Por vários anos, uma equipe de pesquisadores utilizou microfones subaquáticos para ouvir focas na orla da Antártica. Suas descobertas, divulgadas na revista científica Frontiers in Ecology and the Environment, indicam que o recuo do gelo marinho teve efeitos significativos no comportamento dos animais: quando a superfície gelada desaparece, os animais ficam mais silenciosos.
“O que é único em nosso estudo é que, pela primeira vez, fomos capazes de avaliar gravações cobrindo oito anos [de 2007 a 2014] e as quatro espécies de focas da Antártica [foca-caranguejeira, foca-de-Weddell, foca-leopardo e foca-de-ross]”, relata a autora Irene Roca, em comunicado. A área estudada está localizada a 2 mil quilômetros da Cidade do Cabo, na África do Sul, dentro do Mar de Weddelln.
O destaque da pesquisa vai para a virada do ano de 2010 para 2011. Na ocasião, a região de investigação estava praticamente sem gelo, com menos de 10% das águas congeladas, e, não à toa, havia muito menos focas do que nos outros sete anos.
Como os especialistas instalaram apenas um microfone subaquático na área, não está claro se as focas migraram durante a temporada e, em caso afirmativo, para onde. Mas fato é que a população estava reduzida.
As espécies antárticas precisam de gelo marinho para sobreviver, pois é sobre essas tradicionais coberturas que dão à luz e amamentam seus filhotes. Na costa do Mar de Weddell, isso normalmente ocorre durante a primavera e o verão, de outubro a janeiro, quando a região recebe centenas de visitantes atraídos pela oferta de comida abundante.
Por isso, a equipe considera preocupante as observações da temporada 2010/2011. Se, devido às mudanças climáticas, a tendência para o futuro for a variação da cobertura de gelo marinho, a região oferecerá às focas uma opção menos confiável como criadouro. Os últimos oito anos foram todos caracterizados por extensões de gelo marinho abaixo da média histórica.
Os especialistas ainda não sabem dizer exatamente como a falta de gelo marinho pode afetar as populações de focas, porque faltam dados sobre as espécies da Antártida. Mas, com base naquelas do Ártico, sabe-se que o animal requer uma espessa cobertura de neve para fazer pequenas cavernas para seus filhotes, pois recém-nascidos morrem quando há muito pouco gelo.
Como a coleta de dados sobre focas é extremamente difícil, uma vez que só podem ser contadas a partir de embarcações ou helicópteros, a equipe acredita que os dados acústicos obtidos são um patrimônio único. O material poderá ser utilizado como base para outros estudos.
Fonte: Revista Galileu