EnglishEspañolPortuguês

Conheça o manifesto lido por protetores contra o uso de animais em rituais

26 de outubro de 2010
9 min. de leitura
A-
A+
Defensora dos animais e vegetariana, Mônica defendeu o respeito à vida (Foto: Gustavo Annunciato)

Conforme já publicado na ANDA, protetores dos animais de Piracicaba (SP) estão mobilizados na derrubada do veto ao Projeto de Lei do vereador Laércio Trevisan Júnior (PR), que tem como objetivo proibir os maus-tratos aos animais no município.

Mônica Rodrigues de Faria, defensora independente de proteção aos animais indefesos, ocupou a Tribuna da Câmara de Piracicaba, em SP, na reunião ordinária de ontem (25) para a leitura de manifesto e comentários sobre diversos aspectos que acompanham a discussão  de lei que proíbe o uso de animais em rituais religiosos, sob a ótica de que deve haver ética na religião. A consideração é que a Câmara de Piracicaba recentemente aprovou uma lei que punirá quem usar animais em rituais religiosos, sendo que o prefeito municipal já anunciou que vetará a propositura, se comprometendo na elaboração de uma nova legislação.

No manifesto, o alerta é pelo respeito aos animais, que devem estar acima das religiões, da arte, da diversão, por serem sencientes, com capacidade de sofrer, sentir prazer ou felicidade, sendo nossos companheiros de existência no planeta Terra.

A defesa é pelo legítimo direito da expressão e da fé de qualquer religião que seja. “Apenas gostariamos que todos escutassem com atenção. E mais, que analisassem com o coração. Deixem que a sensibilidade tome conta do coração de vocês enquanto escutam o texto a seguir”, disse.

Mônica discorreu sobre o conceito de religião, do Latim, que significa prestar culto a uma divindade, ligar novamente, ou só religar. O termo pode ser definido como um conjunto de crenças relacionadas com aquilo que parte da humanidade considera como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o conjunto de rituais e códigos morais que derivam dessas crenças.

A consideração é que onde há religião, existe a ligação com Deus ou com deuses, devendo haver ética, compaixão, proteção e respeito. O entendimento é que o projeto de lei, que coíbe o uso de animais em rituais religiosos, aprovado pela Câmara, corre o risco de ser vetado. Talvez arguindo que a lei de liberdade religiosa que existe está contemplada na Constituição, ou talvez porque a lei federal no. 9.605/98 já existe para combater crimes contra os animais.

O certo é que nenhuma manifestação artística, nenhum culto, filosofia religiosa, religião, está acima do direito à vida que os animais têm. Mas não se pode mais admitir que as coisas fiquem estagnadas e não evoluam para atitudes de paz, amor, bondade, respeito, porque a tão falada ancestralidade não pode ser mudada, não pode evoluir, perguntou a oradora.

Mônica lembrou que povos antigos praticavam rituais bárbaros e sanguinários com animais, meninas virgens, crianças. E, se não tivessem evoluídos, perguntou a defensora dos animais, indagando sobre o que aconteceria se hoje alguma religião arrancasse o coração de uma criança como fazem com diversos animais e os deixassem morrer de hemorragia, em situação dolorosa e lentamente. A consideração é que em pleno século 21, ressuscitar cultos Astecas por exemplo e, matar em nome da fé, do culto, da ancestralidade, sendo óbvio que isto seria inaceitável, impensável e criminoso. Mas porque com os animais isso acontece? Porque simplesmente não podem falar? Não podem vocalizar pedindo por suas vidas? É justamente por isso que nós protetores, amantes dos animais nos unimos e passamos a pedir em nome deles.

Pedimos para que haja um pouco de clemência, de humanidade no trato com os animais.
Tudo nesse planeta evolui e porque os praticantes da Umbanda, Candomblé, Quimbanda, não podem passar por evoluções?

Mônica disse que existe no litoral de São Paulo uma mãe de Santo que quebrou a tradição, transformando a ancestralidade e que usa novas formas para cultuar seus orixás. Seu nome é Iya Senzaruban – Mãe de Santo Vegetariana, que deixou de lado os rituais de sangue. Iniciada no Candomblé aos 7 anos, tornou-se mãe-de-santo aos 14 anos. Já adulta, no Sri Lanka entrou no culto a Krishna e Shiva e acabou descobrindo uma forma para substituir, em sua alimentação e nos rituais, os animais e ingredientes de origem animal. Iya Sensaruban é uma mãe-de-santo vegetariana que utiliza uma nova forma de reverenciar o Santo.

