O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei nº 15.008/24, de autoria do deputado federal Giovani Cherini (PL/RS), que regulamenta o rodeio crioulo como parte da cultura popular, ignorando a crueldade intrínseca que essa prática impõe aos animais. Enquanto garante proteção e integridade física dos participantes humanos, a medida, publicada em 18 de outubro no Diário Oficial da União, falha em reconhecer o sofrimento silencioso e prolongado dos animais explorados nesses eventos.
O rodeio crioulo, tradicionalmente associado à cultura gaúcha, envolve uma série de atividades que submetem os animais a extremo estresse físico e psicológico. Nas atividades de montaria, provas de laço, vaquejada, gineteada, pealo, chasque, cura de terneiro e provas de rédeas, os animais são submetidos a práticas que testam as habilidades dos competidores, e sempre resultam em ferimentos, exaustão, medo e estresse intenso. Essas provas colocam os animais em situações de extremo desconforto e risco, expondo-os a procedimentos que os comprometem integralmente, em nome da competição e do entretenimento.
Embora a lei faça promessas de proteção aos animais, as práticas em si—como a derrubada de terneiros e o uso de laços—permanecem métodos violentos, destinados a submeter e humilhar os seres sencientes que não podem se defender.
Equipamentos como cilhas e barrigueiras, apesar de descritos como “confortáveis”, não eliminam o fato de que os animais são forçados a participar de atividades que violam sua dignidade e bem-estar.
A inclusão de regras sobre transporte adequado, acomodações e presença de médicos veterinários pode parecer uma tentativa de minimizar o sofrimento animal, mas essas medidas apenas maquiam a brutalidade inerente aos rodeios. Mesmo com o acompanhamento de veterinários, não há como garantir que os animais não sofram ferimentos físicos ou emocionais profundos, especialmente quando são laçados, derrubados e forçados a competir.
É absolutamente preocupante que a sanção dessa lei ocorra menos de dois anos após Lula ter tomado posse ao lado de suas cachorrinhas adotadas, simbolizando um compromisso público com a causa animal. Ao regulamentar o rodeio, o governo está endossando uma prática que submete animais a maus-tratos sob o pretexto de cultura. A proteção animal não deve ser seletiva, e o respeito à vida precisa se estender a todos os seres sencientes, não apenas àqueles que convivem diretamente com os humanos.
O rodeio é um espetáculo de crueldade que agride frontalmente os princípios básicos dos direitos animais. Garantir a “integridade física” dos participantes humanos enquanto animais são explorados e maltratados é uma contradição que precisa ser desafiada. A verdadeira proteção animal só será alcançada quando essas práticas forem abolidas, em vez de regulamentadas.
Nota da Redação: O governo Lula pode tentar demonstrar preocupação com a causa animal através de gestos simbólicos, como subir a rampa do Palácio com cães SRD e fotos com eles no colo. Mas, o verdadeiro compromisso com o bem-estar dos animais se mostra nas decisões e nas políticas públicas adotadas. Sem ações concretas e efetivas para combater os maus-tratos, essas cenas com cachorros são apenas marketing eleitoreiro, distante das reais necessidades dos animais.