Por Rachel Siqueira  (da Redação)

Tudo começou no mês passado, quando a doutora Karen Fling, do Orfanato de Pets East Lake, decidiu adotar um par de animais fugitivos – Minelli, um bode, e Judy, uma cadela. Eles foram descobertos vagando nas proximidades de uma capela de casamentos, em Dallas, no Texas (EUA), conforme informações publicadas no jornal Dallas News.

“Eles foram tão queridos e doces desde o princípio”, disse a doutora Fling. “Eram um par inseparável. Dormiam juntos, abraçados, e comiam juntos.”

A caso de amor interespécies imediatamente tocou o coração dos funcionários do hospital de animais e do abrigo sem fins lucrativos de Northwest Highway. Em pouco tempo, fotos do casal de animais já estavam aparecendo em blogs e canais de televisão local. Mas foi aí que os problemas começaram.

“Como viemos a descobrir, estávamos violando uma lei do Texas, sobre a qual eu nada sabia, ainda que seja veterinária por muitos anos”, disse Fling.

Pelo que parece, é ilegal oferecer abrigo a animais fugitivos.

Doutora Fling disse que tentou argumentar com o delegado do condado de Dallas, que ligou para seu  gabinete dizendo ser ilegal abrigar animais fugitivos. Ela se dispôs a evitar problemas, concluindo que talvez a cabra poderia ser realocada para outro município antes que autoridades chegassem.

O delegado – que aparentemente acreditava levar muito a sério sua tarefa de proteger os animais – a informou que ela poderia ser acusada de roubar o bode.

“Ficou claro, desde o princípio, que teríamos de cooperar com o delegado”, disse Fling.

No final daquela tarde, o bode foi levado, num balido desesperado, e trancado num curral com outros bodes fugitivos. Dra. Fling foi informada de que, se os tutores do bode não se pronunciassem, ele seria enviado à cidade de Atenas, no Texas, e vendido em um leilão por cerca de US$ 35.

“Para nós, isso foi um pensamento terrível, que esse bode de estimação – nomeado Minelli – acabaria virando jantar em algum momento”, disse Fling. “A única coisa boa foi que, neste momento, muita gente conhecia a história.”

Ela disse que os delegados de polícia teriam subestimado o poder de mobilização da política e da imprensa.

Após mais um tanto de cobertura da mídia e ligações de repórteres, o delegado de Dallas, John Wiley Price, tentou acalmar a tempestade.

“Não vai ser leiloado”, disse John Price, para as câmeras de televisão. “Isso eu garanto”.

Foi quando os tutores de Minelli entraram em cena para devolver custódia de seu bode de estimação ao Orfanato de Pets de East Lake, onde ele poderia reencontrar Judy, sua companheira cadela. Eles também abandonaram um cão retriever de três pernas, chamado Lucky, alegando não poder arcar com seus custos veterinários.

“Aparentemente, o cão retriever estava infeliz em casa, definhando porque seus dois amigos, a cadela Judy e o bode, tinham ido embora”, disse Dra.Fling. “Assim, a família trouxe-nos o cão retriever para que eles pudessem ficar todos juntos.”

Pouco depois, Gabriela Pataro, proprietária do Café do Lago, um dos primeiros restaurantes da cidade em que a permanência de animais com seus tutores é concedida – deu uma festa para levantar fundos que ajudassem a custear os gastos veterinários dos três amigos.

Gabriela Pataro disse que levantou mais de US $ 2.000 para o tratamento dos três animais, que na realidade pode vir a custar mais de $ 4.000, quando os três forem tratados dos parasitas, esterilizados e castrados, e os cães vermifugados.

Todos os envolvidos concordam que Minelli, Lucky e Judy foram beneficiados pela boa oportunidade, pela boa imprensa.

Em poucos dias, mais de 300 pessoas demonstraram interesse nos animais, que acabaram sendo adotados juntos, por uma só família. Eles devem estar suficientemente saudáveis para seu novo lar em cerca de três semanas.

Por que tantas pessoas se solidarizaram para o resgate?

Dra. Fling acha que pode ser porque tantos animais são perdidos a cada dia. Cerca de 60 mil cachorros e gatinhos nascem na região de Dallas todos os anos, e a maioria deles não tem para onde ir.

Ela disse que veterinários e pessoas que amam animais enxergam a realidade dos números a cada dia – cães abandonados, amarrados a postes, gatinhos dentro de caixas, na calçada, e coisas bem piores.

“A realidade é que 200 mil animais de estimação morrem a cada ano. Temos que falar sobre isso porque é um problema em toda a nossa comunidade”, disse a veterinária. “Neste caso, graças a Deus, encontramos uma solução ótima, mas em muitos outros casos, não”.