasileiras recuarem 17% em 2024

Poluição climática teve maior queda em 16 anos, mostra SEEG. Mesmo assim, Brasil não deve cumprir meta climática estabelecida para 2025

3 de novembro de 2025
Cristiane Prizibisczki
5 min. de leitura
A-
A+
Áreas de desmatamento no município de Careiro da Várzea, no Amazonas próximo às Terras Indígenas do povo Mura, em julho de 2022. Foto: Alberto César Araújo/Amazônia Real

As emissões de gases de efeito estufa do Brasil caíram 17% em 2024, como resultado do controle do desmatamento no país. Esta é a segunda maior queda em 16 anos, mas apenas o controle da perda de vegetação não garante que Brasil cumpra a meta climática estabelecida para 2025, mostram os números do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (SEEG), divulgados na manhã desta segunda-feira (03/11).

Em 2024, o Brasil emitiu 2,145 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (GtCO2e), contra 2,576 GtCO2e em 2023, quando consideradas as emissões brutas.

O desempenho do setor de uso da terra e florestas – influenciado quase que totalmente pelo desmatamento – foi o responsável por esta queda expressiva: em 2024 o setor emitiu 906 MtCO2e, contra 1,342 GtCO2e no ano anterior.

Todos os outros setores que são contabilizados no inventário nacional – Agropecuária, Energia, Resíduos e Processos Industriais – mantiveram suas emissões ou apresentaram alta.

Para os especialistas do SEEG, isso mostra que não dá para o Brasil confiar na redução do desmatamento para garantir um bom desempenho.

“Está super evidente que o controle das emissões no Brasil não deve ficar mais nas costas do desmatamento. A gente precisa ter uma evolução, um aprimoramento nos outros setores também”, disse David Tsai, coordenador do SEEG.

Segundo Márcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima, os resultados também revelam que as políticas públicas de controle do desmatamento implementadas pelo governo Lula têm funcionado, fato a ser comemorado. No entanto, diz ele, os resultados não podem significar um afrouxamento dos outros setores emissores.

“A gente tem sempre uma preocupação de fundo que é de que essas boas performances acabem animando o pessoal de áreas como o agronegócio e o petróleo, para eles se sentirem autorizados a continuar com a bagunça climática que fazem no Brasil”, disse, em coletiva de imprensa para divulgação dos dados.

Segundo Astrini, os dados do SEEG podem dar um ânimo na presidência da COP30, abalada pela divulgação feita pelo governo a poucos dias da Cúpula sobre o avanço na exploração de petróleo na Foz do Amazonas. Mas ele não significa carta branca para que o país continue a explorar, reforça.

“A queda no desmatamento não é autorização pra gente virar petro-estado, não é salvo conduto para nada”. diz.

De acordo com o SEEG, as emissões do setor da Agropecuária se mantiveram estáveis (631 MtO2e em 2023 contra 626 MtCO2e em 2024), as de Energia aumentaram 0,8% (de 420 MtCO2e em 2023 para 424 MtCO2e em 2024), as do setor de Processos Industriais aumentaram em 2,8% (92 MtCO2e em 2023 para 94 MtCO2e em 2024) e as do setor de resíduos aumentaram 3,6% (92 MtCO2e em 2023 para 96 MtCO2eem 2024).

No geral, o setor de Mudança de Uso da Terra foi responsável por 42% das emissões brutas totais do país em 2024, a Agropecuária, por 29%, o setor de Energia, por 20%, o de Resíduos, por 5% e o de Processos industriais, por 4%.

Mesmo com a queda no desmatamento, as mudanças de uso da terra seguem sendo o fator que faz do Brasil o quinto maior emissor de gases de efeito estufa do planeta (sexto, se a União Europeia for considerada como bloco), segundo dados do Cait/WRI.

O Brasil emite mais carbono bruto somente por desmatamento que toda a Arábia Saudita (793 MtCO2e) e todo o Canadá (760 MtCO2e), dois dos principais países petroleiros do mundo.

Queimadas

Em 2024, o Brasil vivenciou um recorde no número de queimadas, chegando a 280 mil focos, com consequente aumento das emissões associadas. Ao contrário do que se pode imaginar, no entanto, essas emissões não são contabilizadas no inventário nacional.

No ano passado as emissões por fogo chegaram a 241 MtCO2eq, segundo o SEEG. Se fossem contabilizadas, elas duplicariam as emissões líquidas – quando a remoção é colocada na conta – do país.

Cientistas do Brasil e de outros países tropicais vêm argumentando que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) deveria incluir essas emissões por incêndios florestais nas suas diretrizes para formulação de inventários de gases de efeito estufa.

Até agora isso não ocorre porque assume-se que a floresta se regenera após um incêndio, absorvendo de volta o carbono emitido. No entanto, com o aumento da intensidade e a diminuição do intervalo entre grandes incêndios nos trópicos, este argumento pode não ser mais válido.

“Que o diga a Amazônia, que registrou duas mega estiagens consecutivas em 2023 e 2024, com ampla mortalidade de árvores. A permanecer a tendência, mesmo zerando o desmatamento, o país ainda pode perder parte significativa da Amazônia para a crise climática – daí a necessidade de reduzir rapidamente o consumo de combustíveis fósseis no mundo todo”, diz o Observatório do Clima.

NDC para 2025

Mesmo com a queda expressiva nas emissões em 2024, os dados da economia brasileira em 2025, até agora, analisados pela equipe do SEEG, não permitem fazer projeções otimistas sobre o cumprimento da NDC do Brasil em 2025.

Numa projeção que considera a tendência dos outros setores e as estimativas de desmatamento para 2025 do Deter, o sistema de alertas do Inpe, o Brasil chegaria ao final deste ano com 1,44 GtCO2e líquidas. O número é 9% maior que a meta estipulada pela NDC para 2025 (1,32 GtCO2e).

A meta climática brasileira para 2030 é de, no máximo, 1,2 GtCO2e. Segundo o OC, para conseguir alcançar essa meta, David Tsai, coordenador do SEEG, reforça a necessidade de empenho de todos os setores emissores.

“A capacidade do controle de desmatamento de entregar cortes de emissão está batendo no teto. Precisamos zerar a devastação até 2030, como prometeu o presidente Lula, e mantê-la zerada – mas vamos precisar reduzir em energia e agropecuária também”, reforça Tsai.

Fonte: O Eco

    Você viu?

    Ir para o topo