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Construção de hidrelétrica provoca extinção de animais na Amazônia

4 de julho de 2015
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Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Ainda durante sua construção, em 1986, a usina hidrelétrica de Balbina já era considerada um grande desastre ambiental. Um estudo publicado ontem na revista “PLOS One” corrobora a opinião dos cientistas. De acordo com pesquisadores da Universidade de East Anglia (Reino Unido), o alagamento de uma área de 3.129 km², que resultou na criação de 3.546 ilhas, isolou espécies, prejudicou a migração e reprodução de peixes, aumentou os índices de extinção de animais, fragilizou as florestas e aumentou a emissão de gases de efeito estufa.
A equipe realizou levantamentos de biodiversidade em 37 ilhas do reservatório hidrelétrico, além de três áreas de floresta vizinhas à usina, localizada a 100 quilômetros de Manaus. Além dos dados coletados em campo, imagens de satélite de alta resolução demonstraram o nível de degradação florestal das ilhas e uma análise mais detalhada do resto do arquipélago. Censos e armadilhas fotográficas registraram a fauna de cada região da usina.
O resultado: a maioria das populações de grandes mamíferos, aves e tartarugas desapareceu no que restou de terras no lago de Balbina. De fato, apenas 0,7% de todas as ilhas do reservatório ainda continham uma comunidade diversificada de espécies de animais e aves.
Apesar do arquipélago ser uma reserva biológica, a extinção de diversas espécies está acelerada — alerta Carlos Peres, coautor do estudo e pesquisador de Ciências Ambientais da Universidade de East Anglia. — Os animais precisam de mais recursos, inclusive para se alimentar, do que os proporcionados pelas pequenas ilhas. Eles morrem e não há outros para substituí-los. Além disso, a incapacidade de locomoção da maioria das espécies para outros trechos do arquipélago também deve afetar a diversidade genética.
Vítima de catástrofes 
Além da área reduzida, a maioria das pequenas ilhas foi devastada nos últimos anos por eventos extremos, como vendavais, tempestades e incêndios.
“Estes fenômenos impõem um regime de degradação natural para as espécies remanescentes”,  lamenta Peres. “As secas impostas pelo El Niño, por exemplo, contribuíram para queimadas em diversas ilhas”.
Segundo o pesquisador, a construção de centenas de novas barragens deve ser revisada sob o risco de que o país ganhe novas “Balbinas”.
“A hidrelétrica não deve ser a maior solução para a produção de energia. Seu impacto é muito maior do que os benefícios”,   condena. “Pequenos e médios empreendimentos podem ser viáveis. Minha objeção é com os grandes projetos, como aqueles já elaborados ao longo do Rio Madeira, também na Amazônia, além da usina de Belo Monte”.
Balbina, mesmo depois de tamanho impacto ambiental, produz apenas 10% da demanda energética de Manaus.
Nos últimos anos, para minimizar o estrago ao meio ambiente, o governo federal priorizou a construção de hidrelétricas à fio d’água, que alagam áreas consideravelmente menores do que os reservatórios tradicionais. Ainda assim, a produção de energia pode ser prejudicial ao meio ambiente.
Diretor de Pesquisa Científica do Jardim Botânico, Rogério Gribel destaca que as novas usinas atingem habitats ribeirinhos das florestas de várzea. A mudança de intensidade no fluxo d’água pode causar a extinção de espécies que só existem naqueles locais.
“Houve avanços tecnológicos desde Balbina, mas reservatórios como Belo Monte ainda causam um impacto muito grande, inclusive nas populações locais”,  ressalta Gribel, autor do documentário “Balbina no país da impunidade”. “Ao alagar florestas, todo o material orgânico vai para a atmosfera, o que aumenta a emissão de gases-estufa. E a barragem bloqueia a migração dos peixes e sua reprodução”.
Peres e Gribel avaliam que outras fontes energéticas devem receber mais investimentos:
“Temos um dos maiores potenciais do mundo para gerar energia solar e eólica”, ressalta Gribel. “Há grande perda de energia ao longo de sua transmissão das hidrelétricas para os centros urbanos. Então, precisamos de alternativas”.
Fonte: CERPCH

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