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DOR DA PERDA

'Contratei detetive', diz tutora de cadela enterrada em casa de adestrador

26 de fevereiro de 2025
4 min. de leitura
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Foto: Arquivo pessoal

Mia, uma cadela da raça golden retriever, com 11 meses, foi encontrada morta e enterrada no quintal de um hotel para cachorros, na zona oeste do Rio de Janeiro. Ele era gerenciado por um adestrador que alegava que o animal havia fugido. Após descobrir a farsa e o suposto crime, a família agora luta por Justiça.

O que aconteceu

O caso gerou revolta e mobilizou investigações após a família desconfiar da versão do responsável pelo hotel para cães. Um detetive particular foi contratado para descobrir o paradeiro da cadela. A Polícia Civil identificou negligência e maus-tratos, resgatando outros animais em situação precária.

Francine Branchi, 33, tutora de Mia, contou que confiou o adestramento da cadela a Mário Sérgio Dornelas. A família conheceu o hotel por indicação de uma veterinária amiga, que atendia animais levados por ele e viu fotos do local. Como fariam uma viagem e não podiam levar a cadela, confiaram no espaço, que parecia adequado e bem estruturado.

Além disso, o local tinha piscina, uma paixão da cachorra e, por isso, após a estadia temporária, a família aceitou a proposta de adestramento do animal por 30 dias. Segundo Francine, a cadela desenvolvia dermatites devido à exposição excessiva à água da piscina na casa da família. O controle dos banhos era essencial para sua saúde e, para isso, ela deveria aprender que não poderia entrar na piscina o tempo todo. “Ela amava a piscina. Se deixássemos, passaria o dia inteiro dentro d’água”, contou a tutora.

A devolução de Mia foi adiada mais uma vez, e a família não desconfiou de imediato. Inicialmente, após o período de 30 dias, Dornelas pediu mais 15 dias, alegando que Mia ainda precisava de ajustes no comportamento. Ele enviava fotos e mantinha contato, criando a impressão de que o animal estava bem. “Ele tinha um poder de convencimento muito bom. Você acreditava no que ele falava”, afirmou Francine.

No dia 13 de fevereiro, véspera da data combinada para a devolução, o adestrador ligou dizendo que Mia havia fugido. Ele afirmou que deixou o portão aberto e que todos os cães haviam escapado, mas apenas Mia continuava desaparecida. “Acreditei por algumas horas, mas algo não fazia sentido. Ele dizia que todo mundo estava ajudando a procurar, mas ninguém no bairro sabia dessa fuga”, contou a tutora.

Horas depois, Francine começou a desconfiar do comportamento do adestrador. Ele parecia frio e pouco envolvido na busca, além de apresentar contradições em seu relato. “Ele me disse: ‘fica tranquila, ela não vai morrer atropelada, porque está muito esperta’. Aquilo me arrepiou. Ele falava como se não fosse um problema, como se não tivesse culpa nenhuma”, relembrou Francine.

Detetive particular

A família decidiu investigar por conta própria e contratou um detetive particular. Imagens de câmeras de segurança mostraram que Mia não aparecia na rua no horário indicado pelo adestrador. Os vizinhos também relataram que não viram movimentação incomum. “Foi aí que tivemos certeza de que algo pior tinha acontecido”, disse a tutora.

A confirmação da morte veio após uma ativista em defesa dos direitos animais gravar conversas com o suspeito, que confessou que Mia estava enterrada em seu quintal. Ele alegou que a cadela morreu por hipertermia, um superaquecimento do corpo. Em seguida, ele escondeu o corpo, tentando sustentar a versão da fuga.

Francine lembra da sensação ao chegar na casa onde Mia estava. “Quando eu vi aquele lugar, meu coração apertou. Era um quadrado de cimento, sem água, sem comida, sem nada. Eles dormiam no meio das próprias fezes. Não tinha como um cachorro sobreviver ali”, disse.

No local, a polícia encontrou outros três cães abandonados, sem comida, água e vivendo entre fezes. As condições eram degradantes, e os animais estavam anêmicos e debilitados. A residência não tinha estrutura para funcionar como um hotel para cães. “A Mia morreu por descaso. Se ela teve hipertermia, foi porque ficou horas ali, sem nada. Ele simplesmente a abandonou”, afirmou Francine.

A tutora descreveu a dor da perda e a revolta ao descobrir o que aconteceu com Mia. “Tudo lembra ela. As redes de segurança que ela comeu, o portãozinho que ela conseguiu furar, tudo. A dor é enorme, mas a Justiça vai ser feita”, declarou.

Apesar do sofrimento, a família resgatou um dos cachorros encontrados no local. “Ontem resgatamos o Dom, um golden retriever que estava lá. Ele estava anêmico, apático, mas agora está aqui, no ar-condicionado, sendo amado. Ele nunca vai substituir a Mia, mas, de alguma forma, ela salvou a vida dele”, disse a tutora.

Francine prometeu seguir lutando para que o caso não seja esquecido. “A Mia morreu, mas salvou outras vidas. Essa foi sua missão”, afirmou. “Vamos lutar até o fim para que ele pague por isso e para que outros animais não passem pelo mesmo sofrimento.”

Fonte: UOL

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