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Conheça histórias de animais que ganharam vida nova depois de serem explorados nas guerras

20 de outubro de 2010
5 min. de leitura
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Por Giovanna Chinellato (da Redação)

Não se assuste quando Oso, a cachorra tigrada de 36kg, erguer os lábios. “Parece que ela está rosnando”, diz seu tutor, Sargento Phil Bourrillion de Puyallup. Mas ele insiste: “Ela ergue os lábios como se estivesse sorrindo quando está feliz. É definitavamente um sorriso. Como se ela soubesse que foi resgatada de um lugar horrível e está grata.”

Oso tem muito pelo que sorrir atualmente.

Ela come ração natural e protéica, passeia na traseira de uma picape e ama roer petiscos. Ela brinca em um quintal gramado com seus parceiros caninos Casper e Jersey e dorme na cama com Phil e sua esposa Lena. Esse verão, Oso aprendeu a nadar no rio Puyallup.

Segundo reportagem do jornal The News Tribune, ela está vivendo uma vida de cão- meio mundo distante de sua terra natal, o Afeganistão rural. Soldados da unidade de Bourrillion encontraram Oso ainda filhote e faminta, procurando comida no lixo, no verão de 2009.

Hoje, Oso está entre uma parcela de cães e gatos sortudos que foram resgatados do Afeganistão e Iraque com ajuda da entidade britânica Nowzad e voluntários do mundo todo.

Pen Farthing, fundador da Nowzad, escreveu o livro “One dog at a time: Saving the strays of Afeganistan” (Um cão por vez: Salvando vira-latas no Afeganistão). O nome da organização vem de uma pequena cidade na província de Helmand chamada Now Zad, onde Farthing e colegas soldados da Marinha Real do Reino Unido começaram a resgatar animais.

Oso foi resgatada muito recentemente para estar no livro, publicado em agosto. Mas ela é um dos animais do website da Nowzad e do da entidade americana Soldiers’ Animal Companions Fund que arrecada fundos para a Nowzad.

Incontáveis vira-latas rondam o Afeganistão e Iraque devastados pela guerra, e apenas alguns encontram abrigo temporário com soldados que se compadecem. Quando os soldados partem, eles não podem levar os animais no transporte militar, deixando-os sozinhos para enfrentar um destino cruel e incerto.

Fotos: SAC Fund

“Os afegãos não vêm cães como companheiros”, disse Bourillion, 31. “Eles usam-nos para trabalho com ovelhas, ou fazem-nos lutarem por dinheiro.” Além disso, o taleban considera os cães “sujos, impuros”.

“Eles podem acabar como objeto de treino de tiro, explodidos, atropelados, ou simplesmente morrerem de fome”, o site do Soldiers’ Fund diz. “Seu único valor é serem usados em rinhas, um dito esporte tão absurdamente cruel que os rabos e orelhas dos cães são arracados para se tornarem ‘melhores competidores’.”

Bourrillion e sua esposa, Lena, não podiam deixar que isso acontecesse com Oso.

Lena vinha ouvindo as histórias de Phil e vendo as fotos da filhote desde que a unidade encontrara-a e seus dois irmãozinhos. Na época, Phil era parte da 5th Stryker Brigade’s 3-17th Field Artillery Regiment from Joint Base Lewis-McChord.

Os homens levaram os filhotes para a base e a unidade de Phil adotou Oso. Eles fizeram uma casinha com caixas, fizeram uma cama com roupas e toalhas, e alimentaram-na com atum, galinha e outros restos.

Eles a chamaram de Oso, que em espanhol significa urso, porque ela parecia com um ursinho filhote. Bourrillion acredita que ela seja mestiça de Anatolian Shepherd e Kuchi, duas raças do oriente médio manipuladas para cuidar de ovelhas.

“Ela era nossa pequena companheira. Todo mundo brincava com ela. Ela segui a gente pelo lugar. Era bem amigável.”
De sua forma especial, Oso contribui com a recuperação do trauma de guerra.

“Ela me lembrava de casa”, Phil disse. “Ter uma parte de casa num campo de batalha te ajuda a aguentar até o dia seguinte. Todo mundo amava ter ela por perto.”

No final de novembro de 2009, três meses depois de encontrar Oso, a unidade de Bourrilion foi transferida para outra região afegã. Ele disse à Lena, que estava em casa em Puyallup, que os comandantes do exército lhe obrigaram a escolher entre deixar Oso para trás ou sacrificá-la.

“Ele disse que prefiriria atirar na própria amiga do que deixar outra pessoa o fazer, pelo medo de não saber o que aconteceria a ela”, Lena disse. “Pensei que era a única coisa que eu não deixaria ele carregar na consciência, ele ter de matá-la… Ela era o único raio de sol que ele e os amigos falavam.”

Lena sugeriu tentarem levá-la para casa, e lançou um pesquisa de meses e uma operação de resgate. Depois de colocar pedidos de ajuda na internet, Lena eventualmente contatou a Nowzad e reuniu quase U$3.500 pelo Facebook para salvar Oso. Um doador deu cinco mil adicionais para ajudar outros cães.

“Através de um grupo de pessoas doando tempo e dinheiro para ajudar na viagem de Oso, suas vacinas e papelada, conseguimos fazê-la cruzar o globo”, disse Phil.

A jornada de Oso poderia ser um livro por si só. Um afegão foi contratado para levar Oso centenas de quilômetros pelas linhas inimigas até uma casa segura em Kabul. Uma vez lá, ela contraiu influenza canina e quase morreu. Se recuperou a tempo e fez a viajem de quase 50 horas do oriente médio à Nova Iorque.

Em 9 de fevereiro, Oso e um acompanhante finalmente chegaram no aeroporto SeaTac, e ela começou a viver de verdade.

Quando a unidade de Phil voltou do Afeganistão, em 21 de junho, Oso, de fitas vermelhas, azuis e brancas no pescoço, recebeu-o com uma cerimônia de enxarcar sua cara com lambidas.

O casal Bourrillion continua a arrecadar dinheiro e conscientizar as pessoas pelo bem dos animais. A página do Facebook que Lena criou para salvar Oso continua fornecendo informações de como é possível ajudar animais da guerra a terem vidas novas nos EUA com seus companheiros militares.

Clique aqui para conhecer o SAC Fund (em inglês).

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