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ESTUDO

Comportamento homossexual em animais é mais comum do que se pensava

21 de junho de 2024
3 min. de leitura
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Foto: Ilustração | Freepik

Uma equipe de antropólogos defende que comportamentos sexuais entre animais do mesmo sexo são mais comuns do que a ciência imagina. Essa “subnotificação” apareceu em entrevistas que o grupo fez com 65 especialistas do reino animal, responsáveis por estudar 52 espécies diferentes. O artigo que descreve a descoberta foi publicado esta semana na revista PLOS One.

Segundo o levantamento, 77% dos entrevistados já observou comportamentos homossexuais – como montagem ou estimulação genital – durante suas avaliações. Porém, apenas 48% recolheram dados sobre essas atividades. Um número ainda menor deles, 19%, publicou a descoberta.

Pinguins e macacos-japoneses tornaram-se os exemplos mais recorrentes de animais praticantes de acasalamentos entre indivíduos do mesmo sexo. Durante anos, práticas homossexuais entre essas espécies foram apresentadas como “pontos fora da curva”, dizem os pesquisadores.

Como destacou o jornal britânico The Guardian , George Levick, um explorador que tomou notas detalhadas sobre o ciclo reprodutivo dos pinguins-de-adélia ainda na década de 1910, já havia percebido que frequentemente indivíduos machos faziam sexo entre si. Mas, pelo fato ser considerado “muito chocante” para a época, o cientista decidiu não incluir isso no relatório oficial da expedição. Foi somente 50 anos depois da publicação original de Levick que o comportamento pôde finalmente ser anexado à literatura científica.

Hoje, práticas homoafetivas em muitas outras espécies já foram registradas. Este estudo de 2023, por exemplo, pelo menos 1,500 espécies de animais possuem comportamentos homossexuais registrados. Isso inclui vertebrados como peixes, anfíbios, répteis, aves e mamíferos. Mas também invertebrados, como insetos, aranhas, equinodermos e nemátodos (vermes alongados).

A pesquisa pontua também que comportamentos sexuais entre animais do mesmo sexo é prática mais comuns em primatas, aparecendo em pelo menos 51 espécies, de lêmures a macacos.

Apesar desse crescimento, o comportamento ainda é visto por muitos como “raro”. Na visão de Karyn Anderson, antropóloga que liderou o estudo e conduziu as entrevistas com os especialistas, isso explica por que, mesmo que a homoafetividade apareça, muitas vezes esses registros não chegam a aparecer em estudos publicados.

Comportamento “raro”

“A partir dos resultados que encontramos, podemos afirmar com certeza que o comportamento sexual entre indivíduos do mesmo sexo é generalizado e natural no reino animal”, afirma Anderson ao The Guardian. “Por isso, os registros históricos sobre as espécies precisam ser corrigidos”.

Os entrevistados pelo estudo afirmaram que sua escolha por não publicar as observações sobre os comportamentos homoafetivos não foi influenciada por preocupações sociopolíticas. Apesar disso, muitos indicaram que as revistas cientificas pareciam tendenciosas contra a publicação de relatórios sobre observações pontuais em comparação a estudos mais sistemáticos.

Outro argumento diz respeito à própria estrutura da sociedade: no passado, comportamentos sexuais e afetivos entre pessoas do mesmo sexo eram mais reprimidos. Agora, com uma maior aceitação, é natural que a prática fique mais em evidência.

No passado, os comportamentos homoafetivos eram enquadrados como um “paradoxo darwiniano”. Supostamente, a homossexualidade seria contrária à pressão evolutiva sobre as espécies, que, para sobreviverem, deveriam se reproduzir.

Há evidências crescentes, no entanto, de que alguns comportamentos sexuais entre indivíduos do mesmo sexo podem ter vantagens evolutivas. Nos cisnes negros, por exemplo, os casais macho-macho frequentemente cortejam-se, roubam ovos, criam filhotes juntos e têm mais sucesso em garantir a sobrevivência de filhotes do que casais de cisnes heterossexuais.

Fonte: Galileu

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