Por Ana Luiza Yoneda / Redação ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais
Não há dúvidas de que Negra é um chimpanzé fêmea especial. Só de passar alguns minutos em sua presença você já sabe o porquê de seus cuidadores se referirem a ela como a Rainha dos Chipanzés do Northwest Sanctuary, nos EUA.
Como a mais velha de seu grupo de símios resgatados (o santuário irá celebrar seu 41º aniversário no dia 16 de junho), o chimpanzé claramente sabe o que quer e impõe respeito.
Infelizmente, foram necessários 30 anos e uma vida inteira de sofrimento antes que ela pudesse ter a chance de receber a admiração e o respeito que tanto merece.
Capturada na África
Como muitos chimpanzés da sua idade que hoje vivem em cativeiro, a vida de Negra começou nas florestas da África. Ela poderia ter crescido em um grande grupo familiar, cuidando dos seus filhotes e os ensinando a usar ferramentas, procurar comida e fazer ninhos.
Ao invés disso, em 1973, quando Negra ainda era uma criança, ela foi sequestrada de seu lar. Sua mãe provavelmente foi morta e teve sua carne vendida ou deixada na floresta para apodrecer, enquanto Negra foi levada para os EUA de navio para ser explorada em testes biomédicos.
Décadas de pesquisas biomédicas
Negra passou os próximos 35 anos sendo torturada como cobaia para a indústria de testes da biomedicina. Ela passou despercebida por todos esses anos. Apesar de ter sido batizada de Negra pelos que a raptaram, ela provavelmente era mais conhecida pelas letras e números tatuados em seu peito: CA0041.
Ela foi usada para reproduzir — dando à luz mais chipanzés para serem abusados em testes do laboratório. Dois de seus três bebês foram arrancados dela logo após o nascimento e a terceira passou apenas cinco dias com a mãe antes de também ser separada dela para ser criada na maternidade do laboratório.
Negra também foi usada para pesquisas sobre a vacina contra hepatite. Esse teste exigiu que ela fosse repetidamente dopada para extração de sangue e biópsias cirúrgicas do fígado.
No dia 31 de março de 1986, os técnicos do laboratório reportaram que Negra poderia ter uma doença infecciosa e um veterinário ordenou que ela fosse isolada. Embora ela nunca tenha vivido em um grande grupo durante os anos em que foi explorada em pesquisas biomédicas, Negra foi criada perto de outros chimpanzés e às vezes tinha companhia em sua jaula. Porém, da primavera de 1986, até o início de 1988, ela esteve em total isolamento. Os resultados do teste concluíram que ela nunca teve uma doença infecciosa.
Esperança
Apesar de os primeiros 35 anos de sua vida terem sido vividos no tédio e no medo, Negra está deixando esse passado para trás. Em 13 de junho de 2008, ela, junto com seis outros chimpanzés — Annie, Burrito, Foxie, Jamie, Jody e Missy — chegaram em um lugar diferente de todos que eles já conheceram. Esse novo lugar era seguro. Era repleto de coisas que ela ama. Foi a primeira experiência de lar que ela teve desde que foi retirada de sua casa na África.
A equipe, voluntários, e apoiadores no Chimpanzee Sanctuary Northwest, juntamente com sua família de chimpanzés, agora a honram com o título de rainha.
Negra recebe quantos cobertores quiser para fazer ninhos grandes e confortáveis e para usar enrolados em sua cabeça e ombros. Ela ganha sua comida preferida — amendoins — tanto no momento em que acorda, quanto como petisco na hora de dormir. Todos os chimpanzés do santuário amam os petiscos da noite, que incluem sementes, frutas secas e as vezes pipoca ou outras guloseimas saudáveis.
Não há dúvidas de que Negra é especial assim como todos os chimpanzés. De alguma forma, ela representa uma era que finalmente acabou para os indivíduos da espécie que ainda vivem em estado selvagem. Não muito tempo após sua captura, raptar chimpanzés da natureza tornou-se ilegal. Essa lei internacional não é seguida rigorosamente como deveria e os chimpanzés enfrentam a extinção por causa da destruição de seu habitat natural e da caça, mas pelo menos os EUA proibiram a importação de chimpanzés retirados de seu habitat.
O uso de chimpanzés em testes biomédicos também está chegando ao fim, mesmo que, para muitos de nós, isso esteja ocorrendo em um ritmo extremamente lento. Infelizmente, ainda há mais de 900 chimpanzés nos Estados Unidos que são mantidos em cativeiro para pesquisas.
Laboratórios privados, universidades e corporações são responsáveis por quase metade dos chimpanzés restantes no país que são mantidos em cárcere para testes biomédicos. Eles estão em uma espécie de limbo no momento e uma lei, que deve se tornar oficial em breve pelo Serviço de Pesca e Vida Selvagem, irá classificar todos eles como em risco de extinção (não apenas os que estão na natureza) e proibir que sejam abusados em pesquisas nos EUA.
Nota da Redação: A história de Negra é mais uma evidência de que os testes em animais precisam ser proibidos em todo o mundo. O chimpanzé precisou enfrentar uma dor intensa causada pelos contínuos abusos a que foi submetido. Felizmente, Negra foi resgatada e agora desfruta de uma vida digna. Porém, nem todos os animais têm um final feliz e muitos continuam sendo vítimas desta indústria cruel e completamente desumana.