Com cada vez mais animais domésticos são diagnosticados com doenças que já são velhas conhecidas dos humanos, como pneumonia, salmonela ou tuberculose. E não são apenas os domésticos que as apresentam – os selvagens, como tigres e leões, e animais com o organismo tão diferente do nosso, como as cobras, também podem sofrer dos mesmos males.
Segundo o biólogo e diretor do Museu Biológico do Butantan, Giuseppe Puorto, répteis e anfíbios têm menor probabilidade de desenvolver as mesmas doenças que os humanos, pois possuem um organismo muito diferente. “Os répteis, por exemplo, são animais que chamamos de sangue frio, precisam de fontes externas para aquecer o corpo. Já os mamíferos têm sangue quente, conseguem manter a temperatura do corpo constante. É uma diferença brutal”, explica. O biólogo também explica que se as condições de manejo de répteis e anfíbios em cativeiro não forem adequadas, doenças como pneumonia e salmonela podem aparecer com maior facilidade. O professor de doenças infecciosas em animais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marcos Bryan Heinemanm lembra que os animais também sofrem com a velhice. “Os animais também ficam senis, enfraquecem, perdem a memória, se confundem, iguaizinhos ao ser humano”.
Que outros animais tem aids?
Felinos domésticos ou selvagens também podem sofrer de Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, mais conhecida como aids. O vírus que causa a doença nos gatos não é o mesmo dos humanos (HIV) e é conhecido como Vírus da Imunodeficiência Felina (FIV), transmitido pela saliva, quando são mordidos ou quando dividem potinhos de água e comida. Mamães de quatro patas também podem passar a doença para os filhos, por meio do cordão umbilical, como nos humanos.
Segundo o professor de doenças infecciosas em animais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marcos Bryan Heinemanm, a doença é parecida com a humana, passando por todas as fases, como a aguda, em que aparecem sintomas confundidos com de viroses, como febre e diarreia. Posteriormente, começa uma longa fase assintomática, que pode durar anos. Então, outras doenças podem aparecer no animal, pois, assim como no ser humano, a imunidade cai.
Tanto felinos domésticos quanto os selvagens, como tigres, podem contrair o vírus. Para comprovar a suspeita, exames laboratoriais são feitos. Para prevenir que o animal doeça, é recomendado castrá-lo a fim de evitar brigas com outros gatos. Existe uma vacina, mas que ainda não consegue combater o retrovírus totalmente.
A obesidade em animais leva a doenças cardíacas?
Um dos principais problemas de saúde do Brasil e do mundo, considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) o principal problema de saúde a combater nos países desenvolvidos, a obesidade não afeta apenas os humanos. Tanto em animais domésticos quanto em selvagens que tiveram a alimentação afetada por desequilíbrio ambiental, a doença é causada pelo consumo calórico maior do que as calorias gastas. Segundo a vice-diretora do Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (UnB), Glaucia Bueno, é mais comum em animais idosos, sedentários, castrados, com hipotireoidismo e que não tenham a alimentação muito controlada pelos tutores, no caso dos domésticos.
O aumento em 20% do peso corporal já pode preocupar. A obesidade pode fazer o animal desenvolver problemas ortopédicos e respiratórios, como a intolerância ao exercício, não aguentando o esforço dos passeios. A diferença da obesidade humana é que ela gera consequências cardíacas. Dessa, os outros mamíferos estão livres. O tratamento em ambos envolve dieta hipocalórica e exercícios físicos. Para prevenir, os tutores devem alimentar os animais somente com ração controlada, evitar os petiscos e levá-los para correr e passear.
Cobra com falta de ar é sinal de pneumonia?
Sabia que uma cobra, um animal totalmente diferente do ser humano, pode ter pneumonia? E mais: o tratamento é igualzinho. Segundo Puorto, todos répteis podem apresentar a doença. No ser humano, a pneumonia pode ser causada por infecções que se instalam nos pulmões. Ares-condicionados, mudanças bruscas de temperatura, bebidas, cigarro e resfriados mal cuidados podem aumentar o risco da enfermidade.
Nos répteis, a doença pode aparecer quando há uma queda brusca de temperatura e o animal não tem como aquecer o próprio corpo. Os sintomas nos humanos vão de febre e dor no tórax a falta de ar e confusão mental. Nas cobras também é verificada falta de ar, demonstrada quando elas levantam a cabeça para respirar e soltam uma espécie de muco pelas narinas. O tratamento é feito a base de hidratação e antibióticos, os mesmos utilizados pelas pessoas.
Hipertensão é frequente entre animais?
