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LONGEVIDADE

Conheça Pépito, gato francês que ficou famoso por "avisar" quando sai e volta para casa e que está completando 18 anos

Com rotina registrada por sistema automatizado desde 2011, o gatinho soma quase 1 milhão de seguidores

7 de setembro de 2025
Murilo Rodrigues
7 min. de leitura
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Foto: @pepitothecat2007/Instagram

Quem utiliza a rede social X (antigo Twitter) já deve ter se deparado com a imagem de um gato preto, chamado de Pépito, atravessando uma pequena portinhola. A foto, quase sempre idêntica, vem acompanhada da frase curta: “Pépito is in” ou “Pépito is out”(Pépito está dentro ou Pépito está fora, em tradução literal).

Nesta quinta-feira (04/09), Pépito completou 18 anos. O gato vive em Nantes, na França, com o engenheiro Clément Storck que, em 2011, criou um sistema automatizado capaz de registrar cada movimento do animal. A cada vez que Pépito cruza a portinha, a câmera dispara e a publicação vai ao ar na rede social.

Hoje, além do X, Pépito também tem perfis no Instagram e no TikTok. A conta principal soma mais de 866 mil seguidores e a comunidade que se formou ao redor do perfil ganhou características próprias.

O público brasileiro, em especial, segue fielmente o gatinho e é ativo no painel de comentários que acompanha as publicações, misturando recados carinhosos com referências de memes.

Quem é Pépito?

Pépito nasceu em 2007 e poderia ser apenas mais um gato preto de bairro. Foi adotado ainda filhote, aos quatro meses, por Storck, em Nantes. Em entrevista para a Vice, em 2016, o tutor explicou que o gato sempre mostrou preferência por longos períodos fora de casa, entre cochilos no sol e passeios pela vizinhança.

Essa personalidade ajudou a dar autenticidade ao perfil, já que o gato não interpreta nem “atua”, apenas vive como sempre viveu.

“O Pépito é bem independente. Ele gosta de carinho, mas não como outros gatos, que gostam muito e podem ficar no sofá com você. Ele gosta de viver a maior parte do tempo sozinho e, às vezes, só vai com você quando quer e dorme no sofá”, descreveu Storck.

A primeira grande repercussão ocorreu em 2014, quando uma foto de Natal ultrapassou seis mil curtidas. Três anos depois, em 2017, o gato ficou mais de 22 horas sem voltar para casa e mobilizou a internet.

Agora, aos 18 anos, Pépito segue reunindo fãs. No início de agosto, o perfil do X anunciou uma mobilização para celebrar a data. O post convidava seguidores a enviar vídeos curtos com mensagens de parabéns, registros de animais domésticos participando ou imagens de suas cidades. O material, segundo Storck, fará parte de uma coletânea especial que será publicada nas contas oficiais do gato.

Fãs brasileiros

A primeira vez que o Brasil se aproximou de Pépito foi em 2017, quando o gato passou mais de 22 horas sem voltar para casa. A ausência virou trending topic — que é quando um tema fica entre os assuntos mais comentados do momento — e mobilizou uma comunidade que, entre memes e correntes, pedia pelo retorno do gato francês.

Hoje, em determinados momentos, as mensagens em português chegam a dominar o painel instalado na casa do gato. “Como foi na balada, Pepito?”, “Vai dormir, Pepito” ou “Sextou, Pépito! Beijos do Brasil” estão entre as frases mais comuns.

Até mesmo a política e o esporte entram em cena, com recados como “Pepito, o Bortoleto ficou em sexto na F1, REPITO, sexto” ou “Pepito, avisa se o presidente já falou”.

O que explica o sucesso do Pépito?

Poucos animais conseguiram se firmar como Pépito. Para o especialista, a resposta está justamente no básico: a cena de um gato sendo gato, sem “invencionices”.

“Tu vê o gato fazendo gatice, as pessoas adoram gatos, e isso desperta algo bom no meio de tanta informação pesada que a gente recebe todos os dias, é uma coisa que mexe com a gente”, explica.

A repetição também faz a diferença para a viralização. Embora os posts sejam quase sempre iguais, é nesse padrão que muitos seguidores encontram uma espécie de “rotina” e “conforto” entre cada post.

