Para o líder espiritual tibetano Dalai Lama, compaixão é colocar-se no lugar do outro.
Sonia Caffé, em seu pequeno livro Meditando com os Anjos, nos ensina que o ser compassivo compreende o outro dentro de si mesmo com uma energia e atitude positivas, atraindo a presença da luz que revela a verdade e o amor que transforma e cura”.
Aquele que com compaixão doa a cura também é curado, se assim for para ser…
Quando desviamos a atenção de nossas pequenas e grandes preocupações e passamos a enxergar as necessidades do outro, acabamos por nos esquecer das próprias aflições e damos espaço para que as soluções apareçam.
Quando nos permitimos realmente ver, e nos envolver com o que se passa ao nosso redor, ficamos tão envolvidos em prestar ajuda, ficamos tão mais conectados com o Todo, que nossas grandes preocupações não mais encontram tanto espaço para nos afligir e acabam solucionadas.
Quando deixamos nosso coração descongelar e nos permitimos sentir – e sofrer (por que não?) – as aflições do outro e agir para ajudar, o sofrimento se transforma em ação e o coração fica alegre por ter a oportunidade de viver sua verdadeira função – fazer o bem.
Se, ao contrário nos fechamos e fingimos não ver e não sentir – justificando que já temos muito com que nos preocupar, aquele pesar fica no subconsciente incomodando nosso sono e anuviando nossos pensamentos. Nosso coração fica triste e desanimado, por perder mais uma chance de sentir-se útil, vivo, pulsante.
Quando nos negamos a enxergar e agir, em geral é por causa do medo. Medo de envolvimento, medo de não ser capaz, medos obscuros, que nos impedem de viver plenamente, que nos paralisam. Todos sentimos medo. Até a pessoa mais corajosa do mundo sente medo, pois coragem não significa a ausência do medo, mas sim coragem de enfrentá-lo.
Pude confirmar essa verdade ao longo dos meus muitos anos de vida. A coragem de enfrentar os medos que me impediam de realizar minhas tarefas terrenas só começou a aparecer quando me permiti enxergar o sofrimento dos animais e aceitei sentir a dor deles, o amor por eles, reconhecendo em mim a vontade de trabalhar para mudar essa realidade.
E por que sentir amor por eles é também sentir dor?
Porque animais de todas as espécies estão sendo explorados pelo animal homem. Nós, humanos, esquecemos que a racionalidade não deveria ser utilizada contra a Natureza, e sim a favor dela.
O bicho homem tem demonstrado ser fraco para vencer o próprio egoísmo, a própria ganância e para resistir ao poder de subjugar seres indefesos. Talvez o bicho homem sinta-se incapaz de progredir por seus próprios méritos, talvez não consiga acreditar que tem talentos a desenvolver para viver às suas próprias custas, sem precisar destruir e dizimar o que encontrou Criado.
Explodir, extrair, explorar as riquezas de nossa Mãe Terra em proveito próprio; atrair, atraiçoar, subjugar, prender e vender animais, vivos ou mortos; utilizá-los como mercadorias para fins de comércio, de experiências dolorosas não consentidas; desviar, poluir, comercializar, desperdiçar as águas do nosso Planeta; desmatar, desflorestar, queimar nossas irmãs árvores.
Tudo isso parece-nos tão longínquo, que pensamos: mas eu não faço parte disso. Será que não?
Eu como carne? Bebo leite animal? Como ovos? Mel? Uso couro, pele animal? Seda? Lã natural? Frequento rodeios, vaquejadas, farras do boi, circos com animais, zoológicos, touradas, aquários? Participo de programas para nadar com golfinhos? E de rinhas de galos, de cães, de canários? Corridas de cavalos?
Os cosméticos e produtos de higiene pessoal e do ambiente que escolho comprar foram testados em animais? Possuem ingredientes de origem animal? Comprei algum animalzinho de estimação?
Se respondi sim a algumas destas questões, então não sou inocente. Sou conivente – talvez por falta de informação – com a exploração de animais. E participo do comércio de vidas, da coisificação do animal.
O comércio mundial de carne assassina trilhões de animais por ano. O número de animais aquáticos também assassinados anualmente nem pode ser computado, tal sua enormidade.
Seja em qual País for, o resultado é o mesmo: carne impregnada de conservantes, antibióticos e corantes (para ter aparência modificada) pois qualquer vida, ao terminar, tem seu corpo em processo de decomposição e isso não é nada bonito, nem saudável, ou apetitoso. A carne seria (e é) repugnante sem a maquiagem química.
O assunto me empolga, porque cada galinha é como se fosse eu mesma. Sinto a dor de cada boi, cada porco, cada carneiro, cada peixe, cada animal dos muitos assassinados diariamente, indefesos e impotentes perante a insensibilidade de seus carrascos e a ignorância ou inconsciência dos que compram seus cadáveres, mantendo ativo esse verdadeiro holocausto.
Vamos redefinir nossos conceitos sobre alguns valores.
Poderoso é aquele que, tendo a seus pés uma formiguinha ou uma lagarta, vence sua cegueira e seus impulsos de esmagá-la e usa seu poder para enxergá-la e poupá-la. O mesmo para aquela mosca ou mosquito ao alcance de um tapa.
Corajoso é aquele que vence suas próprias inibições e temores. É aquele que, frente a um ser vulnerável em situação de risco, tem a coragem de sentir a compaixão e oferecer ajuda. Usa a própria coragem para não enganar a si próprio, fingindo que não viu ou que não pode fazer nada.
Amor é alegria interior. Impessoal, atemporal, é a luz da conexão com o Todo. Não pode ser confundido com insegurança, paixão, interesse, acomodação.
Verdade é aquilo que quando chega ressoa em nosso coração. E emerge, ressurgindo de dentro como uma revelação, um ‘re-conhecimento’.
Feliz é aquele que pode conviver consigo mesmo; que pode fazer contato com sua consciência, com sua alma, tendo-as como mestras e aliadas em seus propósitos.
O homem tem procurado acumular somente bens materiais e torna-se então inseguro, insatisfeito, desconfiado, frustrado. Tem negligenciado acumular os únicos bens que ninguém pode lhe tirar (ou lhe dar): os atos de bondade que distribuiu ao redor de si.
Reverter isso pode ser um bom desafio para se iniciar já.