Segundo Mônica, é claro que existem os mais tradicionalistas que condenam as mudanças, mas com certeza tudo no planeta precisa evoluir, e evolução só vem com muita informação.

Vegetariana há 25 anos, atuante na área de saúde, ela é também responsável pelo Grupo Ile Iya Tundé, entidade filantrópica que atua há 22 anos em Itanhaém, no estado de São Paulo.

Mônica destacou alguns trechos de entrevista da mãe de Santo. A consideração é que os orixás são forças da Natureza. Se o filho trata bem a natureza, o ser humano, os animais, plantas, com certeza o orixá vai tratá-lo bem.

“Assim como eu, tem muita gente que é do santo, que é do candomblé e que não gosta da matança e se sente meio acuada. Tem gente que adora, gosta, ama os orixás, admira o ritual que é muito bonito, muito completo, mas na hora de participar de uma matança, “o bicho pega”. A proposta do vegetarianismo no candomblé é fazer de uma outra forma, sem prejudicar o tipo de energia que a gente trabalha, sem mudar muito. As mudanças são muito poucas. Não são eliminados os elementos da natureza, que é o que o candomblé trabalha, as forças da natureza”, relata a mãe de santo.

A consideração é que a energia de sangue é muito pesada. Ela traz muita proteção mas ao mesmo tempo traz muita sujeira espiritual. “Hoje em dia eu procuro ter uma limpeza espiritual e conseguir a mesma coisa sem ter que fazer uma matança”, disse.

Hoje em dia os pais-de-santo estão muito mais cultos. É uma nova época dentro do candomblé. As pessoas estão buscando mais conhecimento. Toda religião precisa evoluir, senão fica estagnada e morre.

“A respeito da matança, eu acho que os meus filhos-de-santo que já têm casa vão aproveitar muito mais esta situação renovada e talvez daqui a 10 anos a gente tenha alguma resposta. Isso porque há uma restrição muito séria a respeito disso. Mas aos poucos eu acredito que a gente vai atingindo as pessoas. Afinal, alguém tem que começar, né?”, disse.

“Matar os animais é algo que espiritualmente não faz bem, pois você está tirando a vida e depois comendo cadáveres. Não é nada sadio espiritualmente falando. Eu sou uma mãe-de-santo e não estou aqui para questionar a situação de ninguém. Nasci numa situação tradicionalíssima e não posso negar de onde eu vim. Para algumas pessoas isso é o que serve. Para mim não serve mais. A minha função, assim como para quem se sente nesta situação, é encontrar uma nova forma de louvar os orixás sem ofender os outros seres vivos. Eu acho que é uma demonstração de boa vontade para com Deus”, disse.

“Esses são trechos esclarecedores que mostram que todos nós podemos mudar, evoluir, encontrar novas formas de louvar, de praticar a fé. Pedimos aos Pais e Mães de Santo de todos os Terreiros de Piracicaba, apenas compreensão, respeito aos animais e a vontade de construirmos um mundo melhor e com menos violência tanto para humanos quanto para os animais. Assim como uma praticante da fé e religião de vocês conseguiu quebrar tabus e transformar o modo de ver a religião e agir, aguardamos com muita esperança no coração que essas palavras tenham tocado vocês e as mudanças aconteçam”.

E para finalizar, Mônica destacou as sábias palavras de Albert Schweitzer – Alemão, Teólogo, Músico, Filósofo, Médico e Ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1952):  “é destino de toda verdade ser objeto de ridículo quando exposta pela primeira vez. Era considerado idiotice se supor que homens negros eram realmente seres humanos e tinham que ser tratados como tal. O que uma vez foi considerado estupidez foi reconhecido como verdade. Hoje em dia é considerado exagero se proclamar constantemente o respeito por cada forma de vida, como sendo uma séria exigência de uma ética racional. Mas virá o dia em que as pessoas ficarão espantadas com o fato de que a raça humana existiu por tanto tempo antes de reconhecer que lesar uma vida irrefletidamente é incompatível com a verdadeira ética. Ética é, sem ressalvas, responsabilidade por tudo o que tem vida”.

