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Como segue a vida no Parque Nacional de Virunga depois do massacre que chocou o mundo

11 de maio de 2010
5 min. de leitura
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Por Fátima Chuecco (da Redação)

Como segue a vida no Parque Nacional de Virunga,
dois anos e meio depois do massacre que chocou o mundo

A República Democrática do Congo (RDC), um dos países mais pobres e violentos do mundo, ainda guarda em suas florestas um tesouro vivo e de valor incalculável: os gorilas-das-montanhas – os mais dóceis do mundo e talvez, por isso mesmo, também mais vulneráveis à ação nociva do homem. Ao redor das Montanhas de Virunga, vulcão que voltou a eclodir recentemente muitos anos depois de inativo, seis famílias desses gorilas (cerca de 200 indivíduos) continuam sendo monitoradas pelos guardas florestais. Algumas notícias são boas e trazem muita esperança para os preservacionistas… outras nem tanto.

Depois do massacre de cinco gorilas adultos de uma mesma família com tiros na cabeça (o macho líder, um outro macho jovem e três fêmeas), em 2007, os próprios guardas florestais tiveram que fugir da região com suas famílias. O crime foi uma mensagem da Máfia do Carvão que vinha sendo perseguida por derrubar as árvores do Parque dos Gorilas para essa atividade que, embora ilegal, sustenta boa parte da população do país, pois é a única fonte de energia para se cozinhar alimentos.

O crime chocou o mundo e motivou a Unesco a instituir 2009 como o Ano Internacional do Gorila. Somente 15 meses depois do massacre, no início do ano passado, é que os guardas retornaram ao Parque que até então também vinha sendo ocupado por rebeldes contrários ao governo. E tiveram uma grata surpresa: havia cinco bebês. Um milagre levando-se em consideração os diversos perigos com os quais essa espécie convive diariamente: caçadores, agricultores, máfia do carvão, armadilhas para antílopes (que também são ilegais) e doenças humanas (razão pela qual os guardas, apesar de aceitos pelos gorilas, precisam manter uma distância de sete metros).

O comportamento dos gorilas está mudando

O censo feito pelos guardas florestais que apontou um aumento da população também permitiu observar outra novidade e essa realmente espetacular: a família Rugendo, que de seus dez membros perdeu cinco no massacre de 2007, foi vista sendo liderada por dois machos – fato inédito na natureza. Com o assassinato do macho Alfa, imaginava-se que os demais gorilas se separariam e tentariam entrar em outros grupos, mas mantiveram-se unidos e dois machos jovens dividem hoje o cargo de proteger o que restou da família. Um tipo de adaptação inteligente e que prova quanto os laços familiares são importantes entre esses gorilas.

Por falar em comportamento, vale lembrar que os gorilas-das-montanhas não mantêm relações com membros da mesma família como filhos e irmãos. Os filhotes permanecem sob a proteção das mães por seis ou sete anos. A maturidade sexual só é adquirida por volta dos 12 ou 13 anos de idade e cada fêmea só dá à luz um bebê. Essas características tornam mais lenta a reprodução da espécie. Os raros e frágeis filhotes são o principal alvo dos caçadores, que os vendem por até 20 mil dólares. Uma grande perda, pois não se tem conhecimento de gorila-da-montanha que tenha sobrevivido fora de seu ambiente natural. A espécie é muito sensível e dependente do círculo familiar. Gorilas vivos em zoológicos e mesmo a famosa Koko (que se comunica pela linguagem dos sinais e acessa computador) são de outras espécies.

Os novos problemas

Os guardas florestais continuam executando uma tarefa diária de herói nas florestas de Virunga por um salário de 10 dólares ao mês, isto é, quando recebem. Guerrilhas no país muitas vezes impedem que o dinheiro chegue até eles. Nesses dois anos já foram mortos 120 guardas em conflitos com rebeldes ou caçadores. Mas muitos deles se dizem orgulhosos da missão.

Aliás, cada vez mais os congoleses se conscientizam de que os gorilas valem muito mais vivos do que mortos por causa da indústria do Turismo, que já é praticada na vizinha Ruanda com sucesso. Por conta da primatóloga  Dian Fossey (cuja trajetória é contada no filme Na Montanha dos Gorilas), o governo de Ruanda acabou entendendo que a observação dos gorilas por turistas poderia dar mais lucro ao país do que a venda da carne destes. Hoje várias pessoas se embrenham na floresta que faz fronteira com a RDC para ver de perto essas adoráveis criaturas. A renda chega a 30 milhões de dólares por ano.

Pelo menos as seis famílias de gorilas da RDC acostumadas com os guardas florestais poderiam começar a receber turistas, mas eles teriam que enfrentar caçadores e rebeldes de pelo menos duas milícias diferentes. A atividade turística é impossível no momento. Além disso, os preservacionistas precisam de tempo para convencer a população a trocar o carvão pela biomassa, muito mais fácil de ser conseguida e de manejo sustentável. As milhares de pessoas que vivem do carvão também são uma ameaça constante aos gorilas e ao seu habitat natural.

Outro obstáculo é próprio governo corrupto que não tem interesse em práticas turísticas e possui um fraco exército para conter os rebeldes. Aliás, a sede da ONG Gorilla.CD, que protege os gorilas-das-montanhas, fica no meio do fogo cruzado: entre os acampamentos de duas milícias inimigas. Em várias ocasiões as guerrilhas adentraram a floresta onde os gorilas vivem. Recentemente também os chineses têm se instalado no país para extrair diamante. E quem fiscaliza essa atividade de perto? Ninguém. Ou seja, problemas demais e recursos de menos num país que é pobre monetariamente falando, mas que possui um dos mais preciosos tesouros do planeta.

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