Por Patricia Tai (da Redação)
Em abril deste ano, a mídia local divulgou estranhas mortes e deformidades em um grande número de animais no distrito de Ulaanbadrakh, na província de Dornogobi, na Mongólia. Ao mesmo tempo, a Areva, uma companhia mineradora multinacional sediada na França, anunciava que sua subsidiária Kojegobi LLC havia encontrado um depósito de 55 mil toneladas de urânio naquela região. As informações são da Earth Island Journal e da Care2.
Pastores que viviam a poucos quilômetros do local de exploração da mineradora disseram que cordeiros, cabras e camelos estavam nascendo deformados. Em alguns casos, os recém-nascidos estavam cegos ou sem pelos; em outros, as deformidades eram ainda mais extremas. Entre os casos, por exemplo, houve um cordeiro que nasceu com duas cabeças, outro sem mandíbula inferior, e filhotes de cabra e camelo que nasceram sem alguns membros ou com atrofias.
De acordo com a reportagem, um pastor chamado Norsuren, que vive próximo a uma área de mineração, perdeu 22 bezerros, cordeiros e cabras. Ele disse que foram tantos, que parou de contar. Dezenas de famílias que vivem da criação de animais para consumo na região reportaram deformidades congênitas em filhotes.
No inverno passado, um grande número de animais também morreu misteriosamente. Os moradores atribuíram as mortes à contaminação por urânio, suspeitando que esta tivesse aumentado com a intensificação das atividades de exploração na região.
A Mongólia tem uma longa história de exploração de minas de urânio, datada desde operações da Rússia na década de 50, quando o país estava sob domínio da União Soviética. Embora não haja minas ativas de urânio no país nos dias de hoje, os depósitos são significativos e continuam a atrair investidores. A Areva, por exemplo, tem 28 licenças de exploração atualmente e tem explorado uma área de 14 mil km² na tentativa de encontrar o metal.
O urânio é um metal pesado e altamente radioativo, utilizado para a fabricação de bombas nucleares.
Reportagens sobre a radiação em vilarejos e o temor de contaminação da água fizeram com que o Governo da Mongólia pedisse a realização de testes por autoridades de energia nuclear. Os resultados dos testes divulgados pelas autoridades diziam que não era a radiação do urânio que estaria causando as mortes dos animais, e sim a exposição natural destes ao selênio e ao cobre contidos naturalmente no solo da Mongólia. O Governo pediu que os pastores parassem de “exagerar sobre o assunto” e estes, céticos diante dos resultados, uniram-se a grupos sociais para exigir que sejam feitos novos testes e pleitear o fim da exploração de urânio na região.
A tensão crescente entre os pastores e o Governo, que os moradores acusam de beneficiar as empresas exploradoras por interesses econômicos, é recorrente no país. Mas os interesses dos pastores também são econômicos e, como sempre, os animais são a parte fraca da equação e o destino deles não é justo de nenhuma forma.
Na região do Gobi, que compreende as províncias de Dornogobi, Omnogobi e Dundgobi, estima-se que haja 3,8 milhões de animais entre ovinos, caprinos e equinos, que são criados para o consumo humano. Quase toda a economia da Mongólia é baseada na exportação de animais vivos e derivados, como peles e lã, principalmente para a China e a Rússia.
Se não houvesse a demanda por carne e produtos derivados de animais, não seriam criados tantos seres como estes que, além de sofrerem as intempéries óbvias de viver no deserto, e como se não bastasse o fato de viverem como escravos, tratados como objetos e criados para serem exportados como coisas, ainda estão enfrentando a contaminação química, morrendo ainda mais prematuramente por esse envenenamento e tendo filhotes deformados que, ou morrem recém-nascidos devido às deformidades, ou certamente são mortos pelos humanos, pois animais com deficiências não interessam à indústria do lucro e da exportação.