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Como não se brutalizar diante do 'ódio'

20 de janeiro de 2012
2 min. de leitura
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Sentir repulsa ao ler barbaridades praticadas contra animais não é uma questão de escolha, infelizmente. Pois se fosse, seria um alívio, seria um peso a menos na alma.
A grande questão, ao meu ver, é o que fazer com essa repulsa, com esse desgosto absoluto que alguns chamam de ódio. Aí sim, temos alguns caminhos. Mas antes de canalizar essa ‘vontade de destruir’, digamos assim, o agressor, para algo construtivo, devemos nos tornar conscientes do sentimento de dor e repulsa que nos acomete a partir do momento que tomamos conhecimento de um ato de barbárie. E eu, como vegana, refiro-me às vítimas de todas as espécies animais – desde cães e gatos, que sofrem atrocidades de todos os tipos, até os porcos, galinhas, cavalos, vacas e outros animais escravizados, torturados e subjugados pela força humana.
Defender o “não ódio” é negar o que é instintivo. Eu diria que deveríamos aprender a lidar e canalizar esse ódio, reconhecendo-o, olhando de frente pra ele, para que ele não nos destrua, reduzindo o que somos a um estado de espírito fragilizado pela sensação de incapacidade de mudar o que se vê. Diferentemente de negar, de fazer de conta que não estamos intimamente indignados e feridos, eu recomendo pegar o ódio nas mãos e fazer com que ele vire uma faísca de luz. Isso pode vir num choro. Pode vir num texto que sangra. Pode vir num gesto amoroso. Mas algo há de se fazer com esse ódio que instintivamente nos toma, para que ele não estrague o que somos. Negá-lo é fazer de conta, e portanto deixar que ele permaneça em sua forma bruta dentro nós. Ao negar o ódio, estaremos cheios de veneno – ainda que pareçamos serenos e resignados.
Reconhecer o ódio, sem tomar qualquer tipo de ação precipitada ou violenta, nos permite em última instância entrar em contato com a dor de onde nasceu a repulsa. Esse simples gesto, sim, é capaz de devolver à porção podre do mundo alguma luz, alguma paz, quem sabe. E também a nós mesmos, algum alívio, pois o ódio é uma dor elevada à enésima potência querendo curar a si mesma.
Agora, por exemplo, escrevo no calor da dor que eu escolhi não negar. Mas algo se salva nisso tudo: a possibilidade de nos humanizarmos diante da dor que toca a todos da mesma forma, fazendo dela matéria prima do bem, e não do mal.

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