Para que chegue a mais países no mundo, o próximo desafio, explica Egger, é aumentar a escala dos sistemas de limpeza, o que exige, claro, mais financiamento. A Ocean Cleanup tem parcerias importantes com universidades e firmas multinacionais. Na Dinamarca, uma grande empresa de navegação ajuda no financiamento de barcos.
Após mais de dez anos de trabalho, a ONG não só gerou impacto na limpeza de oceanos como acumulou dados e estatísticas antes pouco conhecidos sobre a dinâmica da poluição oceânica. Sabedoria essencial, frisa Egger, para que o objetivo final seja alcançado.
— Para se chegar à fonte do problema, é preciso saber de onde vem a poluição e quais os resíduos mais encontrados. É fundamental fornecer essas informações para que autoridades formulem políticas públicas e tomem decisões bem embasadas — explica o diretor da Ocean CleanUp, acrescentando que, nos rios, o lixo mais encontrado é de uso único, ou seja, são produtos descartáveis consumidos pela população local. — Já no meio do oceano, o lixo mais comum é da grande indústria pesqueira. Isso é uma informação nova, que não tínhamos no início.
A ONG também identificou que não há uma concentração acima da média de poluição dos países do Sudeste Asiático, usualmente criticados por suas frágeis políticas ambientais.
— Ouvimos que a maior parte da poluição por plásticos vem do Sudeste Asiático, mas nem sempre é o caso. Na verdade, encontramos muito plástico dos EUA, da Coreia do Sul, da China e do Japão. Esses países têm grande responsabilidade — afirma Egger.
A poluição plástica afeta a população marinha, mas também os humanos, lembra o especialista. Enquanto animais morrem por ingestão de plástico no oceano (não necessariamente devido ao plástico em si, mas por causa dos produtos químicos agregados ao material), estudos revelam a gravidade dos danos para a saúde humana, como complicações cardíacas e cognitivas.
A Cleanup está envolvida nas negociações para a elaboração de um tratado global, mediado pela ONU, para combater a poluição plástica. Egger, que estará presente na próxima mesa de negociação, esta semana, no Canadá, sente-se otimista com as perspectivas.
— É um tratado ambicioso, que pode resolver um problema. É importante garantir que muito menos plástico seja jogado no ambiente. Mas também defendemos que se deve tratar o plástico que já está na natureza. Não só nos oceanos, mas também no continente — afirma o ambientalista, lembrando a importância de se preservar oceanos para combater as mudanças climáticas. — É fundamental que a gente mantenha um ecossistema saudável. O oceano captura CO₂ e produz o oxigênio que respiramos.
Fonte: O Globo