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PARQUE NACIONAL

Construção de estrada aumenta desmatamento e caça de animais silvestres

3 de novembro de 2021
Mongabay | Traduzido por Seon Hye Shin
4 min. de leitura
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Os Camarões notificaram a UNESCO sobre planos de construir uma nova estrada no Parque Nacional Lobéké, parte da Sangha Tri-Nacional listada como patrimônio global.

O Ministro da Floresta e Vida Selvagem do país diz que a estrada irá ajudar a proteger a área contra caçadores e outros criminosos.

Estradas estão diretamente relacionadas aos maiores níveis de desflorestação e caça.

Um estudo do Parque Nacional Minkébé de Gabon correlacionou a alta caça no norte do parque ao fácil acesso por meio de uma rodovia passando pela fronteira de Camarões.

Foto: Ilustração | Pixabay

No dia 6 de outubro, o ministro da floresta e vida selvagem, Jules Doret Ndongo, irá aparecer em uma conferência de um dia focada na proteção das florestas ricamente biodiversificadas da África Central. No entanto, a política e prática de seu governo frequentemente ameaçam a vida selvagem, as florestas e os meios de subsistência da população local de Camarões e seus vizinhos regionais.

Segundo a Vigilância Florestal Global, os Camarões perderam 3,7% de sua principal cobertura florestal entre 2002 e 2008 — na região da África Central, apenas a Angola (5,3%) e a República Democrática do Congo (5,1%) perderam mais. Dados para 2020 mostram perdas de floresta primárias de 100.000 hectares (247.000 acres), quase o dobro do ano anterior. Analisando os dados mais recentes, o Instituto de Recursos Globais Mikaela Weisse e Elizabeth Goldman atribuem muito desta desflorestação às atividades de fazendas de pequena escala no sul do país.

Entretanto, o governo de Camarões aparenta estar mais preocupado em gerar receita a partir de seus recursos florestais. Em anos recentes, foram concedidas concessões para extração de madeira, e plantações de óleo de palma e borracha em suas regiões do sul. Em 2020, foi aprovada a extração de madeira em uma das maiores florestas tropicais ainda intactas, a floresta Ebo na região litoral sudoeste, apenas para suspender as concessões após um protesto público.

Pouca ou nenhuma informação foi publicada sobre o plano de construir uma estrada para o Parque Nacional Lobéké, no sudeste de Camarões. Lobéké é parte de uma área protegida transfonteira que também inclui a Reserva Especial Dzanga-Sangha na República Central da África e o Parque Nacional Nouabalé-Ndoki na República do Congo. Juntos, eles formam a Sangha Tri-Nacional, que foi incluída na lista de herança global da UNESCO como um local de “valor universal extraordinário” em 2012.

Em junho, em uma carta à UNESCO, o ministro Ndongo disse que a área da fronteira está “sujeita a invasões recorrentes de indivíduos armados de países vizinhos, cometendo atos de caça ilegal e outros crimes”, e uma estrada ao longo do rio Sangha River permitirá o governo a proteger a área.

No entanto, críticos preocupam-se com os impactos do projeto sobre as comunidades indígenas e a vida selvagem.

“Eu soube que a razão que o governo está dando [para construir a estrada] é segurança e tudo mais,” disse Samuel Nnah Ndobe, um ativista ambiental que trabalha pela defesa de florestas e povos indígenas. “Porém é tudo pela extração de recursos; a área é rica em minerais. E será uma catástrofe ambiental se eles seguirem com a construção dessa estrada.”

Lobéké cobre mais de 200.000 hectares (494.000 acres), incluindo densas florestas e baixos mangues. Abriga os grupos indígenas Baka e Bangando, assim como fornece habitat para elefantes de floresta (Loxodonta cyclotis), gorilas de planície ocidentais (gorilla gorilla), chimpanzés (Pan troglodytes), leopardos (Panthera pardus), e inúmeras espécies de ungulados.

A rica vida selvagem tornou Lobéké um alvo para caçadores ilegais bem armados. Espera-se com a construção de uma estrada através do parque que o acesso para traficantes ilegais de vida selvagem seja facilitado.

Uma pesquisa mostrou que estradas são detrimentais para florestas e para a biodiversidade e ecossistemas que elas sustentam. Um estudo de 2017 correlacionou o abate de cerca de 25.000 elefantes florestais no Parque Nacional Minkébé de Gabon entre 2004 e 2014 ao fácil acesso providenciado por uma estrada nacional passando pela fronteira de Camarões.

O ecologista John Poulsen, autor principal do estudo de Minkébé, disse à Mongabay que controlar o acesso às áreas protegidas por estradas construídas dentro ou perto delas é desafiador.

“Levaria financiamento e vontade significantes para manter a estrada e o parque protegidos, incluindo bloqueios de estrada assistidos constantemente para permitir apenas veículos autorizados e constantes patrulhas de guardas ecológicos para evitar que as pessoas contornem os bloqueios para pegar a estrada que leva ao parque,” disse Poulsen.

Não está claro o quanto os planos de Camarões progrediram. Uma porta-voz do ministro ambiental, Priscilla Song, questionou o ministro de floresta e vida selvagem. Ligações para esse ministro seguiram não respondidas.

A resposta da UNESCO para a carta não foi publicada e o comitê de patrimônios não respondeu às perguntas da Mongabay até o dia da publicação.

Ndobe disse à Mongabay que temia que uma estrada em Lobéké seria o primeiro passo de um padrão familiar e preocupante: as autoridades primeiro dão concessões para extração de madeira dentro ou perto de florestas intactas, e depois que as florestas ficam devastadas, podem ser reclassificadas como plantações de commodities como óleo de palma ou borracha. Ele disse que o foco frequentemente não é servir o interesse público, mas ir atrás de recursos.

“Será uma terrível ideia o governo seguir com o projeto. Não faz sentido”, disse Ndobe.

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