Segundo a vice-diretora do Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (UnB), Glaucia Bueno, das doenças comuns entre humanos e animais, a hipertensão é a mais frequente. Podendo surgir a partir de doenças renais, endócrinas ou idiopáticas. Nos humanos, a doença pode ter outras causas, como o estreitamento das artérias aumentando a força que o coração precisa fazer para bombear o sangue e recebê-lo de volta.
Assim como nas pessoas, a pressão alta geralmente é assintomática. Em alguns seres humanos, sintomas como dor de cabeça, tontura e dor no peito podem aparecer. Quando a pressão arterial está muito elevada nos bichinhos, pode acarretar lesões em órgãos como coração, cérebro e olhos. O tratamento é feito com fármacos humanos, como os vasodilatadores. A prevenção é feita evitando a doença base.
Répteis têm diarreia?
Sim! E pode ser um sintoma da salmonela, doença causada pela bactéria de mesmo nome (Salmonella), que causa a intoxicação alimentar. Em humanos, a doença é transmitida pela ingestão de alimentos infectados, principalmente carne, ovos e leite que entraram em contato com fezes infectadas. O manuseio do alimento sem higiene também é um fator causador da doença. As cobras podem adquirir a bactéria em ambientes que já estejam contaminados.
Entre os sintomas comuns em humanos estão náuseas, vômitos, diarreia, febre, dor abdominal, cólicas e mal-estar. Também podem ocorrer desidratação, perda de peso e queda da pressão arterial. Nos répteis, a diarreia também pode aparecer. “Quando os animais selvagens estão em vida livre, eles convivem bem com o ambiente. Mas quando são presos, os parasitas acabam levando vantagens: o animal fica estressado e tem sua resistência diminuída”, explica o biólogo e diretor do Museu Biológico do Butantan, Giuseppe Puorto.
Tosse canina pode ser sinal de insuficiência cardíaca?
Outros mamíferos também podem sofrer com problemas no coração. No seres humanos, a causa da doença está relacionada com um infarto ou arritmia, se a insuficiência for aguda. Se for congestiva, o problema é que um dos lados do coração não consegue bombear o sangue. Também é comum nas pessoas a insuficiência ser fruto de doenças coronarianas, relacionadas ao acúmulo de placas de gordura nas artérias, pouco comum em outros animais. Neles, a insuficiência vem de doenças cardíacas já existentes. Nos cães, por exemplo, a doença mais comum é a degeneração da valva mitraltricúspide.
Os sinais clínicos da doença podem se parecer com os humanos. Nos cães, é possível detectar tosse, cansaço fácil, desmaios e dispneia. Nas pessoas, cansaço e fraqueza também aparecem, além da retenção de sal nos rins, aumento do coração, pulso fraco e acelerado e dilatação das veias do pescoço. Para tratar os bichos, são utilizados diuréticos e vasodilatadores da linha humana, juntamente a remédios específicos para os animais.
Existe quimioterapia para animais?
Chamamos de câncer os tumores e neoplasias malignas que também podem afetar outros animais, tanto selvagens quanto domésticos. Entre as causas estão fatores ambientais ou genéticos. Diversos órgãos e tecidos podem ser afetados, como acontece no ser humano. Tumores de mama em fêmeas são comuns. Outros tipos podem ser encontrados como linfomas, tumores de pele, baço, fígado, intestino, ossos, coração ou próstata nos machos. Os sintomas variam de acordo com o órgão afetado.
Para o tratamento, são também utilizadas a quimioterapia e a radioterapia, assim como nos humanos, mas com doses diferentes. Conhecer os fatores que podem favorecer o aparecimento de cada tipo de tumor e avaliações frequentes pelo veterinário podem apontar precocemente a doença, criando assim mais chances de evitar a progressão e de sucesso no tratamento.
Quais os sintomas de infecção generalizada (Sepse) nos animais?
A infecção generalizada é uma resposta inflamatória sistêmica, causada por micro-organismos como bactérias, fungos ou vírus, segundo a vice-diretora do Hospital Veterinário da Universidade de Brasília (UnB), Glaucia Bueno. Os sintomas são parecidos com os dos seres humanos: pressão arterial baixa, mucosa pálida, patas frias, taquicardia e apatia. A doença é muito grave e pode levar à morte se não for tratada logo que aparecer.
O tratamento é efetuado a partir da reposição volêmica (procedimento para manter estável a quantidade de sangue circulando no corpo), antibióticos e vasopressores, os mesmos remédios utilizados em seres humanos. A prevenção é feita com o controle precoce da infecção assim que ela for diagnosticada, não deixando que evolua para o quadro mais grave.
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Fonte: Terra