Assinam o manifesto:

Monica Rodrigues de Faria – Proteção Animal Piracicaba

Cláudio Cavalcanti – Ator/Ex-Vereador RJ

Maria Lúcia Frota Cavalcanti – Proteção Animal RJ

Lúcia Frota – Juíza RJ

Ivana França Negri – Escritora/Proteção Animal Piracicaba

Dr. Cássio Camilo Negri – Médico Piracicaba

Miriam Miranda – Ong ViraLata ViraVida Piracicaba

Vera Gutierrez – Artista Plástica Piracicaba

Sandra Gutierrez – Simpatizante à Causa Piracicaba

Dr. Rogério Gonçalves – Especialista em Direito Animal São Paulo

Elizabeth Bonette – Proteção Animal Piracicaba

Celito Bonette – Artista Plástico Piracicaba

Melissa Bonette – Simpatizante à Causa Piracicaba

Márcio Libardi – Simpatizante à Causa Piracicaba

Shirley Brunelli Crestana – Escritora Piracicaba

Lino Vitti – Escritor Piracicaba

Yolanda Heller – Proteção Animal São Paulo

Joaquim Câmara – Simpatizante à Causa Piracicaba

Dr. Milton Martins – Advogado Piracicaba

Reinaldo Sidney San Juan – Proteção Animal Piracicaba

Izolina Ribeiro – Protetora São Paulo

Patrícia Chaves – Comerciante/Proteção Animal Piracicaba

Maria Cristina Coelho – Simpatizante à Causa Piracicaba

Carina Mendes Barros – Proteção Animal Piracicaba

Zulmira Souza – Simpatizante à Causa

José Maria Barros – Simpatizante à Causa

Dulce da Fonseca – Simpatizante à Causa Piracicaba

Rosângela Crivellani – Simpatizante à Causa Piracicaba

Tássia Crivellani – Simpatizante à Causa Piracicaba

Renata Degaspari – Simpatizante à Causa Piracicaba

Luciano Brunelli Crestana – Simpatizante à Causa Piracicaba

Giuliana Brunelli Crestana – Simpatizante à Causa Piracicaba

Adriano Brunelli Crestana – Simpatizante à Causa Piracicaba

Iraides Brunelli – Simpatizante à Causa Piracicaba

Dóris Selma Crestana – Simpatizante à Causa Piracicaba

Marcela de Faria Rocha – Simpatizante à Causa Piracicaba

Renata Luz – Simpatizante à Causa

Célia Mattos – Protetora São Paulo

Neuza Araújo – Comerciante

Santo Ivo Lucas – Simpatizante à Causa RG Sul

Denise Mariano Bertazzoni – Simpatizante à Causa RG Sul

Cléia Aragão – Simpatizante à Causa

Ana Cláudia Alves – Simpatizante à Causa Piracicaba

Isabeli Pereira Bruno – Simpatizante à Causa Piracicaba

Ana Luiza Pereira Bruno – Simpatizante à Causa Piracicaba

Sílvia Regina de Oliveira – Simpatizante à Causa Piracicaba

Geraldo Vital Guerra – Simpatizante à Causa Piracicaba

Sueli Reis – Simpatizante à Causa Piracicaba

Amanda Cristina Cassimiro – Simpatizante à Causa Sto. André

Neiva Rizzato – Simpatizante à Causa Piracicaba

Fátima Schiavolin – Simpatizante à Causa Piracicaba

Andréia Guedes – Simpatizante à Causa Rio das Pedras

Priscila Santos – Simpatizante à Causa Piracicaba

Mariana Peron – Simpatizante à Causa Piracicaba

Renata Viviane Pavan – Simpatizante à Causa Rio Claro

Robson Nascimento – Simpatizante à Causa RJ

Denise Deperon – Simpatizante à Causa Sta. Cruz das Palmeiras

Luciara Bruno Garcia – Simpatizante à Causa São Paulo

Marcia Regina M.Saad – Simpatizante à Causa Piracicaba

Adalgreise Beatris P.Correa – Simpatizante à Causa Piracicaba

Miriam Borges – Simpatizante à Causa Piracicaba

Fonte: Câmara Piracicaba

Você viu?

Ir para o topo