“É quase como um Tamagotchi 2.0. As pessoas acompanham o gato crescer, esperam pelas atualizações, criam afeto sem precisar cuidar do animal. Vira parte do dia a dia”, compara Pase.

Outro ponto, segundo ele, é que a conta nunca se associou a marcas. Não há propaganda de ração, nem publis disfarçadas. Pepito seria, basicamente, um “influencer orgânico”.

“Tu tem um animal doméstico, que, na verdade, ele é eletrônico, mas sabe que ele está lá, dá esse “sabor especial”. Talvez até por não estar atrelado a marcas, o Pépito seja visto com mais autenticidade”, analisa o pesquisador.

Entenda como funciona o sistema automatizado

Apaixonado por tecnologia e automação, o engenheiro Clément Storck, tutor do gato, viu na rotina do gato a chance de testar uma de suas criações: um sistema capaz de enviar notificações automáticas para situações do dia a dia, como avisos de porta aberta ou alertas de campainha.

— O site pode enviar notificações sobre eventos da vida, como se alguém abrir uma porta ou tocar a campainha. Você pode receber uma notificação, enviar um tweet ou receber um e-mail — explicou ele em conversa com a Vice.

O mecanismo era simples: um sensor na portinhola detectava a passagem, disparava a câmera, carimbava o horário e publicava a foto no Twitter. Com o tempo, o processo foi aprimorado. As imagens ganharam qualidade e os posts se padronizaram em duas frases: “Pépito is in” e “Pépito is out”.

A previsibilidade, em vez de afastar o público, fortaleceu a conexão. Milhares de pessoas passaram a compartilhar a rotina paralela do gato. Mais tarde, Storck acrescentou uma tela interativaao lado da portinhola, ligada à conta do X. Cada vez que Pépito entra ou sai, além da foto publicada, surgem em tempo real comentários dos seguidores dentro da própria casa.

Essa camada transformou o perfil em experiência coletiva. Para Pase, o formato é exemplar para entender a lógica de como funcionam as redes.

“Ele documenta a vida do animal, transmite ela e vai mantendo isso. É aquela receita clássica da rede. Quando eu tenho algo, eu vou mantendo, começa a gerar engajamento e faz com que o algoritmo note e passe a repassar. É o tipo de conteúdo “bacaninha” que as pessoas gostam, favoritam e compartilham”, resume.

Mas… é seguro deixar o gato sair para rua?

O entra e sai pela portinhola pode parecer encantador para quem acompanha de longe, mas, na prática, exige alguns cuidados para os tutores. A veterinária Elisa Ponzi lembra que a liberdade amplia riscos e impacta diretamente na expectativa de vida dos animais.

“Gatos que têm acesso à rua geralmente vivem menos do que aqueles que vivem apenas dentro de casa ou do apartamento. Isso não é só percepção, é algo que vemos com frequência nas estatísticas. Os gatos têm um repertório muito limitado de sintomas que demonstram para nós, e, fora de casa, fica ainda mais difícil acompanhar detalhes como a produção urinária, a frequência e o aspecto das fezes, se há diarreia, constipação ou até alterações no apetite”, afirma.

Entre os perigos, estão atropelamentos, maus-tratos, brigas com outros animais, envenenamentos e transmissão de doenças por contato com gatos de rua, de verminoses a pulgas e carrapatos.

Animais não castrados podem ainda se reproduzir, ampliando a população de rua. Diferentemente de Pépito, que sempre retorna para casa, muitos podem simplesmente não voltar.

A recomendação é evitar o acesso livre à rua, mantendo a residência protegida com telas, muros ou grades.

O equilíbrio passa por enriquecer o ambiente interno com prateleiras, arranhadores, brinquedos que simulem caça, fontes de água, circuitos verticais e janelas teladas com sol e vista.

“Em locais mais tranquilos, sem avenidas movimentadas, pode até ser mais viável permitir algum acesso externo. Para reduzir os riscos, existem alternativas como treinar o gato para passeios com guia e peitoral, condicionar saídas supervisionadas ou permitir que ele vá para fora apenas quando o tutor acompanha”, finaliza Elisa.

Fonte: GZH

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