Tradução Laura Dourado/ Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais
O comércio de filhotes de cachorros no Reino Unido é um problema que continua inabalável e, a menos que comecemos a ouvir as vozes que contrárias a esta indústria terrível, isto continuará particularmente porque grande parte desta prática é feita às escondidas e inadequadamente policiada.
Pessoas de boa índole e mal informadas que compram cachorros de “um homem em uma van” ou até no quintal de uma residência podem financiar o tráfico ilegal desses animais.
Em relação à criação de filhotes, cães de raça estão se popularizando por causa das celebridades; Pugs e Chihuahuas são 82% dos animais traficados no Reino Unido de acordo com o estudo Dogs Trust. No entanto, a combinação de condições de trânsito péssimas e da falta de vacinação adequada resulta no risco de morte de um filhote entre 10. Nos últimos seis meses, 382 filhotes foram resgatados sendo que 90% deles foram considerados muito novos para viajar.
Nellie é uma Blenheim Cavalier King Charles Spaniel de 10 anos, ela foi adotada pouco tempo atrás e seu passado foi sofrido. A cadela chegou ao abrigo Dogs Trust depois de viver em uma fazenda de filhotes irlandesa onde era forçada a ter ninhada atrás de ninhada apenas para gerar lucro. O veterinário que a tratou diagnosticou que ela teve várias ninhadas, infecções no ouvido severas e a maioria de seus dentes foi removida e seus músculos quase não se desenvolveram devido à total falta de exercício durante os anos em que ela viveu no local.
Atualmente em um lar amoroso, Nellie aproveita a vida como qualquer cachorro deveria; conhecendo lugares, passeando e na companhia de outros animais, mas, infelizmente, ela não é a única vítima do abuso das fazendas de filhotes.
Janetta Harvey, autora do livro Saving Susie-Belle and Saving Maya explica: “quando eu escrevi meu primeiro livro, quatro anos atrás, sobre fazendas de filhotes, detalhando a transformação que minha cachorra Susie-Belle passou enquanto se recuperava dos anos que passou sendo uma reprodutora na fazenda, eu esperava que meu texto fosse uma contribuição para acabar com a crueldade do tráfico de filhotes. Desde então, depois de mais dois livros publicados, alguns dias é difícil acreditar que esse sofrimento um dia acabará”.
“Minhas três cachorras ex-reprodutoras saíram das fazendas com traumas físicos e psicológicos que nenhum cachorro deveria experimentar. Se as pessoas que compraram seus filhotes pudessem ver os desafios diários que minhas cachorras têm que enfrentar, anos depois de deixarem a fazenda, eu imagino que a maioria delas não gastaria seu dinheiro comprando-os, mas enquanto a criação, a venda e a compra destes animais não forem fiscalizadas e dificultadas, cachorras como as minhas continuarão vivendo, reproduzindo e morrendo nessas fazendas para que os filhotes sejam vendidos na trágica indústria do ‘melhor amigo das pessoas'”, completa.
“Conversei com centenas de pessoas que ajudaram cachorros que estavam envolvidos nessa indústria. Os problemas que os pais reprodutores das ninhadas possuem são muitos, eles nunca se recuperam desses traumas, mesmo depois de resgatados, recebendo todos os cuidados necessários, amor e boa moradia, e tudo isso é causado porque os filhotes são tratados como mercadorias que devem gerar lucro”.
A maioria dos filhotes origina-se de instalações inadequadas, muitas vezes antes de estarem prontos para deixar suas mães. Cachorros vendidos em lojas de animais e pela internet, particularmente onde a mãe não pode ser vista, normalmente vêm de fazendas de filhotes.
No entanto, fazendeiros de filhotes e seus “agentes” estão se tornando muito mais sofisticados e às vezes mostram para um comprador um cachorro mais velho com o filhote para eliminar as suspeitas em relação à ausência da mãe.
A Dogs Trust destacou primeiramente o fluxo de filhotes da Europa Central e Oriental em 2014, seguindo um afrouxamento nas leis do Pet Travel Scheme em 2012. Desde dezembro de 2015, organizações de caridade têm providenciado cuidado e suporte para filhotes importados durante seu período de quarentena.
Janetta Harvey diz: “A vasta escala do comércio internacional de filhotes é algo que requer grande comprometimento do governo se a intenção é ter qualquer tipo de controle sobre isso. Educar o público sobre a compra de animais é essencial, mas não o suficiente. O sofrimento de milhares de cachorros que são confinados em uma indústria que é uma completa traição aos nossos melhores amigos é horrível para qualquer ser pensante”.
Mas, mesmo assim, filhotes muito novos e que não foram vacinados continuam viajando ilegalmente pela Europa ou destinados a serem vendidos online para pessoas que não suspeitam de sua procedência.
A ativista Lisa Garner conta: “Adotei Lucy, minha Cavalier King Charles Spaniel, em 2013. Ela foi abusada em uma fazenda de filhotes em Wales pelos cinco primeiros anos de sua vida, vivendo em condições horríveis que nenhum cachorro deveria suportar e com pouca consideração pela sua saúde ou bem-estar. Lucy era a mãe daqueles filhotes fofos vendidos sem suas mães em lojas de animais ou divulgados em propagandas online. Esse é o motivo pelo qual nós nos manifestamos pela mudança”.
Lisa tem dicas excelentes para quem estiver pensando em agregar um membro na família: “Lucy e eu sempre recomendamos que os futuros tutores considerem antes adotar um cachorro; você pode encontrar várias raças e inclusive filhotes nos abrigos. Isso não apenas teria um grande impacto nas fazendas de filhotes, diminuindo sua demanda, como também salvaria vidas”.
“Filhotes nunca devem ser transportados por longas distâncias, separados de suas mães muito cedo e enviados para lugares distantes em condições ruins, inclusive muitos deles não aguentariam a viagem”, finalizou.