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DESTRUIÇÃO AMBIENTAL

Como o desmatamento pode ter influenciado o pior desastre ambiental em Sumatra desde o tsunami

Mais de 700 pessoas morreram na ilha indonésia em decorrência de enchentes e deslizamentos de terra provocados por uma tempestade tropical

2 de dezembro de 2025
Renata Turbiani
5 min. de leitura
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Detritos e lixo cobrem as margens do lago Singkarak após enchente em Sumatra Ocidental neste final de 2025. Foto: Getty Images

A agência de gestão de desastres da Indonésia revisou para 708 o número de mortos na ilha de Sumatra em decorrência de enchentes e deslizamentos de terra provocados por uma tempestade tropical nos últimos dias. Este é desastre ambiental mais mortal na região desde o tsunami de 2004.

No Sudeste Asiático como um todo, quase 900 pessoas morreram após as chuvas persistentes, enchentes prolongadas e tufões. Sumatra foi o local mais atingido muito possivelmente em decorrência do desmatamento de suas florestas, segundo especialistas ambientais e autoridades locais.

“Sim, houve fatores ciclônicos, mas se nossas florestas estivessem bem preservadas… não teria sido tão terrível”, disse Gus Irawan Pasaribu, líder do governo local em Tapanuli, à Reuters.

Ele acrescentou que já havia protestado junto ao Ministério das Florestas sobre as licenças emitidas para o uso de áreas florestais em projetos, mas que seus apelos foram ignorados.

O norte de Sumatra, segundo o grupo de monitoramento Global Forest Watch, perdeu 1,6 milhão de hectares de cobertura arbórea no período de 2001 a 2024, o equivalente a 28% da área de floresta. Neste período, Sumatra em geral perdeu 4,4 milhões de hectares de área verde, uma área maior que a Suíça, afirmou David Gaveau, fundador do Nusantara Atlas, um sistema de monitoramento do desmatamento.

“Esta é a ilha da Indonésia que sofreu o maior desmatamento”, disse ele, salientando que o aquecimento global foi o principal fator nas inundações mortais, embora o desmatamento tenha desempenhado um papel secundário.

Em artigo publicado no Climate Change News, Ronny P Sasmita, analista sênior do Instituto de Ação Estratégica e Econômica da Indonésia, um think tank especializado em estudos geopolíticos e geoeconômicos no país, afirmou que o “que se desenrolou [em Sumatra] não foi apenas um desastre natural, mas sim o choque entre um ciclo climático excepcional e uma paisagem progressivamente desprovida de suas defesas naturais”.

Vídeos que viralizaram nas redes sociais mostraram rios transformados em esteiras rolantes de madeira, praias cobertas de troncos e pontes obstruídas por toras arrancadas pela raiz.

“A chuva forte por si só não cria paredes de lama e troncos que desabam sobre as aldeias”, apontou Sasmita. “É a chuva forte que cai sobreum solo que já não consegue retê-la ou absorvê-la. Em muitos distritos afetados, as pessoas relataram que a água chegou mais rápido e com mais violência do que qualquer um conseguia se lembrar, carregando consigo um volume impressionante de árvores e troncos arrancados, que os moradores insistem que não vieram apenas de uma queda natural da floresta.”

Ele complementou que, quando a floresta natural é desmatada, seja para plantações, indústria ou extração ilegal de madeira, o solo fica exposto, a drenagem se altera e as encostas perdem sua integridade.

“Essas práticas destroem a estrutura florestal de maneiras que nem sempre são visíveis até que ocorra um desastre. As políticas governamentais têm desempenhado um papel ambíguo nessa trajetória”, observou.

Em seu texto, ele destacou que, por um lado, a Indonésia assumiu compromissos internacionais para conter o desmatamento e implantou sistemas de alerta precoce baseados em satélite para identificar áreas suspeitas de desmatamento. Mas, por outro lado, a expansão das concessões legais para agricultura, exploração madeireira e mineração permitiu a conversão de vastas áreas de floresta natural.

“Mesmo quando legais, essas transições frequentemente degradam as bacias hidrográficas e reduzem a capacidade natural das paisagens de regular a água”, apontou. “Governos locais, com dificuldades financeiras e falta de apoio político, frequentemente veem as concessões como tábuas de salvação econômica, enquanto a fiscalização contra operadores ilegais permanece desigual. O resultado é um mosaico de pressões legais e ilegais que corroem progressivamente a resiliência ecológica.”

O analista sênior do Instituto de Ação Estratégica e Econômica da Indonésia reforçou que as mudanças climáticas estão se intensificando, os eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes e a combinação de tempestades fortes e paisagens fragilizadas tornará os desastres ainda mais mortais se as tendências atuais persistirem.

“A Indonésia não pode controlar as monções, mas pode controlar a saúde de suas florestas. Proteger as florestas naturais remanescentes em Sumatra deixou de ser apenas uma questão ambiental e tornou-se uma questão de segurança pública e estabilidade nacional”, completou.

Fonte: Um só Planeta

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