A agência de gestão de desastres da Indonésia revisou para 708 o número de mortos na ilha de Sumatra em decorrência de enchentes e deslizamentos de terra provocados por uma tempestade tropical nos últimos dias. Este é desastre ambiental mais mortal na região desde o tsunami de 2004.
No Sudeste Asiático como um todo, quase 900 pessoas morreram após as chuvas persistentes, enchentes prolongadas e tufões. Sumatra foi o local mais atingido muito possivelmente em decorrência do desmatamento de suas florestas, segundo especialistas ambientais e autoridades locais.
“Sim, houve fatores ciclônicos, mas se nossas florestas estivessem bem preservadas… não teria sido tão terrível”, disse Gus Irawan Pasaribu, líder do governo local em Tapanuli, à Reuters.
Floods and landslides on Indonesia’s Sumatra island have left devastating scenes in Tukka village, where residents wade through mud and debris as the death toll rises to 712. pic.twitter.com/M7QkezOci5
— AccuWeather (@accuweather) December 2, 2025
Ele acrescentou que já havia protestado junto ao Ministério das Florestas sobre as licenças emitidas para o uso de áreas florestais em projetos, mas que seus apelos foram ignorados.
O norte de Sumatra, segundo o grupo de monitoramento Global Forest Watch, perdeu 1,6 milhão de hectares de cobertura arbórea no período de 2001 a 2024, o equivalente a 28% da área de floresta. Neste período, Sumatra em geral perdeu 4,4 milhões de hectares de área verde, uma área maior que a Suíça, afirmou David Gaveau, fundador do Nusantara Atlas, um sistema de monitoramento do desmatamento.
“Esta é a ilha da Indonésia que sofreu o maior desmatamento”, disse ele, salientando que o aquecimento global foi o principal fator nas inundações mortais, embora o desmatamento tenha desempenhado um papel secundário.
Em artigo publicado no Climate Change News, Ronny P Sasmita, analista sênior do Instituto de Ação Estratégica e Econômica da Indonésia, um think tank especializado em estudos geopolíticos e geoeconômicos no país, afirmou que o “que se desenrolou [em Sumatra] não foi apenas um desastre natural, mas sim o choque entre um ciclo climático excepcional e uma paisagem progressivamente desprovida de suas defesas naturais”.
Vídeos que viralizaram nas redes sociais mostraram rios transformados em esteiras rolantes de madeira, praias cobertas de troncos e pontes obstruídas por toras arrancadas pela raiz.
“A chuva forte por si só não cria paredes de lama e troncos que desabam sobre as aldeias”, apontou Sasmita. “É a chuva forte que cai sobreum solo que já não consegue retê-la ou absorvê-la. Em muitos distritos afetados, as pessoas relataram que a água chegou mais rápido e com mais violência do que qualquer um conseguia se lembrar, carregando consigo um volume impressionante de árvores e troncos arrancados, que os moradores insistem que não vieram apenas de uma queda natural da floresta.”
Ele complementou que, quando a floresta natural é desmatada, seja para plantações, indústria ou extração ilegal de madeira, o solo fica exposto, a drenagem se altera e as encostas perdem sua integridade.
“Essas práticas destroem a estrutura florestal de maneiras que nem sempre são visíveis até que ocorra um desastre. As políticas governamentais têm desempenhado um papel ambíguo nessa trajetória”, observou.
Video shows the moment a landslide hit Indonesia’s Sumatra Island where heavy rain and flash flooding have killed at least 10 people and left dozens missing. pic.twitter.com/y8dLWLCJkE
— Al Jazeera English (@AJEnglish) November 26, 2025
Em seu texto, ele destacou que, por um lado, a Indonésia assumiu compromissos internacionais para conter o desmatamento e implantou sistemas de alerta precoce baseados em satélite para identificar áreas suspeitas de desmatamento. Mas, por outro lado, a expansão das concessões legais para agricultura, exploração madeireira e mineração permitiu a conversão de vastas áreas de floresta natural.
“Mesmo quando legais, essas transições frequentemente degradam as bacias hidrográficas e reduzem a capacidade natural das paisagens de regular a água”, apontou. “Governos locais, com dificuldades financeiras e falta de apoio político, frequentemente veem as concessões como tábuas de salvação econômica, enquanto a fiscalização contra operadores ilegais permanece desigual. O resultado é um mosaico de pressões legais e ilegais que corroem progressivamente a resiliência ecológica.”
O analista sênior do Instituto de Ação Estratégica e Econômica da Indonésia reforçou que as mudanças climáticas estão se intensificando, os eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes e a combinação de tempestades fortes e paisagens fragilizadas tornará os desastres ainda mais mortais se as tendências atuais persistirem.
“A Indonésia não pode controlar as monções, mas pode controlar a saúde de suas florestas. Proteger as florestas naturais remanescentes em Sumatra deixou de ser apenas uma questão ambiental e tornou-se uma questão de segurança pública e estabilidade nacional”, completou.
Fonte: Um só Planeta