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Conheça a nova lista de espécies de animais ameaçados no Rio Grande do Sul

6 de agosto de 2013
5 min. de leitura
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Depois de anos de pesquisas, deve ser divulgado nas próximas semanas a nova lista de animais ameaçados no Rio Grande do Sul. A lista preliminar, obtida pelas equipes do Teledomingo e do G1, indica que pelo menos 274 espécies correm o risco de desaparecer no estado. Outras 11 já são consideradas regionalmente extintas.

A lista atualmente em vigor foi homologada pelo governo estadual em 2002 e tem 261 espécies. De lá para cá, pelo menos outras 13 entraram na categoria. Os números podem mudar, já que os pesquisadores ainda avaliam as contribuições recolhidas durante o período de consulta pública, mas não devem diferir muito da relação preliminar.

Todas elas estão relacionadas no Livro Vermelho da Fauna Ameaçada de Extinção no Rio Grande do Sul, uma espécie de enciclopédia que descreve os animais ameaçados na fauna gaúcha, situação populacional e principais ameaças, entre outras informações. A publicação é considerada fundamental para as ações de conservação dos animais.

“O objetivo é justamente atualizar essa importante ferramenta, instrumento da política ambiental do estado, que é a lista que indica que espécies da nossa fauna silvestre estão correndo risco real de desaparecerem do estado. Para fins de proteção dessas espécies, de conservação do seu ambiente e das próprias espécies em si”, diz o pesquisador da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, Glaysson Ariel Bencke.

A nova versão da lista está em fase final de elaboração. O novo estudo contou com novos critérios e mais pesquisadores envolvidos. Mais de 40 instituições do Rio Grande do Sul, de outros estados e até do exterior participaram. Mais de 1,5 mil foram animais avaliados.

O resultado de todo esse esforço, no entanto, é preocupante. As 274 espécies em risco representam 17% de toda a fauna silvestre do estado. Destas, 69 espécies foram classificadas com grau máximo de ameaça. O grupo com maior risco é o das aves. Em seguida aparecem peixes, invertebrados, mamíferos, anfíbios e répteis.

Apenas 30 cervos-do-pantanal vivem no Rio Grande do Sul (Foto: Itaipu Binacional/Divulgação)
Apenas 30 cervos-do-pantanal vivem no Rio Grande do Sul (Foto: Itaipu Binacional/Divulgação)

Entre os animais relacionados na categoria “criticamente em perigo” está o cervo-do-pantanal. No estado, a espécie vive em um banhado na cidade de Viamão, na Região Metropolitana de Porto Alegre. Atualmente, existem apenas 30 mamíferos como esse no estado e eles raramente são vistos no local, a não ser com a ajuda de armadilhas fotográficas.

O biólogo Márcio Borges, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (URFGRS), coordenou a avaliação de repteis e anfíbios. Ele estuda uma espécie que mesmo sendo tão pequena causou uma enorme polêmica: o sapinho-verde-de-barriga-vermelha. O anfíbio, que só existe no Rio Grande do Sul, está ameaçado de extinção e por causa disso atrasou a construção de uma hidrelétrica em Arvorezinha, no Vale do Taquari.

“É uma espécie que a gente nem pode dizer que ela estava ameaçada oficialmente porque ela não era nem conhecida quando a gente fez a primeira avaliação. Isso mostra a importância da gente fazer avaliações periódicas, porque a gente está a todo ano descrevendo espécies novas. E esse é um exemplo bem didático e bem representativo disso, uma espécie que a gente descobriu há poucos anos atrás e que já está criticamente ameaçada”, explica o biólogo.

Em pleno ano de 2013, estima-se que apenas metade da variedade de animais existentes no Rio Grande do Sul seja conhecida. Por esse motivo, os pesquisadores tem pressa para descobrir novas espécies antes que elas desapareçam.

“A gente identificou um conjunto de ameaças porque a gente está lidando com uma diversidade enorme de espécies, de ambientes, desde espécies marinhas ate espécies de floresta. Diferentes grupos tendem a ter ameaça, mas a principal é a perda de habitat, é a substituição de áreas naturais por outras funções como agricultura, pecuária, silvicultura ou urbanização”, destaca Márcio.

Descoberto há poucos anos, sapo-de-barriga-vermelha está ameaçado (Foto: Samuel Renner/Divulgação)
Descoberto há poucos anos, sapo-de-barriga-vermelha está ameaçado (Foto: Samuel Renner/Divulgação)

A estimativa dos pesquisadores é de que 36 mil hectares de campos naturais sejam perdidos por ano no estado. É como se 36 mil campos de futebol fossem exterminados e com eles desaparecessem espécies como o cardeal-amarelo, o papagaio-de-peito-roxo, o papagaio-charão e o lagarto que vive nas dunas do litoral.

“Essa é outra espécies que a gente identificou que já era considerada ameaçada. A gente pode avaliar melhor algumas espécies, no caso, algumas espécies de lagartinhos que vivem só nas dunas costeiras do nosso litoral e que vem sofrendo um acelerado processo de descaracterização, de construção de condomínios, sem unidades de conservação. Então, isso permitiu que a gente validasse a nossa avaliação de que a espécie está ameaçada e está perdendo área em um velocidade incrível”, avalia o biólogo.

Mas a nova lista também traz boas notícias. É o caso do gavião-de-penacho. No último levantamento, ele aparecia como “provavelmente extinta”, mas que agora consta na lista como “criticamente em perigo”. Isso porque, embora muito pequenas, pesquisadores encontraram novas populações da ave em pontos variados do estado.

“Desde a última lista, se acabou descobrindo pequenas populações realmente minúsculas, de alguns poucos casais, nos vales remotos da bacia do Rio Pelotas, no Rio das Antas e mais recentemente no Parque Estadual do Turvo. Então, são espécies que se julgava extintas e, com uma cobertura maior do estado em termos de pesquisa de campo, se conseguiu constatar que ainda existem”, destaca Glaysson.

Fonte: G1

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