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PROCESSO LONGO

Como os ecossistemas se recuperam após um incêndio florestal

24 de fevereiro de 2025
Christine Conte
6 min. de leitura
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Foto: Milos Bicanski / Climate Visuals Countdown

Com o aumento dos incêndios florestais catastróficos em todo o mundo, os ecossistemas danificados conseguirão se recuperar? Evidências históricas demonstram que os ecossistemas podem se regenerar após um incêndio, mas, com a crescente intensidade e escala dessas queimadas, os humanos precisarão intervir para ajudar no processo.

Ao assistir aos devastadores incêndios no sul da Califórnia, muitos se perguntam se os ecossistemas complexos e diversos da região podem se recuperar dessa destruição. A resposta curta é sim. No entanto, o processo não é simples e se torna ainda mais complicado pelas mudanças climáticas.

Estudos sobre incêndios históricos mostram os processos que os ecossistemas passam após incêndios e como isso pode beneficiar a biodiversidade e a resiliência ecológica. Mais recentemente, também ficou evidente que o nosso clima em rápida mudança está alterando as etapas de recuperação, e os humanos podem tanto ajudar quanto prejudicar esse processo.

Sucessão ecológica

O fogo é uma parte natural dos ciclos dos ecossistemas, especialmente em florestas, pradarias e campos, que evoluíram para depender do fogo na criação de diversidade. Após um incêndio, a terra queimada pode parecer, a olho nu, uma cicatriz na paisagem. Para muitas espécies, no entanto, trata-se de uma oportunidade: sem competição por recursos e sem predadores. A falta de competição após um incêndio abre um novo nicho no ecossistema para o aumento da diversidade, promovendo a resiliência — ou a capacidade do ecossistema de suportar mudanças. Esse recomeço é conhecido como sucessão ecológica.

Em 1988, mais de 30% do Parque Nacional de Yellowstone queimou devido a incêndios que duraram semanas. Hoje, visitantes podem não perceber que houve um incêndio, apesar de algumas áreas do parque ainda estarem nos estágios iniciais de recuperação. Isso comprova que a natureza pode se recuperar de catástrofes desse tipo.

As condições da terra após um incêndio — e como será o processo de recuperação — dependem da intensidade do fogo: o quão quente ele queimou e até onde se espalhou.

Nos primeiros dias da recuperação do ecossistema, paisagens queimadas são colonizadas por microorganismos resistentes e plantas resilientes, frequentemente chamadas de “espécies pioneiras”. Para alcançar o solo, esses organismos, sementes e esporos geralmente são transportados pelo vento. No entanto, quanto maior a área queimada, mais longe essas espécies precisam ser carregadas — um fator crucial para determinar o tempo necessário para a recuperação do ecossistema.

Esses primeiros colonizadores utilizam os nutrientes do solo e criam uma camada de solo mais rica, permitindo que, com o tempo, mais plantas floresçam. Após uma catástrofe, os arbustos resistentes e as mudas que compõem o sub-bosque das florestas são frequentemente o primeiro sinal visível de recuperação. Essas espécies geralmente crescem rapidamente e exigem muita luz solar, prosperando em áreas onde não há árvores altas para sombreá-las. À medida que árvores maiores começam a repovoar a área, elas tendem a ocupar as bordas das florestas ou campos.

Os animais só retornam depois que as plantas voltam a crescer, e geralmente os primeiros a reaparecer são pequenos animais de presa. Ambientes com muito habitat e poucos predadores atraem pequenos mamíferos, como ratos, insetos e pássaros. Quando as populações de presas prosperam, os predadores seguem.

Embora todos os ecossistemas estejam em constante mudança, um sinal de que um ecossistema atingiu um ponto de “saúde” é a biodiversidade. Um alto número de espécies ocupando diferentes habitats (ou nichos) dentro do ecossistema indica que ele se recuperou após um incêndio. No entanto, esse processo pode levar centenas ou até milhares de anos.

Mudanças climáticas e incêndios florestais

Com o aumento das temperaturas globais e a intensificação das condições de seca, os incêndios florestais estão se tornando mais frequentes e destrutivos. Os incêndios no Canadá em 2023 queimaram vastas áreas devido às condições cada vez mais secas e quentes. Situações semelhantes foram responsáveis pelos incêndios em Los Angeles e pelo aumento da atividade de fogo nos países mediterrâneos. Embora os ecossistemas possam se recuperar após incêndios, queimadas maiores e mais intensas dificultam esse processo.

Vários fatores influenciam a recuperação, especialmente em incêndios de grande escala que destroem grandes áreas de terra. Quanto maior a destruição, mais longe as espécies pioneiras precisam viajar. Microorganismos e sementes dependem do vento, pássaros ou animais para serem transportados até novas áreas, mas quanto maior a distância da terra não queimada, menor a probabilidade de chegarem às áreas afetadas. Um clima mais quente e seco também dificulta a sobrevivência de novas plantas, reduzindo a capacidade de recuperação e regeneração dos ecossistemas. Isso é especialmente crítico para mudas de árvores, que são altamente vulneráveis.

Impacto humano

A evolução acontece ao longo de gerações, mas as mudanças climáticas já estão aqui. Em outras palavras, os humanos criaram um problema que exige esforço e criatividade humana para ser resolvido.

Para mitigar os efeitos das mudanças climáticas sobre a terra, é essencial melhorar a gestão ecológica tanto antes quanto depois dos incêndios.

Embora os incêndios sejam necessários, eles também são perigosos para as pessoas e economicamente devastadores. Povos indígenas da América do Norte e da Austrália há séculos utilizam queimadas estratégicas como um método prático para limpar áreas para moradia, criar pastagens para animais e estimular o crescimento da vegetação. Com a colonização europeia, essas práticas tradicionais de manejo ecológico foram reduzidas drasticamente. Por um lado, vastas áreas foram queimadas para assentamento, enquanto por outro, incêndios foram suprimidos para proteger áreas de interesse madeireiro. Essa abordagem extrema permitiu o acúmulo de vegetação altamente inflamável.

Somente na década de 1970 as agências federais começaram a adotar a política de queimadas prescritas, também chamadas de queimadas controladas, nas quais autoridades ambientais promovem incêndios planejados em áreas específicas. Essa política visa imitar os ciclos naturais dos ecossistemas, aos quais os povos indígenas se adaptaram tão bem.

As queimadas prescritas seguem a hipótese da perturbação intermediária, que sugere que os ecossistemas precisam de uma quantidade moderada de perturbação para criar novos nichos para diferentes espécies, aumentando assim a diversidade. O desbaste de florestas por meio do manejo madeireiro pode impedir que os incêndios alcancem o dossel da floresta, e a queima controlada da vegetação remove sub-bosques densos e a cobertura do solo.

Após um incêndio, os ecossistemas levam décadas para revitalizar o solo e restaurar a diversidade de espécies. Os humanos podem ajudar nesse processo introduzindo espécies adequadas às áreas afetadas por meio de esforços comunitários de plantio e distribuição de espécies pioneiras benéficas. Isso não apenas aumenta a diversidade e acelera o processo natural, mas também estabiliza o solo, evitando erosão.

À medida que as mudanças climáticas trazem condições mais quentes e secas globalmente, a humanidade precisa aprender com as lições do passado para planejar o futuro. Essas lições podem ser encontradas tanto no conhecimento e práticas indígenas quanto no estudo científico de áreas atingidas por incêndios. Diante da ameaça crescente das mudanças climáticas, devemos apoiar os ecossistemas em sua recuperação, em vez de simplesmente ignorar seus ciclos naturais.

Traduzido de Earth.org

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