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ESTUDO

Consanguinidade está aumentando as ameaças ao menor gato selvagem do continente africano

Como a maioria das espécies ameaçadas, os gatos-bravos-de-patas-negras sofrem com perda de habitat, mudanças climáticas e doenças

28 de outubro de 2024
Júlia Zanluchi
3 min. de leitura
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Foto: Black-footed Cat Working Group

A população do gato-bravo-de-patas-negras (Felis nigripes), do sul da África, está diminuído e apresentam graus muito altos de consanguinidade, o acasalamento de indivíduos que são geneticamente próximos. Isso pode aumentar o risco de uma doença chamada amiloidose ameaçando a espécie, de acordo com um novo estudo.

O gato-bravo-de-patas-negras é um dos menores, mais raros e, possivelmente, mais adoráveis felinos da África. Eles são encontrados apenas em estepes áridas e savanas gramadas do sul da África, incluindo Namíbia, África do Sul e Botswana. A Lista Vermelha da IUCN os classifica como vulneráveis à extinção.

Como muitas outras espécies ameaçadas, o gato-bravo-de-patas-negras está sob pressão pela perda e degradação de habitat, além das mudanças climáticas. Mas há outra preocupação também: cerca de 70% dos indivíduos da espécie que vivem em cativeiro morrem de amiloidose, uma doença fatal associada a mutações genéticas prejudiciais e que acredita-se ser hereditária. As populações selvagens também são suscetíveis, embora a taxa de mortalidade seja quase impossível de determinar.

Esses felinos, que parecem fisicamente com gatos domésticos, são caçadores noturnos extremamente bem-sucedidos e têm um apetite voraz, consumindo um quinto do seu peso corporal em presas a cada noite. As taxas de mortalidade são altas, com quase 40% das populações estudadas morrendo a cada ano, principalmente devido à predação e doenças, afirma Alexander Sliwa, líder de projeto do Grupo de Trabalho do Gato-bravo-de-patas-negras.

Hoje, as populações desses felinos enfrentam inúmeras ameaças, incluindo mudanças no uso da terra, fragmentação do habitat, mudanças climáticas e doenças. Nos locais de estudo de longo prazo de Sliwa na África do Sul e na Namíbia, os impactos são alarmantes. “Tenho realmente uma queda total da população em minhas áreas de estudo”, disse Sliwa para a Mongabay.

Em 2023 e 2024, a Namíbia experimentou sua pior seca em um século, em parte impulsionada pelo El Niño e pelas mudanças climáticas. Nos próximos cem anos, tais secas provavelmente se tornarão mais frequentes e severas, de acordo com projeções climáticas.

Sliwa observa que, em sua área de estudo no sul da Namíbia, praticamente não houve chuva nos últimos dois anos. A área sempre esteve próxima dos limites do que o a espécie pode tolerar em termos de aridez.

Agora, a seca está empurrando os gatos para fora de seus habitats preferidos de gramíneas baixas e em direção aos leitos dos rios, o que os coloca em contato mais próximo com fazendeiros e seus cães. A dupla ameaça de fome e de serem mortos por cães significou que, no ano passado, todos os animais estudados por Sliwa morreram.

Sliwa também vê o impacto da amiloidose na população selvagem, mas diz que é difícil determinar quanto da mortalidade total é atribuível à doença.

A amiloidose é uma doença em que proteínas anormais são depositadas em órgãos ou tecidos. Em gato-bravo-de-patas-negras, o primeiro sinal é uma sede excessiva. Eles geralmente obtêm todo o líquido de que precisam a partir do sangue de suas presas.

Entretanto, à medida que essas proteínas anormais afetam os rins, o gato doente começa a procurar água parada. Quando isso acontece, o gato geralmente morre em um mês, diz Sliwa, seja porque morre diretamente da doença ou porque fica cada vez mais desorientado e se torna um alvo mais fácil para predadores.

“Então, para nós, é bem difícil distinguir”, explicou Sliwa. “Foi uma predação pura porque o animal não estava atento, ou o animal já estava doente e foi capturado?”

A combinação de ameaças significa que populações inteiras podem desaparecer, um desfecho que Sliwa e outros biólogos estão trabalhando duro para evitar.

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