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DESTRUIÇÃO AMBIENTAL

Congo leiloa áreas de floresta intacta e ameaça habitat de gorilas para exploração de petróleo

Áreas de leilão cobrem mais da metade do país e avançam sobre áreas de conservação e comunidades; especialistas alertam para impactos sociais, ambientais e climáticos

30 de julho de 2025
3 min. de leitura
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Jovens bonobos no santuário de Bonobos Lola Ya, na República Democrática do Congo. Foto: Getty Images

A República Democrática do Congo (RDC) abriu para leilão mais de 124 milhões de hectares de terras e áreas alagadas, incluindo florestas tropicais intactas e habitats de espécies ameaçadas, como os gorilas e bonobos, com o objetivo de expandir a exploração de petróleo e gás no país. Segundo especialistas, trata-se de uma das piores regiões do mundo para prospectar petróleo, tanto por seu valor ambiental quanto pelos riscos econômicos e sociais envolvidos.

A nova rodada de licenças, anunciada este ano, oferece 52 blocos petrolíferos, além de três já concedidos anteriormente. Um relatório da organização Earth Insight, elaborado em parceria com grupos locais como Notre Terre Sans Pétrole, Corap e Rainforest Foundation UK, mostra que 64% da área coberta pelos blocos são de floresta tropical intacta, relata o The Guardian.

“A pior região do mundo para explorar petróleo está novamente sendo leiloada”, alertou o professor Simon Lewis, da University College London, que liderou o mapeamento de turfeiras (ecossistemas de transição entre ambientes terrestres e aquáticos) na Bacia do Congo. “Nenhuma empresa séria deveria apostar em petróleo nas florestas e turfeiras do Congo. É economicamente inviável e ambientalmente desastroso.”

A expansão vai na contramão dos compromissos climáticos assumidos pela RDC, incluindo o recente projeto de conservação “Corredor Verde Kivu-Kinshasa”. De acordo com o relatório, 72% dessa área de conservação agora se sobrepõe aos blocos de petróleo.

Entre as regiões ameaçadas está a Cuvette Centrale, maior complexo de turfeiras tropicais do mundo, que armazena cerca de 30 bilhões de toneladas de carbono. O local abriga elefantes, gorilas de planície, chimpanzés e aves endêmicas, sendo considerado um dos ecossistemas mais preciosos do planeta.

Além dos riscos ambientais, cerca de 39 milhões de pessoas vivem dentro da área prevista para exploração, incluindo diversas comunidades indígenas e populações que dependem diretamente da floresta.

“Imagine: 39 milhões de congoleses… e 64% das nossas florestas podem ser afetadas por esses blocos”, denunciou Pascal Mirindi, coordenador da campanha da Notre Terre Sans Pétrole. “Enquanto isso, o governo promove o corredor ecológico de Kivu-Kinshasa. Onde está a lógica? Onde está a coerência?”

A crise é agravada pela demora no repasse de recursos internacionais para conservação. Em 2021, a RDC assinou um acordo de US$ 500 milhões com a Iniciativa da Floresta da África Central (Cafi), durante a COP26, para conter o desmatamento e restaurar áreas degradadas. No entanto, apenas US$ 150 milhões foram efetivamente repassados até agora. Fontes ligadas às negociações classificam a situação como um “fracasso coletivo” da comunidade internacional.

O relatório pede o cancelamento do leilão previsto para este ano defende investimentos em modelos de desenvolvimento que respeitem os direitos das comunidades locais.

Fonte: Um só Planeta

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