A destruição ambiental causada pelo narcotráfico está ameaçando a preservação de onças-pintadas (Panthera onca) na América Central. É o que diz uma pesquisa liderada pelo professor de geografia Nicholas Magliocca, da Universidade do Alabama, nos Estados Unidos.
O estudo listou as principais atividades do narcotráfico que podem causar mudanças nocivas ao ambiente. Entram nessa lista a expansão da pecuária, extração de recursos naturais e a construção de estradas e pistas para transportar drogas.
Com as políticas de interdição às drogas, os narcotraficantes tentam traçar novas rotas e acabam invadindo áreas ambientais protegidas, além de territórios indígenas. Nesse cenário, a biodiversidade e os locais de conservação acabam ameaçados com a falta de habitat e pela caça.
Na América Central, as áreas protegidas conseguem garantir a sobrevivência das onças-pintadas, que representam o topo da cadeia alimentar de muitos ecossistemas, e conseguem aumentar a população com a ausência humana. No entanto, a falta de presença humana também favorece o estabelecimento de atividades de narcotráfico, que precisam funcionar de forma sigilosa.
Para analisar melhor essa situação, pesquisadores analisaram o que está acontecendo no Corredor Biológico Mesoamericano (MBC), que foi criado após um investimento de US$ 500 milhões. A região se estende do sul do México até o Panamá, e abrange diversas áreas protegidas e corredores de preservação da vida selvagem.
No entanto, a preservação na região não vai nada bem. Nas últimas duas décadas, o MBC teve uma das piores taxas de perdas florestais do mundo. Estima-se que de 14% a 30% do desmatamento na área foi motivada pelo narcotráfico. Além disso, a crescente centralização da América Central como uma rota de circulação de cocaína também ameaça a biodiversidade.
O MBC representa apenas 2% da área terrestre global, e abriga 12% das onça-pintadas do mundo. Os pesquisadores também descobriram que cerca de 69% da população dos felinos no MBC, foram encontrados em áreas “favoráveis” à atividade de narcotráfico — ou seja, isoladas, mas que podem receber obras de infra-estrutura necessárias.
“Eles [os criminosos] conseguem movimentar pessoas, dinheiro e drogas por esses espaços. A mensagem para os formuladores de políticas é que continuar com uma resposta reacionária de perseguir traficantes é ineficaz”, disse Magliocca, em comunicado.
Uma das possibilidades para preservar a biodiversidade e conter organizações criminosas, seria investir diretamente em comunidades locais e indígenas, mais ambientados a estratégias de preservação e gestão ambiental.
Fonte: Um Só Planeta